quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dimensões.Br


Dimensões.Br
Autor: Helena Gomes (org.)
Editora: Andross
Ano: 2009
Páginas: 318

Sinopse: Antologia de contos que tem em comum histórias fantásticas ambientadas no Brasil.

Tem se comentado muito entre escritores, sobretudo estreantes a validade ou não de participar de uma coletânea, sobretudo por aqueles que já ouviram muitos nãos e desejam ver seus trabalhos impressos. Há várias modalidades: financiadas pelos autores, em cooperativa, bancadas pelos editores e por aí vai. Alguns condenam a indústria dos livros de encomenda.

Pretendo não entrar nesta seara, um terreno por demais pantanoso, porém algo precisa ser ressaltado: a presença do editor. Se há um bom editor cuidando da antologia, não só para encher as cotas, mas para uma seleção criteriosa, pode-se esperar um bom resultado.

Tal é o caso deste volume. Há a presença de um bom editor: Helena Gomes, conhecida autora de Fantasia, que deu as coordenadas do volume e fez a seleção dos textos.

Todos os autores que se candidataram deveriam escrever dentro do universo de literatura fantástica (horror, fantasia e ficção científica) alguma história que tivesse alguma coisa a ver com o Brasil: o cenário, os personagens, o linguajar. Trata-se de tentar curar a “síndrome do capitão Barbosa” , ou seja, o medo de colocar personagens ou cenários brasileiros numa história de ficção científica, horror ou alta fantasia (embora um mundo seja todo construído, nos lembra a Idade Média europeia). Isso me lembra uma vez um jornalista comentando um festival de música popular latino americana: embora todos estivessem cantado em castelhano, “os arranjos estavam todos em inglês”.

Os autores tiveram que fazer alguns exercícios: resgate de mitos indígenas ou africanos, trazer o fantástico para um cenário rural tipicamente interiorano, criar um cenário futurista ou um mito urbano em uma grande cidade brasileira. A maioria dos autores conseguiu dar uma resposta ao desafio, porém não com a mesma qualidade.

Apesar de haver uma seleção e de um esforço editorial louvável, o livro é irregular, com algumas pequenas obras primas ao lado de contos apenas medianos. Alguns altores são principiantes e estão na coletânea mais pelo seu potencial que ainda precisa ser trabalhado. A irregularidade fica por conta do tamanho excessivo da coletânea, 55 contos (ainda que curtos), com algumas temáticas que se repetem, às vezes dizendo a mesma coisa, ao longo de mais de 300 páginas. O que acaba cansando muitos leitores. Uma obra mais enxuta, talvez agradasse mais, mas talvez não abrisse algumas portas. Um compromisso entre os autores e leitores difícil de equacionar, mas que mereceria ser revisto.

Todavia, no todo, o livro merece ser lido e apreciado, tanto pela qualidade de alguns textos, como pelo esforço de alguns autores novos em “dar a cara pra bater”. Se o texto não estiver lhe agrandando, pule para o próximo conto. A há leitura para todos os gostos. Os textos transitaram pelo humor (A fada madrinha e o feitiço da indecisão, Gigante e A olho nu são três bons exemplos), pelo poético (Alem da Terra sem males; Doces Sonhos), ficção científica (Crisantêmosilicone; Lucas, o Menino Binário), lendas indígenas (A lenda do Curupira e do Boitatá, O Mito de uma Lenda), terror (Quando sonhos se tornam pesadelos, Até a primeira caçada), contos de amor e morte (Para sempre, Doces Sonhos), só pra citar alguns exemplos.

E viva o capitão Barbosa, e seu imediato, o Curupira!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Guerra nas Estrelas e o Orgulho Nerd

25 de maio de 1977 começava a saga de Guerra nas Estrelas.


Cartaz da Estréia de Guerra nas Estrelas


Em 1977 a ficção científica estava dominada por filmes cabeça, ainda no rastro de 2001, Uma Odisseia no Espaço e aparentemente nada de novo ameaçava surgir nas telas do cinema. Um diretor desconhecido do grande público, George Lucas ousou inovar. Ele já havia feito o elogiado THX 1138, que quase ninguém vira, um distopia aos moldes de 1984. Essa experiência fez com que ele pensasse de outra forma: a maioria as pessoas não querem ir ao cinema para terem dores de cabeça ao serem confrontadas com visões funestas de futuro. Elas querem principalmente se divertir. 


