terça-feira, 25 de maio de 2010

Guerra nas Estrelas e o Orgulho Nerd

25 de maio de 1977 começava a saga de Guerra nas Estrelas.


Cartaz da Estréia de Guerra nas Estrelas


Em 1977 a ficção científica estava dominada por filmes cabeça, ainda no rastro de 2001, Uma Odisseia no Espaço e aparentemente nada de novo ameaçava surgir nas telas do cinema. Um diretor desconhecido do grande público, George Lucas ousou inovar. Ele já havia feito o elogiado THX 1138, que quase ninguém vira, um distopia aos moldes de 1984. Essa experiência fez com que ele pensasse de outra forma: a maioria as pessoas não querem ir ao cinema para terem dores de cabeça ao serem confrontadas com visões funestas de futuro. Elas querem principalmente se divertir. 


THX 1138 - Excelente distopia

Entretanto não era uma simples diversão que ele buscou em Guerra nas Estrelas. Seu projeto foi longamente construído, até se transformar na saga de seis episódios que conhecemos hoje. Sua preensão era ser, como ele confessou em uma entrevista incluída na série The Power of the Mith, um forjador de uma nova mitologia. 

Fã da psicologia Junguiana e do trabalho de Joseph Campbell, Lucas buscou em mitos que vão desde mitos gregos e romanos, passando pela a saga arturiana, histgórias de samurais, batalhas da segunda guerra mundial e temperou com a ascensão e queda de vários impérios, começando pelo romano. E convidou Campbell para ser seu consultor. Aliás, Campbell é o entrevistado em The Power of The Mith, e o programa foi feito no rancho Skywalker.


 I am your father

Guerra nas estrelas segue passo a passo a construção do Mito do Herói, descrito em por Campbell em O Herói de Mil Faces. Luke é o herói típico, que tem um destino maior que ele mesmo, que às vezes o aceita às vezes nega. Obi-wan representa o velho ancião (o "mestre palpiteiro"); a Força, o eterno devir, ou Yn Yang, o Tao, "o bafo do Dragão"; Darth Vader, o Sombra - a outra face do Herói que ele tem que derrotar para superar o grande mal (o Imperador ou o lado negro da Força). Lea é o Ânima, o lado feminino do herói, Hans Solo o companheiro "ladrão" do herói que pode "fazer o trabalho sujo", que o herói, por ter que ser perfeito, não pode fazer (roubar, ter contatos com o submundo, seduzir, enganar, etc..) e Chewbacca, o instinto animal. 


Quem foi ao cinema estranhou que a saga começava pelo episódio IV. Consta que a ideia foi de Campbell, para que houvesse um forte impacto quando Luke descobrisse que seu pai era Darth Vader. Quando um jornal da época (acho que foi a Folha de São Paulo) fez uma matéria sobre a pré estreia do filme, o colunista quase deu o maior spolier da História. Conhecedor da psicologia junguiana, o articulista fez uma analise detalhada sob este aspecto do filme e disse (segundo me lembro) algo como "não será surpresa quando se descobrir quem é Darth Vader". Um detalhe: Darth Vader significa "pai negro". Fico pensado hoje se algum nerd da época descobriu isso. Se existisse a internet... 


O fato de não ser uma ficção científica "cabeça" rendeu algumas críticas à saga, como sendo feita de filmes "rasos", "apenas diversão". Se for apenas diversão, que seja! Fazer algo divertido é que buscava Shakespeare ao escrever suas peças. Ser divertido não significa que o filme é vazio de conteúdo. Eu pergunto: um filme que mexe com um inconsciente coletivo pode ser um filme "raso"?


Jornada nas Estrela - Indo aonde nenhum homem jamais esteve 
Outro motivo de orgulho nerd


Raso, largo ou profundo, George Lucas conseguiu seu intento. Com o suporte de Campbell até O Retorno do Jedai (Campbell morreu pouco antes do término das filmagens), Lucas conseguiu construir um Universo próprio e pos no ar uma nova mitologia, colocando-se ao lado de Homero, Hesíodo, Virgílio e Camões. Sua atitude contribui para que se consolidasse também outras mitologias, como Star Trek (que já tinha uma legião de fãs, mas nenhum filme no cinema) e O Senhor dos Anéis


 
O Senhor dos Anéis 


Nada mais justo que considerar 25 de maio o dia do orgulho nerd! 

Um comentário:

  1. Essa nova mitologia não seria senão uma forma de trazer de volta os heróis dos gibis de décadas passadas? Quem não os amava de paixão? Até hoje são cultuados por um público fiel.
    Os Nerds? Palmas para eles. Ressuscitaram o mundo fantástico de outrora.
    Sonia

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