segunda-feira, 27 de junho de 2011

Meia Noite em Paris - cinema fantástico à Woody Allen



Meia Noite em Paris
Título original: Midnight in Paris
Direção & Roteiro: Woody Allen
Elenco: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Adrien Brody
Produção: Espanha / EUA
94 min.

Sinopse: Roteirista americano, Gil, deseja ser escritor e, ao contrário de sua noiva, Inez, com quem vai se casar em breve, ama Paris. O casal está na cidade de passagem acompanhando os pais da noiva e lá encontram um velho conhecido de Inez, Paul e sua esposa, Carol. Paul é pedante e desagradável mas Inez insiste em acompanhá-lo. Isso acaba afastanto Gil dos encontros. E uma noite, andando sozinho por Paris, se vê transportado para os anos 20.

Woody Allen não está entre meus cineastas favoritos porque raramente se afasta de falar de si mesmo, fazendo psicanálise em público, o que acaba aborrecendo de se ver sempre a mesma história. E o pior, ele gosta de atuar em seus filmes e ele não tem uma cara lá muito apresentável.

Após 15 anos sem eu ter visto um filme dele, levando em consideração que ele não atua e utilizando-se de uma temática fantástica, acabei sendo tentado a ver Meia Noite em Paris. E realmente foi uma boa surpresa.

É certo que os elementos maneiristas de Woody Allen estão lá. Gil é uma caricatura de Woody: um roteirista de cinema, que faz comédias, que quer ser escritor, saindo da arte popular e indo para mainstream. Também o relacionamento nada harmônico de Gil com sua futura esposa já foi visto em outro lugar.

Isso tudo é apagado quando o personagem viaja pelo tempo. Todas as noites, exatamente à meia noite, ele é recolhido por um carro dos anos 20 e levado para esta época, onde encontra com personalidades que então viviam em Paris: Picasso, Hemingway, Scott e Zelda Fitzgerald, T. S. Elliot, Salvador Dalí, BuñelGertrude Stein e muitos outros, muito bem caracterizados.


Salvador Dalí é um dos personagens

Apesar destes personagens históricos serem conhecidos apenas por uma parte do público, eles são mostrados como personagens e as referências para contextualizá-los são dadas por Gil como um fã admirado, de tal forma que mesmo quem não os conheça se encante com o que está acontecendo.

Atenção: spoiler!

Em um determinado momento, Gil resolve mostrar seus originais, inicialmente para Hemingway, que se recusa a lê-los, e a conselho dele, os mostra para Gertrude Stein. Ele ouve, não só deles, mas de vários outros artistas, conselhos sobre o processo criativo e sua ligação com a vida e, também, com a morte. Woody Allen parece se perguntar: o que Hemingay (por exemplo) diria pra mim se eu lhe perguntasse sobre a arte de escrever?

As respostas dadas por cada um deles são verdadeiras lições para quem deseja ser escritor. Gil aceita algumas e descarta outras, mas todas são muito interessantes.

Outro ponto importante é discussão a sobre aceitação ou fuga da realidade, que é sem dúvida o mote principal do filme. Fugir para o passado, ainda que se encontre com os expoentes da época, é uma solução? Vale a pena seguir em frente num caminho seguro mas sem emoções, ou optar por viver “uma vida louca”? Os escritores escolhidos viveram uma vida louca e emocionante, porém isto é contrastado com o sofrimento intenso que acompanha esta forma de viver, na tentativa de suicídio de Zelda Fritzgerald, na fuga de Hemingway para África e nos relacionamentos tumultuados de Adriana, que foi amante de vários artistas da época.

Allen parece inclinado a rejeitar a vida segura, pois o personagem que representa esta vida é Inez , ele a caracteriza de tal forma a não termos nenhuma simpatia por ela (este é outro dos maneirismo de Allen: em alguns filmes o personagem principal está envolvido com alguma mulher detestável). 




Inez representa a vida segura, mas medíocre.

Do outro lado está Adriana, onde o diretor faz o contrário: quer que tenhamos simpatia por ela, ainda que, para alguns, viole alguns códigos de conduta, sobretudo em relação ao conceito de “fidelidade”.



Allen contrapõe Adriana a Inez, que representa a vida emocionante, mas incerta

A verdadeira posição de Allen, contudo é um terceiro caminho, que aparecerá no final do filme, consistente e coerente com o personagem Gil.

Um bom filme.



