sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Cisne Negro — o encontro com a Sombra no outro

Cine Negro
Título Original: Black Swan
Ano: 2010
Duração:  108 min
Diretor: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heyman, Andres Heinz
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis e Vincent Cassel

Sinopse: Nina (Natalie Portman) ganha o papel principal no balé O Lago dos Cisnes. Meiga e delicada e extremamente técnica pode interpretar com perfeição o Cisne Branco. Porém o diretor, Leroy (Vincent Cassel), deseja que ela represente também a vilã, o Cisne Negro, que é sedutora e perversa.

Por ter a sexualidade reprimida por uma mãe castradora e uma busca obsessiva pela perfeição, não consegue se soltar para representar o papel do Cisne Negro, apesar das apostas em contrário do diretor.

Lily (Mila Kunts) é a segunda bailarina e deseja o lugar de Nina (pelo menos é o que Nina pensa) e tem as características que o diretor espera para interpretação do Cisne Negro. Começa um jogo de aproximação e afastamento entre as duas onde a imaginação doentia de Nina não consegue separar o sonho da realidade.

A atuação de Natalie Portman está soberba bem como a direção segura de Darren Aronofsky. O diretor consegue criar suspense no drama e gera no espectador a mesma tensão e dúvidas que se passam na cabeça da protagonista.

Para os que buscam uma interpretação psicanalítica da trama, o filme trata do problema do encontro com a Sombra, que a protagonista vive de forma doentia, a ponto de se sentir transformando-se no próprio cisne negro. Aliás esta transformação é feita com auxílio bem dosado de efeitos especiais e maquiagem, gerando uma cena de balé fantástica.

Também na linha psicológica, está o uso constante de espelhos, alguns partidos em cenas dramáticas, representado a parte de nós mesmo que não queremos ver e acabamos projetando no outro (Nina em Lily).

Para os fãs de balé, o filme não decepciona, sobretudo pela interpretação de Natalie Portman, que treinou exaustivamente para poder representar a bailarina. E, pra os que não são fãs, o balé aparece na medida correta, sem aborrecer e bem aderido à trama.

A trilha sonora está muito bem colocada sublinhado bem pontos de tensão e ajudando a compor o clima obsessivo. Por exemplo, os acordes mais conhecidos do Lago dos Cines aparecem numa caixa de música e no toque do celular da personagem principal, como se ela só vivesse para aquilo.

Trailler


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Terceiro Tira


O Terceiro Tira
Autor: Flann O’Brien
Título original: The Third Policeman
Tradução: Luiz Fernando Brandão
Editora:  L&PM
Ano: 2006
220 Páginas

Sinopse: Um homem comete um  crime brutal, matando seu vizinho com uma pá, com  o objetivo de roubá-lo. Ao procura o dinheiro,  depara-se com um mundo bizarro, onde numa delegacia encontram três tiras que insistem que tudo gira em torno de uma bicicleta roubada.
Este livro ganhou relevância por ter sido citado como uma das influências ao seriado Lost . De fato, ele é citado explicitamente na série, no momento em que Locke encontra a escotilha (ele aparece nas mãos de um dos personagens e as escotilhas das estações do projeto Dharma são inspiradas numa estrutura semelhante que aparece no romance).
Mas, com certeza, este livro tem muito mais a oferecer do que inspirar uma série. Ele é considerado o romance mais absurdo em língua inglesa desde a publicação dos livros de  Alice.
Realmente, quando o personagem (que não tem um nome) entra no mundo que se descortina ao invadir a casa de seu vizinho tudo pode acontecer. O clima é de um pesadelo ilógico, começando pela escolha do guia: a própria alma do protagonista, apelidada de “Joe”.
O absurdo também ronda a vida ”normal” do personagem principal. Ele é fanático por um escritor-filósofo chamado De Selby, que acredita que a Terra não é redonda, mas tem o formato de uma salsicha. Aliás, poder seguir em frente nas suas pesquisas é que o motiva ao assassinato, instigado por um oportunista que vive as expensas do protagonista, Divney. As citações de Selby são hilariantes.
Também são hilariantes os absurdos vividos pelo personagem, em especial os diálogos e as explicações dadas pelos policiais aos fenômenos presenciados neste universo ilógico. O caminhar pelas cercanias leva sempre a situações cada vez mais inusitadas. Com isso, a intenção do protagonista em voltar pra casa, mesmo sem o ouro do vizinho, parece que nunca vai se realizar.
Independente de você ter gostado ou não da série Lost, ou não ter estado nem abalado com a existência dela, o livro é muito importante e deve ser lido. Talvez você afaste um pouco a decepção que foi o final da série.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

As luzes de Alice


As luzes de Alice
Autor: Miguel  Carqueija
Editora: Hiperespaço (amadora)
Ano: 2000
40 páginas

Sinopse: Numa estação espacial, uma moça é assassinada de forma cruel. Não há pistas, mas Alice, que possui o dom da vidência se dispõe a encontrar o assassino, que garante não ser humano.

Miguel Carqueija é um veterano escritor que produziu muito, tanto de forma amadora, escrevendo para fanzines, como profissionalmente  com um romance e alguns contos publicados em antologias.

