Steampunk:
Histórias de um passado extraordinário
Autores:
Gianpaolo Celli (org.), Fábio Fernandes, Antonio Luiz M. C. Costa,
Alexandre Lancaster, Roberto de Souza Causo, Cláudio Villa, Jacques
Barcia, Romeu Martins e Flávio Medeiros
Editora:
Tarja Editorial
Ano:
2009
Sinopse:
Esta coletânea foi a primeira coletânea do gênero no Brasil. Com
uma seleção de textos cuidadosa de Gianpaolo Celli, reúne textos
de diversos matizes sobre o gênero.
Este
gênero da Ficção Científica, explora um momento extremamente rico
da história: o século XIX, acrescentando alguns desenvolvimentos
tecnológicos dos séculos XX e XXI, construídos a partir da
tecnologia da época (à vapor, principalmente, daí o steam).
O exemplo mais famoso é o computador, descrito em A MáquinaDiferencial, de William Gibson e Bruce
Sterling. Ao lado da tecnologia, o desenvolvimento social também é
explorado, com os impactos à sociedade, tendo como pano de fundo a
Era Vitoriana, com seu moralismo rígido, as distorções provocadas
pela exploração dos trabalhadores e
as guerras (o século XIX se rivaliza com século XX em número de
conflitos). Daí o termo punk.
O
steampunk
em sua essência seria um gênero nostálgico, (retro)futurista e
distópico.
O
Assalto ao Trem Pagador – Gianpaolo
Celli
O
conto centra-se na ação de três agentes, uma mulher e dois homens
no assalto a um trem com um carregamento de ouro. A missão tem uma
relação com a Guerra Franco-Prussiana, que ocorreria em pouco
tempo.
Há
uma preocupação do autor em dar verossimilhança aos engenhos que
coloca no conto, como pistola de “dardos” elétricos, com uma
breve descrição e algumas notas de rodapé. Esta preocupação com
detalhes tecnológicos o aproxima da FC Hard. Mas isso não
compromete o desenvolvimento da narrativa e do clima de aventura. O
leitor mais entusiasmado com o desenrolar da trama, pode simplesmente
ignorar as notas de rodapé, sem prejuízo para o entendimento.
Uma
breve história da Maquinidade – Fábio
Fernandes
Este
conto mereceu uma inserção na coletânea de Bráulio Tavares,
Páginas do Futuro,
acredito que pela
originalidade de seu ponto de vista. A História é contatada do
ponto de vista das máquinas.Parodiando um compêndio didático
mostra a evolução da Maquinidade
desde a segunda criatura
do Dr. Victor Frankstein, que abandonara os cadáveres para usar
engrenagens e vapor. Há algumas passagens dignas de nota: como a
adesão de Marx à luta pelos direitos das máquinas e a guerra entre
duas empresas fabricantes de Cérebros Mecânicos.
A
Flor do Estrume – Antônio
Luiz M. C. Costa
Recheados
de referências a Machado de Assis e a mitos indígenas, Costa
imagina índios num grau de evolução tecnológica que permite a
Brás Cubas realizar sua sonhada panaceia universal. O conto é muito
engraçado, principalmente para quem leu Machado de Assis.
E,
ao vencedor, as batatas.
A
Música das Esferas – Alexandre
Lancaster
Um
cientista desenvolve um aparelho para captar a música da “harmonia
das esferas”, acreditando que com isso aumentaria a inteligência
das pessoas. Porém morre ao experimentar o aparelho em si mesmo.
Apesar disso, uma apresentação pública do invento esta programada,
o que provocaria morte de todos os presentes. Um jovem cientista e
seu amigo tentam impedir que isto aconteça.
O
humor está presente de várias formas e a aventura também, fazendo
a leitura ser bastante divertida.
O
Plano de Robida: Un Voyage Extraordinaire – Roberto de Souza Causo
Num
Brasil onde não aconteceu a Proclamação da República, o país
enfrente a ameaça de uma invasão vinda dos ares. Quem comanda a
invasão é Robida, um pirata dos ares, que quer dominar o planeta.
Sua tecnologia é bastante superior ao que set em disponível no
mundo naquele momento e naquela realidade.
A
tentativa do Brasil combatê-lo reside na habilidade e criatividade
de um homem: Alberto Santos Dummont.
Uma
bem movimentada aventura, centrado em questões militares, onde
normalmente Causo brilha.
O
Dobrão de Prata – Claudio
Villa
O
conto foge um pouco ao gênero. É mais uma história de horror do
que propriamente FC e peca num coisa fundamental para uma história
de horror: a partir de um terço da história, já sabemos qual será
seu final. Um conto apenas competente.
Uma
Vida Possível atrás das Barricadas – Jacques Barcia
O ambiente é uma guerra civil, uma
luta de classes onde trabalhadores oprimidos e seres artificiais
lutam por igualdade. Neste clima, um autômato mecânico e uma golem
buscam refúgio num cidade controlada pelos rebeldes onde podem dar
vazão a seu sonho: terem um filho.
Como os dois são seres artificiais
de espécies diferentes, necessitam da ajuda de um cientista humano.
O autômato torna-se um miliciano e
luta no front, resitindo ao cerco. A situação vai se
agravando a media que o tempo passa e o cerco à cidade vai
aumentando.
Há boas cenas de batalha.
O final é surpreendente e poético.
Gostei bastante deste conto.
Cidade
Phantástica – Romeu Martins
Este conto reúne personagens de
Conan Doyle e Júlio Verne, figuras históricas brasileiras e
personagens do romance a Escrava Isaura numa aventura policial
e de ficção científica de tirar o folego. Este conto é o que mais
caracteriza o Steampunk e lhe dá um ar bem brasileiro.
O sequestro da noiva de um
industrial inglês e o desparecimento de uma enorme quantidade de
tubos de aço põe em ação o policial ferroviário João Fumaça.
Uma boa quantidade de aventura e
suspense garante a diversão.
Por
um fio – Flávio Medeiros
Um
submarino da marinha de guerra francesa e uma fortaleza voadora do
império inglês travam uma batalha estilo gato-e-rato. Na realidade
é uma batalha entre os dois comandantes, extremamente habilidosos,
que se respeitam enquanto inimigos, através de uma admiração
mútua. Lembra muito um episódio de Star Trek clássico, onde Kirk
enfrenta um comandante romulano (O
Equilíbiro do Terror).
Fecha
com chave de ouro a coletânea.
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Steampunk:
Histórias de um passado extraordinário. Tarja Editorial.
Steampunk. Livraria Cultura