Trailler


sábado, 11 de junho de 2011

Scott Pilgrim - saga completa e filme

Scott Pilgrim contra o mundo
(saga completa 3 volumes no Brasil, 6 volumes no Canadá)
Autor: Brian Lee O’Malley

Titulo Original:

Scott Pilgrim´s Precious litle lifevol 1
Scott Pilgrim’s VS. The world – vol 2
Ano:     2010 Brasil
            2004 Canadá


Scott Pilgrim & the infinite sadness – vol 3
Scott Pilgrim gets it togethervol 4
Ano:      2010 Brasil
            2004 Canadá

Scott Pilgrim VS the Universe vol 5
Scott Pilgrim finest hour – vol 6

Ano:      2011 Brasil
            2005 Canadá

Editora:  Companhia das Letras





Filme: Scott Pilgrim contra o Mundo
Título original: Scott Pillgrim vs. The World
Roteiro e Direção: Edgar Wright baseado na HQ de Brian Lee O’Malley
Elenco: Michael Cera, Mary Elizabeth Winstead, Kieran Culkin, Chris Evans.
Duração: 112 min
Ano: 2010

Sinopse: Scott Pilgrim, um rapaz comum de 23 anos, apaixona-se por Ramona. Tudo seria tranqüilo se ela não tivesse sete ex-namorados do mal, que ele terá que vencer se quiser continuar com a moça.

O mote já mostra a influência mais marcante de Scott Pilgrim: a cultura do vídeo game. Para atingir um objetivo, Scott terá que passar por várias fases em dificuldade crescente até o confronto final, que como não poderia deixar de ser, é um vilão superpoderoso.



A outra influência marcante é no traço, que lembra muito o estilo mangá.


E a terceira influência é rock. Scott faz parte de uma banda medíocre, a Sex Bob-Omb, que quer “explodir para o mundo”. Só que sua música é sofrível (tanto para quem ouve como para quem toca), o que torna o esforço de Scott patético. Quase todas as cenas em que aparece a banda são muito engraçadas.



A trama esta centrada no confronto que é uma metáfora para o processo de amadurecimento de Scott. Ele começa o mangá namorando uma menina de 17 anos, Knives Chao,  após ter tido uma decepção amorosa com Envy. Ao ver Ramona, se apaixona por ela instantaneamente, mas não sabe o que fazer com Knives. Scott meterá os pés pelas mãos inúmeras vezes, conseguindo magoar todas as garotas que passam pela sua frente.

Seria uma simples história de garoto-vive-experiência-sexual-que-o-torna-um-homem, se não fosse a maneira como é contada. Em Scott Pilgrim, o universo dos videogames é mais que um recurso cenográfico: ele é usado para construir metáforas para explicar comportamentos e sentimentos  dos personagens envolvidos. Eles passam por portais que o levam a outros pontos da cidade de Toronto ou a universos paralelos com muita naturalidade, ao acumularem “pontos” ganham armas e até “vida extra” e  os inimigos derrotados viram moeda, como em Mário e outros jogos, tudo isto para mostrar que Scott, ao avançar etapas, está indo ao seu amadurecimento, se tornando um ser humano mais completo, conseguindo enxergar seus erros e tentando corrigi-los.

Quem auxilia Scott no processo, como um “mestre palpiteiro”, tanto em truques para vencer a luta, como nos seus relacionamentos, é Wallace, companheiro de quarto de Scott. Um detalhe (e é apenas um detalhe, no contexto da trama): Wallace é homossexual. Isso é encarado com naturalidade por todos os personagens. O autor o colocou como tal não para causar polêmica ou erguer uma bandeira a favor ou contra esta orientação sexual. Wallace é homossexual porque simplesmente existem homossexuais no mundo.  Scott é heterossexual, embora conviva com ele, dividindo o apartamento e até a cama (apenas para dormir) e só se incomoda com o comportamento do amigo quando tem que ficar fora de casa para que Wallace possa trazer seus casos.

Cada ex-namorado representa um aspecto da personalidade de Scott que deve ser derrotado. Após derrota do último, percebemos metaforicamente a recuperação da auto-estima do personagem.

O Filme

Adaptar HQ é bastante difícil e costuma dar resultados medíocres. Isso não acontece aqui porque  Edgar Wright fez um excelente trabalho. Fundiu cenas, cortou outras e modificou várias, sem que a história perdesse sua essência e, em alguns aspectos, soube se valer da linguagem cinematográfica para dar algo mais aos quadrinhos: a ação!  As HQs são feitas de cenas estáticas que procuram insinuar movimento. O filme procura ampliar e dar vida a estes movimentos.



Por isso, filme vai agradar tanto quem leu como quem não leu a HQ, desde que não se espere uma transcrição excessivamente fiel.

Trailer Scott Pilgrim contra o mundo

Nerd Shop:

Scott Pilgrim está disponível aqui: