Uma História de Amor e Fúria
Direção:
Luiz Bolognesi
Roteiro:
Luiz Bolognesi
Direção
de Arte: Anna Caiado
Elenco
(vozes): Selton Mello, Camila Pitanga, Rodrigo Santoro, Bemvindo
Sequeira, Marcos Cesana e Sérgio Moreno
Sinopse:
Um Guerreiro Tupinambá, em reencarnações sucessivas, luta para
salvar seu povo e reencontrar seu amor, a índia Janaína, em quatro
momentos, numa batalha contra os portugueses; no século XIX, durante
a balaiada; nos anos 60 e 70, na ditadura militar e em 2096, numa
rebelião futura contra o controle da água doce no Rio de Janeiro.
Luiz
Bolognesi concebe esta história a partir da visão mitológica
indígena. Assim, a reencarnação do guerreiro se dá através de
uma dádiva, presente de um dos seus deuses. Assim, ele se transforma
em um pássaro uirapuru a cada morte ou momento de grande perigo e o
encantamento é quebrado assim que Janaína ouve seu canto. O vilão
é uma entidade mistica chamada Anhangá, um demônio de contornos
cosmológicos, que se alimenta da morte e destruição, mas não
mostra a sua face, preferindo usar como intermediários alguns
humanos. Podemos apenas reconhecê-lo pelo rastro de destruição que
deixa.
Outro
ponto de vista que é levado em conta é o dos derrotados, uma visão
normalmente excluída da história oficial (contada do ponto de vista
dos ganhadores).
Declarações do Diretor para a Revista do Cinema Brasileiro
Assim,
no primeiro episódio, tomamos contato com a estratégia dos
portugueses, qua acabou por dizimar os Tupinambás. O diretor não
idealiza o indígena, pois mostra também que eles tem suas brigas
internas pelo poder e não esconde nem minimiza o canibalismo dos
Tupinambás. Neste episódio, aparece a primeira frase que pode
definir o filme: “Viver sem conhecer o passado é andar no
escuro”.
No
segundo, temos uma visão diferente do Duque de Caxias, responsável
pela organização do exercito brasileiro, mas que tem justamente sua
primeira ação durante a balaiada. E ela é contra o povo brasileiro
e não uma resposta a uma ameça externa. Aliás este é o episódio
mais emblemático dos quatro contados, já que a balaiada, além de
fazer surgir o exército, fez surgir seu contraponto, o cangaço,
segundo a visão de alguns historiadores, compartilhada por Luiz
Bolognesi.
No
terceiro, coloca a ditadura militar contrapondo com o idealismo dos
guerrilheiros e a posterior formação do Comando Vermelho, a partir
do contato de marginais com os presos políticos. Aqui aparece a
segunda frase: “Meus heróis não viraram estátua, morreram
combatendo os que viraram”.
No
quarto e último episódio são colocadas em foco algumas tendências
para um futuro distópico: milícias paramilitares particulares
legalizadas, valorização da água como recurso e a sua escassez
gerada justamente pela sua super-exploração e controle por parte de
uma elite. E, consequentemente, uma resistência. E aqui, a terceira
frase que define o filme: “Mesmo sem perceber todo dia a gente
está lutando por alguma coisa”.
A
animação está muito boa, mostrando esmero com qual a produção
foi cuidada e o talento e habilidade dos seus criadores e executores.
Nela percebe-se claramente algumas influências (que Luiz Bolognesi
mesmo aponta): quadrinhos europeus, produções americanas (Disney,
por exemplo) e estrutura de animês (o uso de pouca movimentação
sem perder a dramaticidade da cena).
Trailer
Percebe-se
também uma variação principalmente no colorido e traços no
ambiente da narrativa, como se cada uma das quatro histórias
representasse uma fase diferente do herói, dando a impressão que ele evolui ao
longo de seus 600 anos.
Em
suma, uma excelente animação, com uma excelente história, que nos
faz, principalmente pensar em nossa própria história (a nacional e
a pessoal).
Qual
é a sua luta?