sábado, 26 de abril de 2014

Dystopia – Escolha o que de pior pode acontecer a humanidade

Dystopia
Organização: Cândido Ruiz
Autores: Aliah, Tânia Souza, Flavio Medeiros Jr, Gerson Lodi-Ribeiro, Jean Canesqui, Paulo Fodra
Editora: Taberna Selo Editorial (edição eletrônica)

Sinopse: Antologia de contos em futuros distópicos, onde seja onde a realidade futura é retratada de maneira pessimista, com cenários pós apocalípticos ou estados totalitários.

Uma das tradições da ficção científica é retratar o futuro como uma projeção pessimista do presente.  Nesta tradição, insere-se 1984 e Admirável Mundo Novo e no cinema a referência é Matrix. 

Esta antologia procurou reunir seis visões bem distintas de futuros. 

Pizza de Drone-Patinho – Alliah

Alliah retrata o cotidiano de uma caçadora de zumbis, que usa uma foice para este fim. Esta arma tem o mesmo valor do crucifixo para os cristãos, pois foi o instrumento que serviu para a morte do deus Arkhalial cultuado nesta época. A caçadora é muito mal paga pelo que faz, pois na hora que tem fome só tem dinheiro para pedir uma pizza requentada que lhe será entregue por meio de um drome em forma de patinho de banheira. Isso é um sinal de que  teremos um conto recheado com o humor corrosivo de Alliah, sua marca registrada. Divertido e niilista.

Um Beija-Flor de Bronze não gosta de flores cruas – Tânia Souza

Neste conto que podemos classificar como pós-humano, Tânia de Souza conta a história de um caçador de recompensa que deve recuperar informações em chips implantados numa deusa artificial, uma mulher geneticamente modificada e chipada, com poderes telepáticos e premonitórios. O cenário é uma nova Brasília onde todo o tipo de marginal se abriga, em busca de uma suposta liberdade. Emocionante e intrigante.

Monstros Genocidas – Flavio Medeiros Jr

Um planeta está sendo ameçado por um gigantesco devorador de mundos e dois caçadores são chamados para tentar enfrentá-lo. Estes dois caçadores são rivais e em vez de reunirem esforços, brigam pelo privilégio de matar o monstro. Um conto pontuado pelo humor negro, sobretudo no seu desfecho.

Artes de Camaleão – Gerson Lodi-Ribeiro

Num mundo futuro, humanos remanescentes de uma possível catástrofe planetária disputam espaço com alienígenas e prováveis mutantes, oriundos de mundos anteriormente colonizados.

Os humanos sobreviventes teriam sido congelados em um passado remoto e alguns poucos foram descongelados e são discriminados, recebendo a alcunha de “picolés”. Um agente infiltrado busca ganhar confiança num grupo de piratas. Uma boa aventura, com um final surpreendente, embora inconclusivo.

Severina – Jean Canesqui

Severina é uma ativista num futuro distópico onde a humanidade esta dividida em duas camadas: o que vivem no solo e o que estão longe dele e podem desfrutar do espaço aéreo. Muito bom. O autor deixou o melhor para o final da história e um ponto a ponderar: às vezes a fraqueza é sua melhor força e onde reside sua força, pode ser sua fraqueza. 

Iluminação – Paulo Fodra

Nirvana é o estado de iluminação dos budistas e também é o nome de um vírus que afetava implantes neurais no futuro distópico construído por Paulo Fodra. Todavia, como uma vacina, a doença pode ser uma cura.

Conclusão

Todos os contos são muito bons e conseguem retratar muito bem futuros distópicos por eles construídos. Percebe-se mesmo nos contos que não tem esse ponto como mote, a presença marcante de humor, quer nas falas dos personagens, quer nas descrições das situações. É como se os autores nos dissessem: se tudo está ruim, é melhor rir.

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Dystopia. Taberna Selo Editorial.

sábado, 5 de abril de 2014

Neblina e a Ninja


Neblina e a Ninja
Autor: Miguel Carqueija 
Editora: auto publicação no Recanto das Letras
Ano: 2013
70 páginas.


Sinopse: Num futuro longínquo, a humanidade, após ter destruído a biosfera, vive em subterrâneos. Neste mundo a produção de energia é vital. Ela é obtida a partir de cristais que, instalados em torres altas, retiram energia solar a partir da superfície contaminada. 

Neste ambiente, o poder está ligado ao controle destes cristais e roubá-los é o objetivo do crime organizado.

Para combatê-los o governo tem um programa que treina jovens superdotados para desenvolverem suas habilidades especiais e tem também um treinamento intenso em artes marciais. Para se protegerem, estes jovens usam disfarces. Entre eles está Neblina, uma moça esperta, inteligente e hábil. Ela é convocada para ajudar nas investigações de um assassinato de um diplomata romeno, para desespero da polícia local – eficiciente pra lidar com o dia dia a dia, mas incapaz de lidar com algo muito maior. Este crime é a ponta do iceberg, pois quem está por trás das operações é uma vilã extremamente inteligente e cruel, a Ninja.

Carqueija, como sempre compõe duas grandes personagens femininas, Neblina e sua sombra, a Ninja, que vão se enfrentado num ritmo cada vez mais intenso até o desfecho final, onde o autor mostra seu maior talento: uma precisa descrição de cenas de ação, com direito a uma luta corpo a corpo digna de filmes de artes marciais.

Os personagens secundários também merecem uma atenção especial do autor, sobretudo os policiais  que inicialmente fazem oposição a Neblina, vendo-a como intrometida, depois pouco a pouco vão aceitando-a como parceira. Aliás, Carqueija faz com que a entrada em cena dela seja realmente uma intromissão, fazendo com que o leitor num primeiro momento até dê razão aos policiais. Junto a isso está a forma de agir da heroína, que em vários momentos resolve agir sozinha, correndo vários riscos, para desespero de Madeira, o chefe das operações.

Além de enfrentar a oposição de Madeira e seus homens, Neblina tem como outro obstáculo a incompetência do Primeiro-Ministro Darci, apelidado de Jujuba, que administrou mal a construção das torres de energia e a sua segurança, usando medidas paliativas estúpidas que acabaram favorecendo os vilões e meteu os pés pelas mãos na solução do problema.

Dizer mais é dar spoiler. A noveleta é muito boa. Só senti falta de algo que levasse o leitor sentir um pouco da claustrofobia de um ambiente subterrâneo. Certamente se houvesse mais disso, o nível de urgência em combater os vilões ficaria um pouco maior. Mas isso não tira o brilho da narrativa.

Uma leitura bem divertida, cheia de emoções e reviravoltas. 

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Gratuito para baixar, no Recanto das Letras