THX 1138 - Excelente distopia

Entretanto não era uma simples diversão que ele buscou em Guerra nas Estrelas. Seu projeto foi longamente construído, até se transformar na saga de seis episódios que conhecemos hoje. Sua preensão era ser, como ele confessou em uma entrevista incluída na série The Power of the Mith, um forjador de uma nova mitologia. 

Fã da psicologia Junguiana e do trabalho de Joseph Campbell, Lucas buscou em mitos que vão desde mitos gregos e romanos, passando pela a saga arturiana, histgórias de samurais, batalhas da segunda guerra mundial e temperou com a ascensão e queda de vários impérios, começando pelo romano. E convidou Campbell para ser seu consultor. Aliás, Campbell é o entrevistado em The Power of The Mith, e o programa foi feito no rancho Skywalker.


 I am your father

Guerra nas estrelas segue passo a passo a construção do Mito do Herói, descrito em por Campbell em O Herói de Mil Faces. Luke é o herói típico, que tem um destino maior que ele mesmo, que às vezes o aceita às vezes nega. Obi-wan representa o velho ancião (o "mestre palpiteiro"); a Força, o eterno devir, ou Yn Yang, o Tao, "o bafo do Dragão"; Darth Vader, o Sombra - a outra face do Herói que ele tem que derrotar para superar o grande mal (o Imperador ou o lado negro da Força). Lea é o Ânima, o lado feminino do herói, Hans Solo o companheiro "ladrão" do herói que pode "fazer o trabalho sujo", que o herói, por ter que ser perfeito, não pode fazer (roubar, ter contatos com o submundo, seduzir, enganar, etc..) e Chewbacca, o instinto animal. 


Quem foi ao cinema estranhou que a saga começava pelo episódio IV. Consta que a ideia foi de Campbell, para que houvesse um forte impacto quando Luke descobrisse que seu pai era Darth Vader. Quando um jornal da época (acho que foi a Folha de São Paulo) fez uma matéria sobre a pré estreia do filme, o colunista quase deu o maior spolier da História. Conhecedor da psicologia junguiana, o articulista fez uma analise detalhada sob este aspecto do filme e disse (segundo me lembro) algo como "não será surpresa quando se descobrir quem é Darth Vader". Um detalhe: Darth Vader significa "pai negro". Fico pensado hoje se algum nerd da época descobriu isso. Se existisse a internet... 


O fato de não ser uma ficção científica "cabeça" rendeu algumas críticas à saga, como sendo feita de filmes "rasos", "apenas diversão". Se for apenas diversão, que seja! Fazer algo divertido é que buscava Shakespeare ao escrever suas peças. Ser divertido não significa que o filme é vazio de conteúdo. Eu pergunto: um filme que mexe com um inconsciente coletivo pode ser um filme "raso"?


Jornada nas Estrela - Indo aonde nenhum homem jamais esteve 
Outro motivo de orgulho nerd


Raso, largo ou profundo, George Lucas conseguiu seu intento. Com o suporte de Campbell até O Retorno do Jedai (Campbell morreu pouco antes do término das filmagens), Lucas conseguiu construir um Universo próprio e pos no ar uma nova mitologia, colocando-se ao lado de Homero, Hesíodo, Virgílio e Camões. Sua atitude contribui para que se consolidasse também outras mitologias, como Star Trek (que já tinha uma legião de fãs, mas nenhum filme no cinema) e O Senhor dos Anéis


 
O Senhor dos Anéis 


Nada mais justo que considerar 25 de maio o dia do orgulho nerd! 

domingo, 23 de maio de 2010

A Guardiã da Meia Noite

 
A Guardiã da Meia Noite
Título Original: The Midnight Guardian
Autor: Sarah Jane Stratford
Editora: Planeta
Ano: 2010
Páginas: 332

Sinopse: Uma mulher, Brigit, transporta de trem duas crianças, Alma e Lukas através da Europa, partindo a Alemanha à Inglaterra. Tudo normal. Se não fosse em plena 2ª Guerra Mundial, as crianças não fossem judias e a mulher não fosse um vampiro.

Qual a motivação da vampira? Por que se arriscar por duas crianças humanas? Sarah mantém estas perguntas em suspense, gerando um bom romance de aventura e mistério, mais do que de horror. Os perigos estão bem colocados. Os Nazistas pretendem liberar o mundo de tudo o que consideram anormal: homossexuais, negros, judeus e... vampiros. Para poder atuar, treinam, com auxílios de experientes caçadores irlandeses, uma tropa de caça-vampiros.

A autora inova ao colocar o conceito de “vampiro milenar”, um grupo seleto de vampiros que tem mais de mil anos e como característica principal é serem imunes à maioria das armas que podem matar um vampiro comum. Cinco milenares decidem combater os nazistas, motivados inicialmente em autopreservação, porém pouco ao pouco ao conhecerem a face mais cruel do inimigo, passam a defender valores humanos ou valores dos humanos.

Outra inovação da autora: os vampiros têm dentro de si um demônio simbionte que os motiva a buscar sangue e em troca lhe dão poderes excepcionais.

Brigit tem um companheiro, Eanon, um vampiro não milenar, com quem tem uma forte ligação telepática e que, apesar de estarem separados (não sabemos a razão até perto do final), é capaz de, por meio da música, transferir seu poder para ela, fazendo verdadeiros milagres, como um coração morto bater.

Mas o tour de force de Sarah está na maneira de contar a história. A autora divide os capítulos em várias linhas de tempo, obrigando o leitor a montar um quebra cabeças, nem sempre acertando os encaixes, o que causa algumas surpresas ao longo do romance, respondendo cada uma das perguntas que vão aparecendo, mas sempre deixando uma pontinha de dúvida, até o final da trama.

Em suma, um bom livro sobre vampiros, inovador e com  suspense na dose certa

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Os paradoxos do horror




O menino assustado não desgruda os olhos da TV. A mãe sabe que ele terá pesadelos e o chama para ir deitar, mas ele se recusa. Quer ver até o final.

Esta cena parece comum. Lembramos que nós mesmos poderíamos ser aquele menino e mesmo hoje ainda nos assustamos com um ataque do Alien, ou sentimos calafrios a ver A Hora do Pesadelo ou sentimos a sensação de suspense ao ver um episódio de Além da Imaginação, ainda que tenha efeitos especiais extremamente toscos.

Diante desta constatação, surgem duas perguntas básicas:

Por que sentimos medo, suspense ou angustia diante de uma história que sabemos ser falsa?

Por que procuramos este tipo de literatura ou cinema, se sabemos que ela nos causará algum tipo de desprazer?

O fato de se existir histórias de terror e horror desde quando um homem de Cromagnon assustou seus companheiros de caverna aumentando um pouco o tamanho do tigre de dentes de sabre que o perseguiu, nos mostra a solidez deste gênero de histórias.

Tenho lido ou visto ao longo de minha vida vários livros e filmes que de uma forma ou outra se enquadram nestes gêneros. Também tive contato com várias teorias que tentam explicar este tipo de fenômeno, desde obras de filosofia e psicologia a prefácios de livros deste gênero de literatura. O que não me torna uma autoridade no assunto, mas pelo menos um leitor bem informado. E nesta categoria é que pretendo discorrer.

Uma das respostas possíveis à primeira pergunta é "a suspensão temporária da realidade", que ocorre em qualquer obra de ficção. Se assim não fosse, não poderíamos lidar com nenhum tipo de ficção, pois sequer riríamos de uma boa piada...

Esta suspensão não é plena, pois sabemos que se fecharmos o livro ou mudarmos de canal o monstro não estará mais ali (do contrário, seríamos sérios candidatos a uma consulta ao psiquiatra).

Como parte ou complemento desta suspensão, temos a identificação com os personagens (o herói, a vítima, o narrador ou até o monstro). Muitas vezes nos surpreendemos nos dizendo "isso poderia estar acontecendo comigo".

Apesar desta identificação, o nosso sentir muitas vezes não é o que o personagem pode estar sentindo. O detetive, no encalço de um assassino, passa por várias emoções, mas nunca o suspense (esta é uma emoção típica de um espectador, que às vezes sabe mais que o personagem). Mas outras, como o medo, a repulsa, alguns tipos de susto e o desejo sexual podem estar ligados diretamente ao personagem ao qual nos identificamos.

Isso parece ter respondido à primeira questão.

