segunda-feira, 29 de março de 2010

O Livro de Eli (ou seria de São Leibowitz?)

Ficha Técnica

O Livro de Eli (The Book of Eli)
Direção: Albert Hughes, Allen Hughes
Roteiro: Gary Whitta
Elenco: Denzel Washington, Gary Oldman, Mila Kunis, Ray Stevenson
Duração: 118 minutos
País: EUA

Sinopse: em um mundo pós apocalíptico, um viajante solitário, Eli, carrega o último exemplar da bíblia. Este livro será disputado pelo "dono" de um vilarejo, que acredita que a bíblia pode ser usada para manipular as pessoas.

Quem conhece o excelente livro Um Cântico para São Leibowitz não pode deixar de sentir uma pontinha de déjà vu. Isso por que o cenário pós apocalíptico e a luta para preservar o conhecimento sob o ponto de vista religioso são comuns nos dois enredos

Eli carrega com fé o que ele diz ser o último exemplar da bíblia do rei James, a tradução mais aceita para o inglês do livro sagrado. Sua atitude de preservar a todo custo o seu exemplar entre em choque com tentativa do tirano senhor de uma cidade de se apossar do livro para controlar as pessoas.

O filme contrapõe, metaforicamente, a fé institucionalizada e corrompida (do tirando local) contra a fé individual e pura, ainda que ignorante (de Eli). Esta é a posição das igrejas protestantes, pelo menos em sua origem. O fato de tanta ação transcorrer por causa de um livro religioso, dentro de uma determinada ótica (cristã e protestante) pode incomodar alguns espectadores. A estes seria interessante recomendar: é apenas diversão. Curta a ação e esqueça os preconceitos (seus e dos realizadores do filme).

O núcleo da narrativa foca o conflito forasteiro versus dono do lugar. Isso lembra filmes de western. Se tirarmos os carros destruídos das ruas, substituir motos por cavalos e por chapéus pretos e brancos, temos aí um bom e velho western. Tem até um duelo de rua e um tiroteio a uma casa sitiada (ainda que as armas sejam mais modernas...). E outro duelo num clássico saloon, que serve bebidas e mulheres  (cujo dono, por "coincidência" é o vilão).

Merece destaque a fotografia que justamente tenta remeter ao velhos filmes de western, que tende para o sépia, com cores quase ausentes.

Além das referências ao Western e a São Leibowitz, o espectador encontrará outras, como a Farenheit 451 e a Mad Max (o protótipo de todos os filmes pós apocalípticos).

Destaque para uma surpresa que ocorre próximo ao final (não vou contar!), muito bem escondida durante o filme todo, de tal forma que alguns se perguntarão: "será que é isso mesmo"?

Em suma, esqueça o proselitismo e algumas inconsistências e divirta-se.

Recomendamos a leitura da resenha que aparece no Cine Dude, que aborda outros aspectos do filme. 

sábado, 27 de março de 2010

Fábulas do Tempo e da Eternidade

Ficha Técnica

Fábulas do Tempo e da Eternidade
 
Autor: Cristina Lasaitis
Editora: Tarja
Páginas: 174
Ano: 2008


Sinopse: Em doze contos, misturando os gêneros ficção científica e fantástico, a Cristina Lasaitis conta histórias que tem por pano de fundo o Tempo e a Eternidade.
Ao ler os primeiros parágrafos deste livro, temos a sensação de que a autora tem um domínio muito grande de sua ferramenta principal: a linguagem. Seu texto parece poesia, trabalhando cenas, diálogos, personagens e sensações muito bem.


E também demonstra ser igualmente hábil nos dois outros quesitos pra se fazer uma boa ficção científica: saber escrever uma boa história e ter um bom conhecimento científico.


Como o tema é "tempo e eternidade", o sumário é uma representação gráfica de um relógio. Começando à 1h00, com um conto sobre a internet: "Além do Invisível". Parece que ela fez de propósito pra contrariar minha crônica no Pai Nerd, onde afirmo que não há boas histórias sobre a internet na literatura clássica de FC. A autora sabe o que faz! Constrói um enredo sobre o relacionamento entre duas pessoas no mundo virtual, com delicadeza, com sutileza e com um final surpreendente.


