sexta-feira, 23 de abril de 2010

Clube dos imortais

Clube dos Imortais. A Nova Quimera dos Vampiros 
Autor: Kizzy ysatiS
Editora:Novo Século
Páginas: 312
Ano: 2006

 Sinopse: Há 150 anos num baile de carnaval uma dama misteriosa cativa sem querer um jovem pierrot. Esta dama e Álvares de Azevedo serão a causa de uma grande frustração a este jovem. Em São Paulo do século XXI, Luciano um jovem estudante andando sob a forte chuva encontra um gótico acompanhado de um gato negro. Este encontro o fascina e assusta e será apenas um prenuncio do que virá.


Não é preciso ser muito esperto para perceber que o gótico que Luciano encontra é um vampiro e a primeira pergunta que surge, pelo menos para quem vai resenhar, é: no meio de uma grande onda de obras sobre vampiros, será que este é "apenas mais um"?

Logo percebemos que não.

Em primeiro lugar, a ambientação muito bem contruída em uma cidade brasileira como São Paulo faz com que o vampiro se torne um elemento possível e que pode ser encontrado enquanto estamos esperando ônibus após uma balada. E Kizzy ysatiS faz isso muito bem, sem que seja artificial. Ele até brinca com isso, quando a possível vítima reclama que o vampiro só tem 177 anos.

Em segundo lugar, está o jogo da ambiguidade, começando com o baile de carnaval onde nada é o que parece ser, a sala de chat onde góticos fingem ser vampiros e encontram um vampiro que finge ser gótico, o nome "Luar" que não permite de imediato saber se quem está teclando é um homem ou uma mulher e por fim as reviravoltas do enredo, onde não sabemos quem é vítima de quem, até o trágico desfecho, quando percebemos que todos são vítimas.


Os personagens são muito bem construídos, o vampiro, ao mesmo tempo assustador, sedutor e melancólico, obcecado com a busca do "esperado"; a "sibila rubra", uma feiticeira vidente, amarrada ao vampiro por um compromisso de gerações, que é impossível de ser saldado; Luciano, o jovem que hesita entre uma vida medíocre e seu talento artístico; o lobisomem Fausto, com uma real fidelidade canina ao seu mestre.

O livro apresenta três pontos de grande intensidade narrativa: a luta da sibila rubra com o vampiro, o jogo de sedução do vampiro no cemitério da Consolação e a luta final, onde ainda ocorre uma última reviravolta.

Merecem ainda destaque a cena da aparição e exibição do vampiro na casa noturna "Madame Satã" e o ataque dos incúbos e súcubos a uma vítimas.

Como mérito adcional está a narrativa dentro da história do Brasil, envolvendo figuras como a Marquesa dos Santos, Dom Pedro I e II e, principalmente, Álvares de Azevedo e seu personagem Macários.

Como ponto fraco está uma questão de estilo: na tentativa de arcaizar o texto, Kizzy usa uma inversão da colocação dos adjetivos (em vez de cabelos rubros, rubros cabelos). Isso funciona bem em alguns trechos, mas em outros, não, tornando-se por vezes cansativo e afetado. Porém, quando o romance avança, percebe-se que este recurso vai aos poucos sendo abandonado e o estilo tornando-se mais fluido. Como se trata do primeiro romance do autor, o que provavelmente está ocorrendo é uma evolução no seu modo de escrever, ao longo do livro.

Um bom livro sobre vampiros ambientado no século XXI sem que se perca sua aura tenebrosa e ao mesmo tempo sedutora.

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