terça-feira, 13 de abril de 2010

O Fim da Picada

Ficha Técnica


O Fim da Picada
Diretor: Christian Saghaard
Roteiro: Christian Saghaard
Elenco: Ricardo De Vuono, Cláudia Juliana, Sandro Acrísio, Analú Silveira, Thais Pavão, Edu Guimarães
Duração: 80min
Ano: 2008
País: Brasil 

Sinopse: No ano de 1850, Macário participa de uma orgia satânica em uma praia. Ao voltar para São Paulo, passa mal e pede pousada numa taverna. Lá encontra com Exu-Lebara, entidade feminina do Candomblé, associada por Macário a Satã. Ele pede que a entidade o leve à São Paulo. Ela faz o que ele manda, mas em vez de levá-lo à São Paulo de 1850, o leva à São Paulo de 2008.

Aviso: contém spoilers

O filme inspira-se (pouco!) na peça de teatro Macário de Alvares de Azevedo e, como na peça, faz um crítica severa à cidade de São Paulo e a seus habitantes. Em uma das cenas, Lebara-Satã diz "a cidade tem nome de santo, mas ela é minha", indicando ser São Paulo o próprio Inferno.

A intenção de Christian Saghaard foi atualizar Macário, trazendo em uma profusão de imagens e sons, a violência, a miséria e a hipocrisia dos habitantes de São Paulo.

Entre os habitantes, está um favelado que cheira cola e num processo de transformação, que pode ou não ser fruto da sua alucinação ou a de Macário, torna-se o Saci Pererê, que divide o "reinado" com Lebara.

Outro é uma professora de classe média, com um filho pequeno, que segue pela cidade fingindo não ver a violência que a cerca, apesar de, em suas aulas de pré-escola tentar conscientizar as crianças sobre o assunto. Mas mesmo aí não vê que o tema dos desenhos de várias crianças é uma violência crua e até sádica, com decapitações e esquartejamentos.

Outro ainda é a madame que compra carne moída e a come crua na frente do seu cachorro apenas para provocá-lo.

Saghaard abusa das imagens delirantes, com muitos travelings*, inversão de cores, cortes abruputos, sequencias ilógicas, e dos sons que misturam instrumentos musicais clássicos (como cravo e vilolino) com batuques, sons da cidade, funk e rap. Paradoxalmente, muitas das imagens delirantes trazem a tona problemas da realidade de São Paulo.

Merece destaque as referências ao filme de Stanley Kubrick, 2001, Uma Odisséia no Espaço (um armário velho lembra o monolito negro e Macário anda em algumas cenas na cidade vestido com uma roupa que lembra um astronauta, ao som de Assim falou Zaratrustra) e a cena onde a professora perde literalmente a cabeça e a põe de volta, agindo como nada tivesse acontecido. Nota dez para o sorriso cínico do filho da professora (um ator mirim de uns quatro anos).

Outro destaque é para as legendas de abertura do filme. Enquanto os títulos estão passando, o som ao fundo vai preparando o espectador para a primeira cena.

Finalizando os destaques, está a homenagem a José Mojica Marins, mestre do gênero, que "encarna" por alguns segundos o seu personagem Zé do Caixão.

Como pontos fracos há o uso de imagens um tanto óbvias para simbolizar algumas coisas, por exemplo, o Mickey Mouse sequestrando o filho da professora. Outro ponto é o uso sem digerir muito bem de elementos do folclore (o Saci) e da cultura afro (com mil demônios, Christian... Exu NÃO É Satã!). E cansa ouvir a toda hora da boca de vários personagens: "antes, o diabo perseguia os homens, hoje, os homens perseguem o diabo".
Pelo uso constante de alegorias e de imagens e sons delirantes, o filme O Fim da Picada é difícil de ser assistido e tem algumas mensagens difíceis de serem engolidas, (sendo a principal, "o mal é endêmico").
* Quando a câmera é colocada em um carrinho que percorre a cena.

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