Entretanto, a literatura que explora o suspense, o terror ou o horror lida com emoções profundamente negativas. Será que nós, leitores de Drácula, somos todos masoquistas?

Claro que não!

Podemos elencar alguns motivos pelos quais nos aproximamos de uma obra deste estilo.

Fuga da vida moderna. Nosso corpo e nossas emoções estão preparadas para uma vida nas selvas, onde podemos ser vítimas ou predadores durante nossa busca pelo alimento. Porém estes problemas foram resolvidos e em vez de correr atrás do antílope ou fugir do leão, vamos ao mercado e compramos um bife e o único leão que enfrentamos é o do imposto de renda. Todavia sentimos falta desta vida pela qual fomos preparados ao longo de milhões de anos e buscamos isso nos livros e filmes de suspense e terror.

Experiência de transcendência. Esta é a tese de Lovecraft. Um bom enredo de horror nos coloca frente a frente com nosso medos primais, a ponto de termos a mesma experiência de um homem primitivo diante dos fenômenos da natureza. O racionalismo nos tira o medo do trovão que um homem das cavernas teria, mas ao empregarmos "a suspensão temporária da realidade", podemos atingir este mesmo estágio e termos o medo primal diante de Cthulhu ou outro monstro similar.

Rito de passagem. Uma boa parte dos filmes de terror e horror é voltada para o público adolescente, que quer provar para o seu grupo que tem coragem e demonstra isso comentando detalhes mais sanguinolentos de Sexta Feira Treze. Há um episódio de Doug onde isso é mostrado. Ele se sente inferiorizado frente a seus amigos por ter fechado os olhos no momento em que o monstro aparece na tela. Um outro bom exemplo são os "testes" do Zé do Caixão, onde ele fazia os candidatos a ator passar por experiências do tipo "comer minhoca" e só "os mais fortes" eram aprovados...

Catarse de emoções reprimidas. Nossa sociedade, além de resolver nossos problemas de sobrevivência, em contrapartida nos coloca uma série de restrições de ordem moral, a maioria das vezes arbitrária. Então, alegoricamente, nos recorremos a uma boa história de terror pra por pra fora esta repressão. Dentre estas restrições, a mais evidente é o sexo. O ato de penetração passa a ser os dentes do vampiro no pescoço da mocinha. Ou então a violência. Em vez de dar uma surra no meu vizinho inconveniente, torço pro herói matar o monstro na tela do cinema.

Trama complexa de mistério e descoberta. A maior parte dos enredos deste tipo (mesmo Sexta Feira Treze) envolve um problema que precisa ser resolvido, atingindo não mais nosso troglodita, mas o homem civilizado, que se encanta em resolver um bom mistério. Um bom exemplo é O Médico e o Monstro, onde só sabemos que o Médico e o Monstro são o mesmo ser nos últimos parágrafos da trama.

O suspense em si mesmo. Gostamos de torcer pelos personagens que estão passando por apuros e que não estão vendo que o assassino com a faca na mão está atrás da cortina. Isso está ligado á nossa capacidade de empatia, que nos permite ser solidário diante da dor do outro.

Identificação com o herói. A maioria de nós tem uma série de limitações de ordem física (somos fracos, feios ou carecas) ou externas (moro num "apertamento" minúsculo) que o herói não tem. É lógico que ele tem um monstro por dia pra matar, mas, e daí? Ele vai ficar com a mocinha no final... Então, por umas duas horas posso ser ele.

Identificação negativa. Às vezes nos identificamos não com o herói, mas com a vítima (que sofre alegoricamente o mesmo que sofremos no dia a dia) ou com o monstro, que após alguns maus bocados percebemos que ele é uma vítima da sociedade repressora como nós somos. É caso de King Kong (vítima da ganância) e do monstro de Frankstein (rejeitado pelo seu criador).

Efeito montanha russa. A montanha russa nos leva a uma situação de perigo aparente e depois de concluída, dá a sensação de alívio. Ao vermos um filme ou lermos um livro de terror ou horror ficamos aliviados ao saber que aquilo era apenas uma história. É o mesmo que calçar um sapato apertado pra depois ter o prazer de tirá-lo.

