domingo, 14 de abril de 2013

Steampunk: Histórias de um passado extraordinário


Steampunk: Histórias de um passado extraordinário
Autores: Gianpaolo Celli (org.), Fábio Fernandes, Antonio Luiz M. C. Costa, Alexandre Lancaster, Roberto de Souza Causo, Cláudio Villa, Jacques Barcia, Romeu Martins e Flávio Medeiros
Editora: Tarja Editorial
Ano: 2009

Sinopse: Esta coletânea foi a primeira coletânea do gênero no Brasil. Com uma seleção de textos cuidadosa de Gianpaolo Celli, reúne textos de diversos matizes sobre o gênero.

Este gênero da Ficção Científica, explora um momento extremamente rico da história: o século XIX, acrescentando alguns desenvolvimentos tecnológicos dos séculos XX e XXI, construídos a partir da tecnologia da época (à vapor, principalmente, daí o steam). O exemplo mais famoso é o computador, descrito em A MáquinaDiferencial, de William Gibson e Bruce Sterling. Ao lado da tecnologia, o desenvolvimento social também é explorado, com os impactos à sociedade, tendo como pano de fundo a Era Vitoriana, com seu moralismo rígido, as distorções provocadas pela exploração dos trabalhadores e as guerras (o século XIX se rivaliza com século XX em número de conflitos). Daí o termo punk. O steampunk em sua essência seria um gênero nostálgico, (retro)futurista e distópico.

O Assalto ao Trem Pagador – Gianpaolo Celli

O conto centra-se na ação de três agentes, uma mulher e dois homens no assalto a um trem com um carregamento de ouro. A missão tem uma relação com a Guerra Franco-Prussiana, que ocorreria em pouco tempo.

Há uma preocupação do autor em dar verossimilhança aos engenhos que coloca no conto, como pistola de “dardos” elétricos, com uma breve descrição e algumas notas de rodapé. Esta preocupação com detalhes tecnológicos o aproxima da FC Hard. Mas isso não compromete o desenvolvimento da narrativa e do clima de aventura. O leitor mais entusiasmado com o desenrolar da trama, pode simplesmente ignorar as notas de rodapé, sem prejuízo para o entendimento.

Uma breve história da Maquinidade – Fábio Fernandes

Este conto mereceu uma inserção na coletânea de Bráulio Tavares, Páginas do Futuro, acredito que pela originalidade de seu ponto de vista. A História é contatada do ponto de vista das máquinas.Parodiando um compêndio didático mostra a evolução da Maquinidade desde a segunda criatura do Dr. Victor Frankstein, que abandonara os cadáveres para usar engrenagens e vapor. Há algumas passagens dignas de nota: como a adesão de Marx à luta pelos direitos das máquinas e a guerra entre duas empresas fabricantes de Cérebros Mecânicos.

A Flor do Estrume – Antônio Luiz M. C. Costa

Recheados de referências a Machado de Assis e a mitos indígenas, Costa imagina índios num grau de evolução tecnológica que permite a Brás Cubas realizar sua sonhada panaceia universal. O conto é muito engraçado, principalmente para quem leu Machado de Assis.

E, ao vencedor, as batatas.

A Música das Esferas – Alexandre Lancaster

Um cientista desenvolve um aparelho para captar a música da “harmonia das esferas”, acreditando que com isso aumentaria a inteligência das pessoas. Porém morre ao experimentar o aparelho em si mesmo. Apesar disso, uma apresentação pública do invento esta programada, o que provocaria morte de todos os presentes. Um jovem cientista e seu amigo tentam impedir que isto aconteça.

O humor está presente de várias formas e a aventura também, fazendo a leitura ser bastante divertida.

O Plano de Robida: Un Voyage Extraordinaire – Roberto de Souza Causo

Num Brasil onde não aconteceu a Proclamação da República, o país enfrente a ameaça de uma invasão vinda dos ares. Quem comanda a invasão é Robida, um pirata dos ares, que quer dominar o planeta. Sua tecnologia é bastante superior ao que set em disponível no mundo naquele momento e naquela realidade.

A tentativa do Brasil combatê-lo reside na habilidade e criatividade de um homem: Alberto Santos Dummont.

Uma bem movimentada aventura, centrado em questões militares, onde normalmente Causo brilha.

O Dobrão de Prata – Claudio Villa

O conto foge um pouco ao gênero. É mais uma história de horror do que propriamente FC e peca num coisa fundamental para uma história de horror: a partir de um terço da história, já sabemos qual será seu final. Um conto apenas competente.

Uma Vida Possível atrás das Barricadas – Jacques Barcia

O ambiente é uma guerra civil, uma luta de classes onde trabalhadores oprimidos e seres artificiais lutam por igualdade. Neste clima, um autômato mecânico e uma golem buscam refúgio num cidade controlada pelos rebeldes onde podem dar vazão a seu sonho: terem um filho.

Como os dois são seres artificiais de espécies diferentes, necessitam da ajuda de um cientista humano.

O autômato torna-se um miliciano e luta no front, resitindo ao cerco. A situação vai se agravando a media que o tempo passa e o cerco à cidade vai aumentando.

Há boas cenas de batalha.

O final é surpreendente e poético. Gostei bastante deste conto.

Cidade Phantástica – Romeu Martins

Este conto reúne personagens de Conan Doyle e Júlio Verne, figuras históricas brasileiras e personagens do romance a Escrava Isaura numa aventura policial e de ficção científica de tirar o folego. Este conto é o que mais caracteriza o Steampunk e lhe dá um ar bem brasileiro.

O sequestro da noiva de um industrial inglês e o desparecimento de uma enorme quantidade de tubos de aço põe em ação o policial ferroviário João Fumaça.

Uma boa quantidade de aventura e suspense garante a diversão.

Por um fio – Flávio Medeiros

Um submarino da marinha de guerra francesa e uma fortaleza voadora do império inglês travam uma batalha estilo gato-e-rato. Na realidade é uma batalha entre os dois comandantes, extremamente habilidosos, que se respeitam enquanto inimigos, através de uma admiração mútua. Lembra muito um episódio de Star Trek clássico, onde Kirk enfrenta um comandante romulano (O Equilíbiro do Terror).

Fecha com chave de ouro a coletânea.

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Steampunk: Histórias de um passado extraordinário. Tarja Editorial
Steampunk. Livraria Cultura