Às 2h00, aparece o conto, "As Asas do Inca", onde somos levados para o império pré-colombiano, às vésperas da invasão espanhola, demonstrando um outro domínio: o dos mitos e lendas do povo Inca. Novamente a linguagem brilha.


Às 3h00, "Nascidos das Profundezas", onde descobrimos que o desconhecido pode estar debaixo de nosso narizes. E o futuro pode estar no passado.


Às 4h00, "Revés Alquímico", num campus de uma universidade com os problemas típicos de uma instituição de ensino do Brasil: falta de verbas, professores dedicados mas pouco valorizados, etc., um velho professor se dedica a uma pesquisa bem pessoal. Quem estudou Química em uma universidade pública vai se sentir em casa.


Às 5h00, "Assassinando o Tempo", onde aparece a personagem Cláudia Mansilha, muito bem construída pela autora. Neste conto o tema "tempo e eternidade" aparece com mais força e cercado por uma verossímil teoria física, mostrando que Cristina Lasaitis é realmente uma escritora de ficção científica que merece este nome, pois consegue transitar tanto na ficção científica soft quando na hard.


Às 6h00, "A Outra Metade" nos leva novamente ao fantástico, num bem construído conto sobre almas gêmeas.


Às 7h00, "Viagem Além do Absoluto", mostra uma outra faceta da FC, a cosmogonia, um conto que tem como pano de fundo o cosmos em seus últimos instantes. O nome do conto poderia ser "Enquanto houver Aurora", uma frase que aparece algumas vezes no texto, o que seria muito mais poético.


Às 8h00, em "De Onde Viemos, para Onde Vamos", velhos intelectuais fracassados se reúnem num café, discutindo filosofia diante de um ouvinte privilegiado. Um conto de FC que toca o fantástico, onde a ciência é a Filosofia.


Às 9h00, "Irmãos Siameses", um texto que também resvala no fantástico, nos conta a vida de dois irmãos que não podem se separar. As ciências que servem de apoio são a medicina e a psicologia. Uma boa história dramática, que certamente pode arrancar algumas lágrimas dos mais sensíveis.


Às 10h00, "Caçadores de Anjos", nos remete à Idade Média e à Inquisição, onde nem os anjos eram poupados da fogueira.


Às 11h00, "Os Parênteses da Eternidade", onde um correio entre épocas permite uma conversa de alguém do presente com que ainda não nasceu. A dra. Mansilha é citada mais uma vez, mas apenas para ligar esta história com "Assassinando o Tempo". O lado humano da ficção hard.


E, finalmente, à meia noite, fechando o volume, o conto "Meia Noite", onde o tema internet, é retomado no mesmo universo do primeiro conto, fechando o que ali foi aberto.


No geral, Fábulas do Tempo e da Eternidade é um livro excelente, mostrando versatilidade da autora, que não deixa de ser brasileira para ser universal.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Versilêncios

Ficha Técnica

Versilêncios
Autor: Gerusa Leal
Editora: Edições Bagaço
Ano: 2008
122 páginas

Sinopse: Coletânea de poesias de Gerusa Leal, que recebeu o premio Edmir Domingues de Poesia de 2007, da Acadêmia Recifense de Letras.

O título deste livro, Versilêncios, chamou-me a atenção pois é um excelente jogo de palavras que traduz o conceito aparentemente paradoxal que a autora vê na poesia: Versos que traduzem sons servem para que possamos ver o silêncio.

E que silêncio a autora quer que vejamos? O nosso silêncio interior, que acolhe a palavra com que os versos são moldados, uma das matérias primas que compõe a sua poesia. E quais seriam as outras? Os sentimentos que estas palavras arrumadas em verso despertam no leitor.

As poesias são agrupadas em "capítulos" nos quais a autora nos mostra um dos possíveis caminhos para ler o que ela escreve.

Começando por Aquecimento, em que a autora se coloca no próprio ato de escrever poesia – destino ou um desatino – que provavelmente acompanha todo poeta. A inspiração repentina e o branco andando de mãos dadas.

Após o Aquecimento, a autora arrisca mais um passo em seu caminho, Partindo rumo à sua Trajetória. Sua Trajetória é pontuada por eventos e pensamentos (autobiográficos? não podemos nos esquecer que, como nos diz Fernando Pessoa, "o poeta é um fingidor"), com os quais ela tenta dizer-nos (e a ela mesma) quem é.

Em A Dois nos leva a um caminho onde a sensualidade habita ou os encontros e desencontros da nossa busca da felicidade através de outro ser humano, com quem dividimos carícias e sentimentos. Ilusão? Solidão? Atire a primeira pedra quem nunca teve uma ou outra...

Se palavra ainda estava contida, a autora a liberta em Soltando Amarras, para depois nos mostrar o seu (nosso?) cotidiano, que vivemos sem ver a poesia que habita nele.

Ela, Ele, Os Outros nos mostra a mitologia pessoal que acompanha a autora. O mito feminino de Lilith domina a paisagem.

Nós nos lembra uma relação pessoal, porém logo surge Laing para nos dizer que "nós" pode significar "laços", ambiguidade impossível em inglês.

Ocasos nos remete a um fim próximo, de um tempo ou de algo, que talvez volte ao amanhecer, nos conduzindo a Idas e vinda.

E antes do final, Gerusa Leal nos reserva uma Degustação, nos lembrando a filosofia de Quincas Borba.

E, Chegando termina seu caminho.

Há dois ensaios, um abrindo, Versilêncios Femino Sustantivo, de André Cervinski e outro fechando o livro, O poema perfeito é a morte. Ainda que eles tenham sua utilidade, sugerimos que os leia bem depois de ter apreciado os versos. Qualquer tentativa de analisar ou classificar os poemas de forma acadêmica, pressupõe um dissecar, que nos lembra o dissecar da biológica: após termos cortado o animal pra vê-lo, percebemos que o matamos. Isso pode acontecer se lermos os ensaios antes, pois adquirimos o viés do ensaísta e deixamos de perceber os versos em sua plenitude.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Star Gate Linha do Tempo

Stargate: Linha do Tempo (Stargate: Continuum)
Direção: Martin Wood
Roteiro: Brad Wright
Elenco: Ben Browder, Amanda Tapping, Christopher Judge, Michael Shanks, Beau Bridges, Claudia Black, Richard Dean Anderson, Cliff Simon, William Devane, Don S. Davis
Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento: 2008

Sinopse: Ao participar de um cerimônia de extração do último dos Goa'uld, espécie de alienígena parasita, de seu hospedeiro, Ba'al, uma equipe militar de elite (SG-1) é surpreendida por uma alteração repentina no continuum espaço-tempo e dois de seus membros desaparecem. Os três sobreviventes correm para o portal Stargate, enquanto o fenômeno vai destruindo a paisagem em volta.

Devido às alterações no tempo, em vez de voltarem para a Terra que conhecem, voltam para uma linha de tempo alternativa onde o Stargate nunca foi descoberto. Neste mundo um dos personagens jamais existiu e os outros têm histórias de vida diversas: um está oficialmente morto, e outro é um escritor, autor de livros de ciência alternativa sobre alienígenas do passado.

Dentro dessa realidade, os personagens tentam convencer o governo a permitir que voltem e alterem a linha do tempo. Inicialmente enfrentam a incredibilidade aparente do governo e depois da relutância em permitir que eles alterem a linha do tempo, uma vez que sua atitude irá mudar a aquela linha de realidade (o que faz uma linha de tempo ser melhor que outra?), mesmo ante a argumentação de que há um inimigo alienígena poderoso, que alterou alinha do tempo e deseja conquistar a Terra. E... está na iminência de invadi-la!

Stargate: Linha do Tempo (Stargate: Continuum) situa-se cronologicamente entre Star Gate SG-1 e Stargate Atlantis e é uma obra feita diretamente para DVD.

Uma coisa que deve ter passado pela cabeça dos fãs das séries Star Gate é que, apesar da clara influência do seriado O Túnel do Tempo, raramente a possibilidade da viagem no tempo foi mencionada, quanto mais produzido um episódio voltado para isto. Todas as vezes que há alguma menção a civilizações do passado é em um planeta em outra galáxia que ainda está em um estágio evolutivo comparável a algum período da história terrestre.

De uma forma geral, viagens no tempo são fascinantes e tem aparecido com frequência no universo da ficção científica, porém devido aos constantes apelos a este tipo de história, fica difícil fazer alguma coisa criativa, sem cair no lugar comum de outras histórias similares. Histórias de viagem no tempo quase sempre caem em cima dos paradoxos do tempo (e Star Gate: Linha do tempo não é exceção), como o paradoxo do avô (o que aconteceria seu viajasse pelo tempo e matasse meu avô?), ou o encontro consigo mesmo em épocas ou realidades diferentes, levados às últimas consequências na excelente série De volta para o futuro.

Isso demonstra a dificuldade de produzir material novo, o que fez os produtores de Star Gate evitarem o assunto nas séries tradicionais.

Neste longa, o resultado é apenas razoável, com uma dose de aventura, algumas ousadias de roteiro (que levou os produtores a construir em estúdio um navio dos anos 30 e fazer tomadas no ártico) e uma leve menção ao paradoxos clássico na viagem no tempo.

Ainda que haja ganchos que permitam a continuação, creio que dificilmente alguém pensará em transformar Star Gate: Continuum em seriado.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Fringe

Ficha Técnica
Fringe
Elenco: Anna Torv, John Noble, Kirk Acevedo, Joshua Jackson, Lance Reddick, Mark Valley
Duração: 80 min (episódio de estréia)
Canal: Fox

Sinopse: Durante o vôo 627, todos os passageiros e tripulantes morrem misteriosamente, atacados por um agente biológico desconhecido. A investigação fica a cargo de várias agências sob comando de Phillip Broyles (Lance Reddick). Entre os agentes chamados estão Olivia Dunham (Anna Torv) e John Scott (Mark Valley), agentes do FBI. Durante as investigações, John Scott se contamina com o mesmo agente biológico. Com a ajuda do Dr. Walter Bishop (John Noble), cientista brilhante com um passado tenebroso, e do filho dele, Peter Bishop (Joshua Jackson), rapaz brilhante, porém com fatos bastante obscuros em sua vida, Olivia fará de tudo para salvar o parceiro e, de quebra, tentar resolver o mistério.

Criada por J.J. Abrams (o mesmo de Lost), Alex Kurtzman e Roberto Orci, a série Fringe, graças ao uso de algumas pesquisas reais de ciência limítrofes, caiu no agrado dos fãs de ficção científica clássica, mais voltados para a ciência do que para a ficção.

Por exemplo, neste piloto, o ataque de uma doença virulenta e extremamente rápida é altamente plausível. Em outra cena, Olivia fica imersa num tanque de privação sensorial para tentar se conectar telepaticamente com o inconsciente do parceiro. O tanque de privação sensorial foi muito usado nos anos 1970 e 1980 em pesquisas sobre o comportamento do cérebro. Também nos anos 1970, a parapsicologia ganha o status de ciência e o Instituto Rhine fez pesquisas sobre telepatia, usando aparelhos de eletroencefalograma para monitorar a atividade cerebral dos envolvidos, verificando o grau de sincronismo entre eles (como na cena do episódio). Um dos personagens tem uma prótese inteligente que substitui um membro amputado, como o braço de Luke Skywalker (a série só coloca mais inteligência e flexibilidade em algo que já existe).

Isso não é coincidência: Fringe é um termo usado em ciência por designar a chamada ciência limítrofe, aquela que trata de pesquisas e tecnologias baseadas em especulações ou tecnologia de ponta ainda em desenvolvimento, como paranormalidade, genética avançada, inteligência artifical, pesquisas aplicadas com ética duvidosa e outros temas.