Alegoria sociológica ou política. Podemos usar o ambiente de um filme de horror para criticar ou exaltar a sociedade em que vivemos (o já citado King Kong, Jurassic Park, algumas histórias de zumbis, como Fido).

Estes foram os motivos que eu elenquei. Com certeza não são todos, mas são bem representativos. E quais são os seus motivos? Mas não racionalize muito, do contrário talvez o próximo livro ou filme de terror que você for ler ou ver não pareça tão interessante...


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Fúria de Titãs

Fúria de Titãs

Título original: Clash of Titãs
Elenco: Sam Worthington, Pete Postlethwaite, Mads Mikkelsen, Gemma Arterton, Alexa Davalos, Ralph Fiennes, Liam Neeson.
Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Travis Beacham e Phil Hay
Duração: 106 min
Origem: Inglaterra/EUA

Sinopse: Refilmagem do clássico de mesmo nome de 1981. Perseu, ao ver seus pais adotivos morrerem em consequencia de um ataque de Hades, revolta-se contra os Deuses, porém ignora sua verdadeira origem. Na verdade é filho de Zeus e embarca numa aventura para destruir Kraken, um monstro libertado por Hades para destruir ou Argos ou sua princesa, Andromeda, se ela fosse lhe dada em sacrifício.

O filme é retirado da mitologia grega, explorando o mito de Perseu e sua luta contra a Medusa.

Trailler

 

Já na sinopse se percebe os problemas do filme. Em primeiro lugar, desde quando Kraken é da mitologia grega? Que eu saiba, ele é da mitologia nórdica...

A razão para a escolha é que ele seria mais assustador que o monstro da lenda original, Cetus, um gigantesco peixe (cetus deu origem a palavra “cetáceo”, classe de animais da qual faz parte a baleia).

Outro problema está na escolha de Hades como vilão. Ele foi escolhido, porque simplesmente é o senhor do Inferno, fazendo ele se tornar muito próximo da figura de Satã, o príncipe das trevas da mitologia judaico-cristã. Isto o afasta da versão de 1981 (onde o vilão é Calibus, filho de Cassiopéia) e do mito grego, onde Hades é seu aliado, dando-lhe uma das armas fundamentais para seu sucesso (um capacete que o torna invisível). Aliás, é lamentável também tanto a ausência destas armas como da sua principal aliada, Atenas. O desprezo pela mitologia, como pelo filme orignal, é bem caracterizado quando Perseu na versão de 2010 encontra a coruja metálica (fundamental no filme de 1981) que é simplesmente jogada fora...

Pode-se argumentar que não precisamos ser fiéis ao mito para fazer um bom filme. Concordo. Se o resultado for bom. Neste sentido, um quase-acerto do filme foi trocar a motivação de Perseu – que no mito original e no filme de 1981 faz tudo simplesmente pelo espirito de aventura ou por sua paixão pelas mulheres (sua mãe, Atenas e Andrômeda). Na nova versão ele faz tudo em nome de uma revolta contra os Deuses, de quem os homens estão fartos de serem manipulados (e estão igualmente revoltados, dispostos a lutar contra isso).

Atenção, spoiler!

Por que um quase acerto? Porque Perseu a partir de um certo ponto passa a ser ajudado secretamente por Zeus, e, após ter concluído sua missão, aceita sua origem divina, numa clara tentativa de dar novamente uma conotação cristã à história, tangenciando a história de Perseu à de Cristo, de uma maneira muito artificial.

Outra presença espúria, se bem que bem vinda, pois humaniza um pouco o herói, é Io, uma mortal tornada imortal pelos caprichos dos Deuses, que acompanha o grupo amenizando o cenário agressivo da jornada.

Como aspectos positivos, pode-se destacar a aventura em si e as lutas contra os monstros: Calibus (que na versão samba-do-crioulo-doido de 2010 é Acrisio, o esposo traído da mãe de Perseu), os escorpiões gigantes, a Medusa e o Kraken.

Referências

Ao filme original: a cena de abertura, onde se começa a contar a história pelo céu, o caixão onde Perseu e sua mãe foram jogados no mar, a caracterização da Medusa e a já citada coruja metálica.

