Todos que um dia tentaram escrever sentiram falta em algum
momento de algo mais formal e organizado para auxiliá-lo na sua escrita que não
fossem as velhas aulas de redação da escola.
Alguns escritores costumam dar dicas, de forma organizada ou
não, sobre o seu jeito de escrever. E alguns escreveram livros.
Começarei com os livros de Silvia Adela Kohan, recentemente
lançados pela editora Gutemberg. Comentarei dois deles, Como Narrar uma História e Como Escrever Diálogos. Ambos são bem didáticos e bastante aconselháveis para quem
quer por a mão na massa, tem uma boa ideia, mas não sabe por onde começar. Isso
não invalida sua leitura por quem já escreve há algum tempo e quer melhorar sua
escrita. Às vezes é muito bom ver dentro de uma estrutura mais organizado
aquilo que a gente já sabe empiricamente. Isso é proveitoso até para quem escreve
muito bem.
Um outro livro que eu li com bastante interesse foi A Arte da Ficção, de David Lodge, da
LP&M pocket (título original The Art of Fiction, tradução de Guilherme da
Silva Braga). O livro é uma coletânea de artigos que saíram semanalmente em
dois jornais americanos, o Washington
Post e o Independent on Sunday.
Ele se propõe a mostra vários elementos que compõe o romance, literalmente do
começo ao fim: o primeiro artigo é O
Começo e o último, obviamente, O Fim.
Em cada capítulo é feito com base em algumas citações de
autores ingleses e americanos, e a partir delas, constrói seu texto. A maioria
dos livros é bem conhecida do público em geral, mas não é fundamental conhecer
a obra citada, pois David Lodge quase sempre contextualiza o texto para o
leitor.
São 50 capítulos, abrangendo a estrutura do romance, alguns
de seus elementos, como a ambientação, o diálogo, a construção dos nomes de
personagens, o título; recursos narrativos, como o suspense, o mistério, o
estranhamento; estilos literários como o surrealismo, o realismo mágico, o
simbolismo; tipos de romance, como o experimental, o cômico, a metaficção; e a linguagem,
como o uso da gíria, a diferenças de linguagens de acordo com o personagem.
Vale ressaltar que o autor dá a devida importância a Ficção
Cientítica, dedicando-lhe o capítulo O
Futuro Imaginado (usou 1984 como
exemplo) e à Literatura Fantástica (usou Edgar Allan Poe como exemplo),
dedicando-lhe o capitulo O estranho.
Ele usou também como exemplo A LaranjaMecânica, quando falou sobre romances de ideias. Uma observação
interessante: quando ele falou sobre 1984, mostrou um detalhe que lança o
leitor da época em que foi escrito quase que imediatamente ao futuro, na primeira
frase do romance: “Era um dia claro e frio em abril, e os relógios soavam 13
horas.”
Em 1948 (ano da publicação do livro) não existiam relógios
digitais. Marcar 13 horas em todos os relógios só poderia estar acontecendo em algum
momento do futuro. Uma sutileza de mestre!
Para o pessoal do Steampunk
Quem escreve gêneros onde a história ganha relevância, sabe
da importância de uma boa pesquisa. E que nem só de Wikipédia vive o escritor. Existem
bons livros de história que abrangem o período onde normalmente os escritores
steampunks situam suas narrativas.
O primeiro deles que eu recomendo é História da Vida Privada, volume 4, Da Revolução Francesa à PrimeiraGuerra. Editado pela Companhia das Letras, tem duas versões, uma em capa
dura e outra, de bolso. As informações são bastante interessantes e ajudam muito
para termos uma ideia bem precisa do período retratado, centradas não nos
episódios grandiosos, mas no dia a dia das diversas camadas da sociedade.
Com o mesmo teor há Históriada Vida Privada no Brasil, volume 2, a corte e a modernidade nacional, também
da Companhia das Letras, e História da Vida Privada em Portugal à épocaContemporânea, da editora Temas e Debates, ambos somente em capa dura.
Pegando o teor mais político, temos as obras de EricHobsbawn: A Era das Revoluções 1789-1848,
A Era do Capital 1848-1875, A Era dos Impérios 1875-1914, todos da Editora Paz e Terra e,
abrangendo um período mais longo, Bandidos,
onde analisa o chamado “banditismo social”.
Epílogo
Além da leitura formal, é bom ter uma gama variada de
leituras, começando pelos seus “colegas de classe”: outros escritores
brasileiros e estrangeiros que estão produzindo o mesmo gênero que você.
Além deles é bom ter uma leitura bem variada, abrangendo
diversos gêneros, diversas nacionalidades e diversas épocas, não só os de sua preferência. E não se esqueça
dos Clássicos!