Ao longo do episódio, o espectador percebe que a trama ultrapassará um mero ataque terrorista a um avião, envolvendo corporações misteriosas, agentes de organizações supranacionais de origem desconhecida, agentes duplos, etc. A sensação é de estar vendo uma mistura de Lost com Arquivo X. Afinal há um avião envolvido em um acontecimento misterioso, uma corporação, a Massive Dynamic, que faz pesquisas de tudo, deste próteses inteligentes a remédios para doenças raras, tem uma dupla de agentes do FBI, um homem e uma mulher, e você não pode confiar nem na sua sombra.

Pontos fracos

– Há um conflito de personalidades entre o chefe da operação, Phillip Broyles, e a agente Olivia Duhan, muito estereotipado. A agente prendera um amigo dele algum tempo antes e ele guarda rancor, mas tem que engoli-la nas investigações. Quando o conflito surge em cena, parece que os atores estão lendo uma série de carimbos, de tão padronizado que é.
– Astrid Farnsworth, assistente de Olivia, mais parece um poste, apenas presente na maioria das cenas como um dos móveis e utensílios. Eventualmente faz alguma pergunta ou comentário estúpido, para ser esclarecida por um dos personagens. Seu papel parece ser o de um Dr. Watson, o assistente de Sherlock Holmes, que permite ao autor explicar algumas coisas, sem recorrer a palestras científicas. Dr. Watson, porém, tinha substância, enquanto a pobre Astrid parece ter sido esquecida pelos roteiristas e diretores, sem ter muito que dizer ou fazer.

– Alguns diálogos entre Peter Bishop, Walter e Olivia, quando ela está prestes a tentar alguma solução arriscada, são bastante fracos. Peter, o filho do professor, parece um grilo falante psicodramático, alertando-a da instabilidade psicológica do pai, com uma raiva mal representada. E Olivia cede à argumentação do professor Walter, sem ao menos perguntar quais os riscos reais.

Pontos fortes

– A verossimilhança científica é o principal ponto forte, ainda que toque em temas controversos, como telepatia.

– Os efeitos especiais das cenas do ataque viral no avião são excelentes.

– A executiva principal da corporação Massive Dynamic, Nina Sharp, que provavelmente será a principal vilã da série, foi muito bem caracterizada pela atriz Blair Brown. 


Publicada orignalmento no Homem Nerd 
em 10/11/2008, antes da estréia da série

O Clássico Castelo de Wolfenstein

Jogos em primeira pessoa em ambiente 3D são bastante comuns hoje em dia, porém em 1991, apesar de já existirem jogos com algumas das características que hoje compõe este tipo de game, O Castelo de Wolfenstein, foi o primeiro que reuniu os principais elemento que hoje estão presentes em Doom, Nuke, Counter e Halo e muitos outros.




A origem deste jogo é O Castelo de Wolfenstein, para Apple II, de 1981, que apresenta o mesmo tipo de enredo, mas era em 2D, em terceira pessoa, visto por cima. Este jogo introduziu som de tiros e alguma coisa parecida com vozes (os alemães gritavam ao morrer, falavam algo que soava como "Heil Hitler" e "SS"). 



Lançado para a plataforma DOS, com gráficos pra lá de toscos, o jogo surpreendeu pela inovação. Era a primeira vez que alguém podia se sentir andando pelos corredores, correndo um risco de tomar um tiro. Distribuído em shareware, o jogo rapidamente ficou popular .
A ambientação é o interior de um castelo Europeu, transformado em fortaleza nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Um soldado aliado está infiltrado neste castelo e precisa sair o quanto antes. O jogador "encarna" o soldado. 