À Guerra nas Estrelas: em um determinado momento, Perseu recebe uma espada que lembra muito uma espada de luz. Em outro momento, o grupo encontra seres que são um cruzamento do General Greivous com o Povo da Areia.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Blade Runner - Edição Especial

Titulo: Blade Runner - Edição especial - 3 discos
Direção: Ridley Scott
Elenco: Harrison ford, Rutger Hauer, Sean young, Edward James Olmos, M. Emmet Walsh, Daryl Hannah
Ano: 2007.


Para fanáticos. Quem, a não ser um fã de carteirinha, compraria um caixa de um DVD triplo com quatro (isso mesmo, quatro) versões do mesmo filme e um making of de três hora de duração?
A versões apresentadas são: a versão original de dos cinemas americanos de 1982, a versão internacional, também de 1982, a versão de diretor de 1992 e a tão esperada versão "definitiva" do diretor Ridley Scott.

O grande chamariz é a versão "definitiva" com algumas cenas ampliadas e, segundo boatos, um final onde Ridley Scott dá sua visão de que Derek era definitivamente um andróide.

Graças aos céus esta versão de final era apenas um boato! Do contrario Ridley Scott teria jogado fora o que o filme tem de melhor. Philip K. Dick, autor do romance que deu origem ao filme, tem como características mais marcante a geração de dúvidas na cabeça de seus leitores. O filme ainda que mostre o unicórnio em origami e o sonho de Derek, não diz claramente "é". E isso de fato não importa, pois nós humanos o que realmente somos? Esta é a questão que Dick e Scott nos colocam.

Do mais o que esta versão trás de diferente? O acréscimo de umas poucas cenas, sendo a mais marcante o assassinato de Tyrrell, onde é mostrado o esmagamento dos olhos da vítima para dentro do seu cérebro (cena que já apareceu na versão para VHS de 1982). Estas cenas mais cuidam de detalhes que outra coisa. Por exemplo, Derek bebe um gole uma bebida clara após ter sido ferido na boca e o liquido passa a apresentar filetes de sangue.

Dicas nerds:

Há muitas referências no filme:

  • O visual futurista revela de quando em quando algumas ambientações retrô, como a sala onde foi interrogado Leon. Ela lembra filmes noir dos anos 50.
  • O aparelho usado no teste assemelha-se um engenho descrito num dos livros de Isaac Asimov, como uma máquina para testar a terceira lei da robótica.
  • A atriz se veste e parece fisicamente com a namorada do Spirit, personagem de Will Eisner, dos anos 40 (a roupa e o penteado de Rachel são típicos do anos 40).
  • O nome do edifício onde ocorre a luta final, além de lembrar a arquitetura dos anos 40, chama-se Bradbury, homenagem a um dos autores de FC contemporâneos de Dick (Ray Bradbury).
  • Numa cena de perseguição na rua, aparecem Hare Krishnas (muito comuns nos anos 80).
  • Um dos anúncios luminosos é da Pan Am, empresa aérea que faliu nos anos 80 (uma ironia mostrá-la com atuante em 2019).

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus

Título: O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus
Título Original: The Imaginarium of Doctor Parnassus
Origem: França, Canadá, EUA, Reino Unido
Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam e Charles McKeown
Elenco: Heath Ledger, Johnny Depp, Christopher Plummer, Colin Farrell, Jude Law
Ano de Produção: 2009
Duração: 122 min

Sinopse: Dr Parnassus oferece um espetáculo mambembe a um público cada vez mais raro e indiferente. Neste espetáculo, o espectador é convidado a entrar num labirinto de espelhos e mergulhar num mundo imaginário. O participante na realidade entra num mundo onde em um determinado momento deverá fazer uma escolha, normalmente entre um prazer e a glória do paraíso. Tudo isto é fruto de um jogo sem fim entre o Dr. Parnassus e o Diabo no qual sempre há uma aposta envolvendo um número de almas que devem escolher um ou outro lado. O jogo ganha contornos dramáticos pois o aniversário de 16 anos de Valentine, sua filha, se aproxima e neste dia fatídico, o Diabo cobrará o prêmio de um jogo perdido por Parnassus.

Trailler


Atenção: contém spoilers!

Quando tudo parece perdido, surge Tony, encontrado meio morto, enforcado debaixo de uma ponte. Com amnesia, incorpora-se a troupe e convence Parnasssus a renovar o espetáculo. Isso faz com que o publico sempre crescente participe cada vez mais, e, para desepero do Diabo, seduzido por Tony a fazer a escolha certa.

