Autor: Silvio Alexandre (org.) e outros 18 autores
Editora: Terracota
Ano: 2009
160 páginas
Sinopse: Em homenagem aos 50 anos do seriado Além da Imaginação, Sílvio Alexandre buscou em 18 contos de 18 autores diferentes recriar o clima do seriado.
A série foi criada por Rod Serling e teve uma repercussão muito grande na época, ecoando ainda hoje, pois influenciou e continua influenciando muitos autores de fantasia, horror e ficção científica.
Além da imaginação
Será que o desafio foi vencido?
O livro começa muito bem, com o conto “Blade Zone”, de Andrea del Fuego. Andrea, como sempre brinca (muito bem) mais com a linguagem que com o enredo, criando um conto metalinguistico onde o personagem conduz o autor. Isso é feito de uma maneira inteligente, com diálogo intenso através do texto. Um conto excelente.
A seguir, “O homem que perdeu seu reflexo”, de Bráulio Tavares. Um magnata das comunicações procura vingar-se de seu desafeto da maneira mais ampla possível, ultrapassando a morte. O inusitado colocado de forma sutil está muito de acordo com o clima da série. Nota dez.
Cláudio Brites opta por dar uma coloração nacional ao colocar um personagem narrador que fala o linguajar de alguém sem muita cultura, mas com a sabedoria do povo. Uma história de terror clássica, que ainda cabe dentro espírito da série, se bem que os melhores episódios fossem de um terror mais sutil. Ainda assim, um bom conto.
“A cápsula”, de Cláudio Villa é um conto de FC puro, que tem como o ponto de partida o encontro de um artefato antigo vagando pelo espaço com uma mensagem esperançosa sobre o povo que o produziu. Mais um ponto a favor.
Danny Marks em “Limites” nos leva mais uma vez ao terror clássico, numa história de casa mal assombrada. O ponto original do autor está numa pequena reviravolta no conceito de “limite” operado na mente da personagem principal.
Em “O Haiti é aqui”, Fábio Fernandes cria uma fábula de FC sobre racismo, invertendo os papéis discriminador-discriminado. Um bom conto.
Giullia Moon em “No céu, um bater de asas” nos conta a história de um camelô que tenta proteger dos males do mundo uma menina que o acompanha. O jogo de sutis inversões cria um conto sublime e ao mesmo tempo aterrorizante, bem dentro do espírito da série.
“O demônio está chamando”, de Jana Lauxen, é um conto humorístico, onde um sujeito muito preguiço é tentado por telefone, para justamente continuar a não fazer nada. Apesar do humor ser raro na série, fazia parte de seu contexto. E o conto é bastante divertido.
“Dormindo com o inimigo”, de Luís Felipe Silva, é um conto “survivalista” onde o último homem em um futuro pós-apocalíptico, encontra-se com a última mulher. Mas ambos estão esquecidos do passado da humanidade. Uma boa FC, onde muitas vezes o cenário futurístico e reminiscências de uma tecnologia são colocados de uma maneira sutil.
“O último crepúsculo”, de Márcia Olivieri, e outro conto que trata do futuro da humanidade como espécie. Colocado na forma de um relatório, o conto, embora com uma premissa muito boa, não chega a empolgar. É o mais fraco até aqui.
Mário Carneiro Jr nos traz em “Um estranho incidente noturno” uma coisa bastante comum na série Além da Imaginação: uma pessoa comum diante de um fenômeno incomum, que não entende. Um rapaz acorda no meio da noite e encontra um ser em sua cama. Um excelente conto.
“Hábito Noturno”, de Max MallMann, volta a ser um conto onde o humor predomina (dá até a impressão que foi inspirado em uma piada sobre o Batman), muito bom, porém, na minha opinião foge um pouco ao espírito da série, pois os fatos narrados não são insólitos, mas apenas inusitados.
“A ponte”, de Miguel Carqueija conta a história de Priscila, uma moça comum, que em viagem a uma cidade litorânea é surpreendida por um fog à noite e é perseguida por alguém que quer atacá-la. A perseguição segue com alterações do cenário levando a um final insólito. Por uma questão puramente estilística, eu preferia eliminar o último parágrafo, deixando a dedução final para o leitor.
“Armagedon em Madureira”, de Octávio Aragão, faz uma boa mistura entre humor e terror e faz algumas citações inclusive a um dos episódios. Uma dona de casa enfrenta uma revolta dos eletrodomésticos. Muito bom.
Em “A Herança”, de Regina Drummond, uma moça herda de sua tia um apartamento repleto de plantas. Horror clássico. Muito bom.
“Apenas Sonhos”, de Shirley Souza, nos traz uma história de uma moça que descobre ter controle sobre seu universo sonhado. Um bom conto. Outro que eu suprimiria o último parágrafo.
O livro fecha com uma história em quadrinhas, roteirizada por Bráulio Tavares e desenhada por Cavani Rosas. O texto brinca com a semelhança entre ratos e morcegos. Os desenhos de Cavani são primorosos.
Do ponto de vista da qualidade dos textos e da homenagem ao seriado, podemos dizer que Silvio Alexandre conseguiu seu intento. Um boa literatura tanto para quem conhece o seriado com para quem nunca o viu.