O enredo é bastante simples, do tipo "ande do labirinto", "mate tudo que se mexa", "recolha o que puder", "mate o chefão" e "saia o mais rápido possível, vivo". Para garantir o interesse, o jogo, ao término de uma fase, dava um inventário do que o jogador fizera do tipo: matou 78% dos inimigos, percorreu 58% do labirinto, descobriu 20% das passagens secretas, etc..
Também, além das fases, havia vários "episódios", com missões diferentes, sendo que a última era matar Hitler (que vestia uma armadura e usava uma metralhadora giratória).
O jogo era bastante divertido e rendeu horas agradáveis para meus filhos e eu e também algumas disputas pela posse do PC... 

Está anunciado em pré-produção o filme O Retorno do Castelo de Wolfenstein, com a direção e roteiros de Roger Avary, roteirista de Beowulf e co-roteirista de Pulp Fiction

Para saber mais sobre o jogo, clique:
Site oficial da ID software, produtora do game
Página de downloads de vários jogos 3D retrô.
Site oficial da versão nova, Retorno ao Castelo de Wolfenstein.


quarta-feira, 17 de março de 2010

Pastelão ou Solitário Nunca Mais

Ficha Técnica

Pastelão ou Solitário nunca mais (Slapstik or Lonesome No More!)
Autor:
Kurt Vonnegut Jr
Editora: Círculo do livro
Páginas: 180
Ano:
1987

Sinopse: "Autobiografia" do último presidente dos Estados Unidos, Dr. Wilbur Narciso-11 Swain, contada desde sua infância, quando ele e sua irmã gêmea Eliza foram isolados por seus amados pais em um asteróide por serem extremamente altos e feios e supostamente retardados mentais (eram classificados como neandertalóides). Sua vida muda quando decidem contar para os outros que na realidade são inteligentes, desde que estejam juntos, pois ambos formam por ligações telepáticas um único ser. Tudo será feito para mantê-los separados um do outro. Wilbur consegue, ao longo dos anos, superar suas supostas deficiências e aprender medicina e, por fim, se tornar presidente de um EUA decadente e distópico, após um súbita instabilidade da constante gravitacional da Terra.

Kurt Vonnegut Jr. é conhecido pelo seu humor corrosivo e cínico, que não poupa ninguém nem a si mesmo. Ele escreveu este livro em 1976, quando tinha 54 anos e começara a se sentir "dobrando o cabo da boa esperança" (um exagero, pois ele morreu em 2007, com 84 anos) e traça um paralelo entre o envelhecer e a decadência dos Estados Unidos, fazendo um retrato crítico agudo de valores da sociedade americana.

O título do livro parece estranho para um romance de ficção científica. O autor explica logo nas primeiras páginas a razão da palavra Pastelão: é uma homenagem aos filmes do Gordo e o Magro, que lutavam as batalhas do dia-a-dia com dignidade, mesmo quando se davam mal. Este tipo de comédia tem o dom de nos fazer rir de nosso sofrimento, coisa que ele busca fazer no romance.

E Solitário, Nunca mais! trata-se do slogan de sua campanha para presidente. Ele e sua irmã, quando tinham acesso à genialidade de seus cérebros trabalhando em comunhão, analisaram a sociologia dos EUA e concluíram que, para resolver o problema dos Americanos, sempre solitários, seria necessário criar familias expandidas para eles de forma artificial. Assim todos sempre teriam parentes com quem contar.

Fazendo humor com situações, com a linguagem e com conceitos, Kurt Vonnegut Jr. compõe um livro magistral, um retrato sem retoques da velhice, do relacionamento familiar e da hipócrita sociedade americana.

A Ciencia desvairada dos Nazistas

George Orwell, em seu 1984, coloca uma forma de pensar dos membros de O Partido, da qual o duplipensar era parte integrante. A estrutura filosófica imaginada por Orwell, apesar da criatividade de seu autor, não veio do nada. O autor de 1984 inspirou-se na filosofia e na ciência nazistas. 




Quem leu o livro pode simplesmente ter pensado que seria altamente improvável alguém ser tão louco a ponto de achar que aquela filosofia pudesse ser verdadeira. Afinal, era apenas ficção. Entretanto, na Alemanha nazista, os ideólogos do partido criaram um corpo de ideias que parece ter saído do diário de um lunático. E essa ideologia foi adotada por um grande grupo de pessoas, inclusive cientistas de renome. 