Porém o passado de Tony vem a tona e ele se vê obrigado a se lançar no mundo imaginário para fugir de seus perseguidores. A partir deste momento há uma luta entre Tony, o Diabo, Parnassus e Anton (um dos membros da troupe) por Valentine, cada um seguindo sua próprias motivações. Neste processo Tony vai sendo transformado e sua verdadeira face é revelada.

Na transformação de Tony reside o tour de force do filme. Heath Ledger morreu quando tinha gravado cerca de apenas um terço de todas as cenas do seu papel (Tony), levando Terry Gilliam, diretor do filme, julgar que seu empreendimento teria ido por água abaixo. Porém, graças a Johnny Depp, Colin Farrell e Jude Law, que interpretaram as cenas restantes de Tony, o uso de máscaras e de CGI, o filme foi salvo. Isso foi possível devido à atmosfera fantástica do filme e das transformações de caráter de Tony que se tornaram então físicas, por meio de um recurso semelhante ao usado e abusado no clipe Black or White de Michael Jackson, feito de uma maneira muito sutil e bem amarrada à trama. A impressão é de que se filme tivesse sido pensado antes desta maneira, não teria ficado tão bom!

Isso já valeria a ida ao cinema, porém o filme tem muito mais do que isso. Terry Gillam concebe uma excelente alegoria dramática sobre a fragilidade das escolhas humanas e sobre a magia de contar histórias, pois segundo o Dr. Parnassus, é isto que sustenta a existência do universo.

Ainda há a boa construção do ambiente surreal do mundo imaginário para onde os personagens são deslocados. E o jogo de sedução que Tony faz para retirar as vítimas das garras do Diabo é bastante divertido e inteligente.


Leia também a crítica do Cine Dude.



sábado, 1 de maio de 2010

Star Trek: Next Generation (7ª temporada)

Star Trek: Next Generation (7ª temporada)
Elenco: Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Le var Burton, Marina Sirtis
Duração: 45min

Nesta última temporada da série Star Trek: Next Generation, a maioria dos episódios são bons, como é costume neste seriado. Após assisti-los percebemos um padrão bem definido nessa sétima temporada: uma preocupação em humanizar os personagens, dando-lhes um conteúdo mais dramático e sentimental.

A primeira coisa que se nota é que na maioria dos episódios aparece algum parente perdido de um dos tripulantes, reatando um relacionamento esquecido ou negado ou reforçando um papel parental. Apesar do desmentido formal disto ser intencional nos extras, achamos difícil isto ser verdade, pois La Forge encontra com seus pais, Worf com seu irmão de criação (humano) e em outro episódio discute com seu filho, reaparece a mãe de Deana Troi (numa situação em que aparece fragilizada, contrapondo-se com outras aparições, onde é uma mulher decidida e de caráter forte), a gata de Data tem gatinhos, aparece um filho perdido do capitão Picard e até a Enterprise é humanizada! Também é dado um ênfase maior em relacionamentos: a paixão de Worf por Deana, gerando ciúmes velados em Riker, um reforço da tensão emocional e afetiva entre o capitão e a doutora Crusher e relacionamento cômico de Data com sua gata.

Notamos que esta preocupação reaparece nos extras em relação tanto à serie como com seu elenco e equipe técnica. Boa parte das entrevistas está centrada em mostrar uma interação entre todos saudável e alegre, como uma grande e harmoniosa família. O curioso é que a primeira coisa que tentam fazer é desmentir esta intenção!

A segunda coisa importante (confirmado nos extras) é a preocupação de dar um fechamento na série que lhe faça jus. O episódio deveria ser muito criativo e estar consistente com o desenrolar das ações de todos os anos. Podemos dizer que eles conseguiram. O episódio chama-se "Tudo que é bom", uma alusão a um dito popular bastante condizente com as intenções dos produtores: "Tudo que é bom um dia chega a um fim". A solução que encontram é o capitão Picard viajar espontaneamente no tempo, indo do presente ao passado e ao futuro, inúmeras vezes, sendo isto confundido em seu futuro com sintomas de uma doença neurológica.
Nesse último episódio reaparece alguém importante, que apareceu a primeira vez no episódio piloto da série, fechando um julgamento iniciado lá.

