Dimensões.Br
Autor: Helena Gomes (org.)
Editora: Andross
Ano: 2009
Páginas: 318
Sinopse: Antologia de contos que tem em comum histórias fantásticas ambientadas no Brasil.
Tem se comentado muito entre escritores, sobretudo estreantes a validade ou não de participar de uma coletânea, sobretudo por aqueles que já ouviram muitos nãos e desejam ver seus trabalhos impressos. Há várias modalidades: financiadas pelos autores, em cooperativa, bancadas pelos editores e por aí vai. Alguns condenam a indústria dos livros de encomenda.
Pretendo não entrar nesta seara, um terreno por demais pantanoso, porém algo precisa ser ressaltado: a presença do editor. Se há um bom editor cuidando da antologia, não só para encher as cotas, mas para uma seleção criteriosa, pode-se esperar um bom resultado.
Tal é o caso deste volume. Há a presença de um bom editor: Helena Gomes, conhecida autora de Fantasia, que deu as coordenadas do volume e fez a seleção dos textos.
Todos os autores que se candidataram deveriam escrever dentro do universo de literatura fantástica (horror, fantasia e ficção científica) alguma história que tivesse alguma coisa a ver com o Brasil: o cenário, os personagens, o linguajar. Trata-se de tentar curar a “síndrome do capitão Barbosa” , ou seja, o medo de colocar personagens ou cenários brasileiros numa história de ficção científica, horror ou alta fantasia (embora um mundo seja todo construído, nos lembra a Idade Média europeia). Isso me lembra uma vez um jornalista comentando um festival de música popular latino americana: embora todos estivessem cantado em castelhano, “os arranjos estavam todos em inglês”.
Os autores tiveram que fazer alguns exercícios: resgate de mitos indígenas ou africanos, trazer o fantástico para um cenário rural tipicamente interiorano, criar um cenário futurista ou um mito urbano em uma grande cidade brasileira. A maioria dos autores conseguiu dar uma resposta ao desafio, porém não com a mesma qualidade.
Apesar de haver uma seleção e de um esforço editorial louvável, o livro é irregular, com algumas pequenas obras primas ao lado de contos apenas medianos. Alguns altores são principiantes e estão na coletânea mais pelo seu potencial que ainda precisa ser trabalhado. A irregularidade fica por conta do tamanho excessivo da coletânea, 55 contos (ainda que curtos), com algumas temáticas que se repetem, às vezes dizendo a mesma coisa, ao longo de mais de 300 páginas. O que acaba cansando muitos leitores. Uma obra mais enxuta, talvez agradasse mais, mas talvez não abrisse algumas portas. Um compromisso entre os autores e leitores difícil de equacionar, mas que mereceria ser revisto.
Todavia, no todo, o livro merece ser lido e apreciado, tanto pela qualidade de alguns textos, como pelo esforço de alguns autores novos em “dar a cara pra bater”. Se o texto não estiver lhe agrandando, pule para o próximo conto. A há leitura para todos os gostos. Os textos transitaram pelo humor (A fada madrinha e o feitiço da indecisão, Gigante e A olho nu são três bons exemplos), pelo poético (Alem da Terra sem males; Doces Sonhos), ficção científica (Crisantêmosilicone; Lucas, o Menino Binário), lendas indígenas (A lenda do Curupira e do Boitatá, O Mito de uma Lenda), terror (Quando sonhos se tornam pesadelos, Até a primeira caçada), contos de amor e morte (Para sempre, Doces Sonhos), só pra citar alguns exemplos.
E viva o capitão Barbosa, e seu imediato, o Curupira!