As luzes de Alice é uma típica publicação amadora, produzida artesanalmente pelo fanzine Hiperespaço em 2000.

O enredo se desenvolve rapidamente, talvez para adequar-se ao formato de noveleta, lembrando bastante histórias em quadrinhos, onde tudo tem que ser resolvido de forma rápida e econômica. Isso não permite desenvolver muito bem nem o suspense nem a caracterização dos personagens. E o suspense seria fundamental numa história com um mistério e um monstro alienígena saído das páginas de Lovecraft.

A vidência tem a vantagem de permitir Alice ir direto ao assunto, ainda que seja negada e até ridicularizada durante as investigações.  Mas mesmo com vidência ainda se poderia explorar melhor o suspense, dando um caráter de descoberta paulatina. A presença do monstro e a situação de enfrentamento poderia ser melhor, principalmente se comparado a outros escritos do próprio Carqueija, que sabe muito bem armar um bom confronto final.

Quanto aos personagens, eles correspondem a alguns estereótipos, já que não há tempo de desenvolvê-los. Talvez culpa do formato escolhido, porém há algo que incomoda: apesar de tudo se passar numa estação especial, com humanos e alienígenas, todos os personagens envolvidos são humanos ou se comportam como se fossem humanos, a não ser o monstro, é claro.

Contudo, a história flui bem e agrada o leitor que procura diversão. O texto é leve e bem escrito. Não vemos aqui com freqüência algo que eu reclamei ao resenhar outras obras do autor: o uso de termos ou arcaicos ou eruditos demais, que às vezes quebram a fluidez do texto.

Podemos considerar As Luzes de Alice como um embrião do que Carqueija faria posteriormente, como em Tempo das Caçadoras. A sugestão seria ou reescrevê-la ou aproveitar os personagens e o ambiente em outra história.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Luke, eu sou seu pai

Será que a revolta de Luke contra o Darth Vader não é um simples choque entre gerações?

Veja este vídeo da banda Os Seminovos e tire suas conclusões:


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Diversidade Fantástica

A Literatura Fantástica tem se mostrado bastante diversificada nos últimos tempos. Alienígenas, Vampiros, Steampunk, História Alternativa, Zumbis, Lobisomens e outros temas. Agora surge uma proposta justamente sobre a diversidade. Trata-se da coletânea organizada por Cristina Laisatis  e Rober Pinheiro que tem por base a chamada Literatura Queer.

A arte Queer trata da diversidade sexual em suas múltiplas manifestações, às vezes engajada na luta contra o preconceito ou em outras buscando simplesmente para inserir nas artes a presença desta diversidade.

Trata-se de um desafio interessante que deve agitar um pouco mais o fandom. Maiores informações aqui ou aqui.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Angela entre dois mundos

Angela entre dois mundos
Autor: Jorge Luiz Calife
Editora: Devir
Ano: 2010
216 páginas

Sinopse: Angela é uma das personagens principais de Padrões de Contato e este livro seria um “prequel” desta trilogia. Angela tinha sete anos quando sua mãe parte numa viagem diplomática em uma nave interestelar de passageiros. A nave é desviada de sua rota e sua mãe nunca mais retorna. Encontrá-la passa a ser a obsessão de Angela, que, quando adulta, sonha em partir em uma missão de resgate.

Quando nos deparamos com uma aventura que ocorre antes de eventos que conhecemos temos a expectativa de ler uma obra à altura de sua sequencia. Por outro lado não esperamos nenhuma surpresa importante, pois sabemos o que ocorrerá com o personagem no futuro.

Sabemos também, pelo próprio autor, que este romance na realidade começou a ser escrito antes de Padrões de Contato e ele apenas finalizou e revisou no momento de sua edição pela Devir.

Feito estes descontos podemos analisar a obra. Angela é uma personagem suficientemente forte para dar sustentação a uma boa história e este é o principal mérito do autor. Outro mérito é a descrição de tecnologias futuras. Elas são bem construídas e não estão inseridas de forma forçada na trama. Porém às vezes tem-se a impressão de que a história é apenas um pretexto para o desfile de tecnologias futuras.

O ponto fraco esta no desenvolvimento dos personagens masculinos, sobretudo Bruno e Marcelo, os dois pretendentes que desejam Angela. Ambos parecem rasos, como para dar mais destaque a heroína (como se ela precisasse!). Num ponto mais baixo está o pai de Angela que vive o papel estereotipado de um homem amargurado pelo desaparecimento da esposa. E a relação de Angela com ele é de um improvável complexo de Eletra, pois vive afirmando que não consegue substituir a mãe! Uma mulher tão bem resolvida quanto ela?

A impressão que se tem é que realmente Angela entre dois mundos foi escrito há muito tempo e ficou na gaveta, Calife realmente evoluiu ao escrever Padrões de Contato.

Ainda com estes defeitos, o romance é bastante interessante, sobretudo pela verossimilhança das tecnologias, que fazem parte do prazer de ler uma boa ficção científica hard. E, para quem leu Padrões de Contato, algumas perguntas que ficaram no ar podem ser respondidas.