Destaques

A maioria dos episódios vai agradar os fãs da série porém gostaria de destacar três episódios:

Fantasmas: Data começa a ter pesadelos durante a noite, com mensagens tipicamente freudianas. E quem ele vai consultar? Freud, no holodeck! A condução do enredo surreal e a explicação final são bastante criativas. A cena com Freud é um alivio cômico muito bem feito.

O Golpe (episódio duplo): Picard e Riker, infiltrados numa nave pirata alienígena jogam um jogo, do qual ninguém conhece as regras. A criatividade está na montagem da trama, complexa e cheia de reviravoltas. A comparação é com um jogo de xadrez onde você não sabe de que lado está. Por isso o título original: Gambit, que pode ser traduzido como "gambito", movimento do xadrez em que se sacrifica uma pedra, normalmente um peão, para ganhar uma posição tática melhor.

Máscaras: Após a descoberta de um artefato que na realidade é um banco de dados de uma cultura extinta, Data incorpora toda a cultura, assumindo um comportamento de múltiplas personalidades. Os objetos e detalhes da cultura lembram muito a cultura Maia e o conflito simbólico mostra que quem escreveu o roteiro conhecia muito bem mitologia.

Nerdshop
Star Trek: Next Generation (7ª temporada)

Star Trek: Next Generation (3ª temporada)

Star Trek: Next Generation (3ª temporada)
Elenco: Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Le Var Burton, Marina Sirtis, Micahel Dorn


Os 26 episódios da terceira temporada da série Star Trek: Next Generation -- série que surgiu nas telas entre 1989 e 1990 -- estão disponíveis em  box  da CBS DVD ao público brasileiro. .
Aqui, os fãs de Star Trek terão a oportunidade de rever estes episódios. Apenas isto: uma edição da CBS DVD que apenas os junta debaixo de um menu simples, sem seleção de cenas e sem nenhum extra! O que é uma pena! 

Mas de qualquer forma, o valor intrínseco da série justifica o lançamento.
A maioria dos roteiros, como é de praxe em toda a série, é bastante inteligente e bem dirigida, se bem que muitas vezes acaba se fixando nos estereótipos que ela mesma criou. Até os fãs mais ardorosos se cansaram de ver Data andando como uma marionete e tentando descobrir novas emoções. E, passadas três temporadas, nos perguntamos: por que não há outros andróides ainda que inferiores ao supra-sumo da tecnologia "positrônica" (referência-homenagem a Isaac Asimov), rondando pela nave ou em qualquer ponto do Universo? Ou mesmo robôs de diversows tipos, ainda que não humanídes?

A maneira de narrar a maioria dos episódios segue a fórmula das séries de Jornada Nas Estrelas: dois núcleos centrados em dois personagens em situações opostas ou similares que convergem no final.

No terceiro ano da série já nos acostumamos ao cerebral Piccard, que quase nunca desce em outros planetas e não tem o "charme" do capitão Kirk. O capitão da série Next Generation é mais verossímil e demonstra, pelo menos em seus aposentos ou para a Conselheira Troi (que emagreceu uns quilinhos), algumas inseguranças. E, feio que dói, quase não faz nenhum jogo de sedução com garotas alienígenas.

A ação e sedução ficam para o comandante Riker, agora nesta terceira temporada mais experiente como ator e com um espaço bastante aumentado na maioria dos episódios.

Um destaque especial para o último episódio desta temporada: O Melhor de Dois Mundos, onde a Enterprise enfrenta os Borgs, seres meio humano, meio máquinas, que formam uma coletividade, agregando e despersonalizando seus inimigos (uma referencia maldosa ao comunismo, um resquício da Guerra Fria). Este episódio é importante, pois contextualiza no tempo e no espaço o meio de onde surgirá a outra série que ocorre em paralelo com Next Genration: Deep Space Nine. Infelizmente este episódio está pela metade, pois tem duas partes e a segunda é o primeiro episódio da quarta temporada.

Uma referência nerd: Em quem vocês acham que foi inspirada a raça Sheliak, que aparece no primeiro episódio da temporada (Os Imperativos do Comando)? Uma dica: são extremamente burocráticos e estão com intenções sérias de remover um obstáculo a seus planos: a população de um planeta inteiro...

Qualquer semelhança com os Vogons (da série O Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams) NÃO É mera coincidência...

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