Não estou falando aqui das teorias racistas nem das cobaias humanas. Estou falando da física, em especial da cosmologia.


Segundo Jaques Bergier, no seu livro O Despertar do Mágicos, um dia Hitler convocou sua equipe para que se encontrasse uma teoria de base científica sobre a qual se pudesse construir uma nova ciência, livre dos paradigmas da ciência ocidental. 



Isso seria possível, pois se levarmos em conta o pensamento de Thomas Khunn, só podemos construir um conhecimento através de modelos aproximados da realidade. Construímos uma teoria que poderá ser valida até que um fato ou um experimento crucial a desminta. Somos também baseados numa tradição. Uma nova teoria deve explicar tão bem o mundo quanto a teoria que ela derrubou. Por exemplo, a Teoria da Relatividade explica também o movimento de um trem, tal qual a Teoria de Newton. O paradigma de Newton continua sendo válido para um mundo mais restrito. 


O que Hitler desejava era desprezar esta tradição, criando uma do zero.
Bergier nos conta que Hitler teria dito:


– A Nova Ciência não precisa ser verdadeira, basta ser convincente. 



A primeira candidata foi a Teoria da Terra Oca. Segundo esta teoria, nos não vivemos no lado de fora da crosta terrestre, mas sim no seu lado de dentro. A gravidade seria a força centrifuga que nos manteria afastado do centro. O que víamos como céu seria uma ilusão. 




Os nazistas chegaram a fazer um experimento para provar isso. Um navio colocado em uma posição da calota poderia receber um sinal de luz de um colocado no extremo oposto.
É claro que a experiência fracassou e o pobre do criador da teoria foi parar num campo de concentração.


Chegou a vez de Hans Horbiger, que criou uma cosmogonia baseada no seguinte princípio: o universo é formado por dois princípios, fogo e gelo, que estão em eterna luta (como nas tradições Vikings, outra coisa que Hitler queria ressucitar). Essa luta determina a vida e a morte do universo, num eterno renascimento. 


 Hans Horbiger


Outro ponto de sua teoria é que nossa lua representaria o gelo, e um dia cairia sobre a Terra. Esta seria a quarta lua. Outras três já teriam caído sobre a Terra, causando a conformação da Terra como a conhecemos hoje.


A órbita do nosso satélite na realidade seria um espiral, que a cada volta da lua a aproximaria mais e mais até que um dia haveria o colapso fazendo-a cair sobre nós. Antes, contudo, haveria diversas catástrofes causadas pelas marés. Por outro lado a presença da lua alteraria o DNA dos animais e plantas, fazendo surgirem novas espécies. O ser humano também sofreria uma mutação, tornando-se mais forte, para resistir aos cataclismas. A término no processo, haveria uma raça forte pronta para herdar a Terra. Finalmente, o satélite iria se fragmentar em pedaços deixando a Terra circundada por um anel.


A raça humana que vive na Terra seria formada por herdeiros de vários estágios pelos quais a Terra passou. A civilização judaico-cristã, que hoje habita a maior parte, teria perdido contato com seu passado glorioso. Caberia à chamada raça ariana o resgate deste passado. Eles são portadores do fogo, e apenas eles poderão derrotar o gelo.



Esse é um resumo bem simples da teoria de Horbirger. O povo alemão tinha aulas desta filosofia pelo rádio. Isso era ensinado nas escolas e era cobrado dos cientistas um compromisso de aceitarem como verdade os seus dogmas. Horbirger era aclamado como um novo Copérnico.

Como um povo inteiro pôde acreditar numa teoria destas? Em primeiro lugar, todo este discurso, como toda a filosofia nazista era propagada de forma emocional, com ênfase no "povo alemão que venceria o gelo". Outro fator, é que ela é centrada na cosmogonia, algo bem distante na vida prática do cidadão comum, ou mesmo de um cientista de outro ramo do conhecimento. Não é muito diferente do big-bang, por exemplo. Ou seja, tanto faz se ocorreu ou não o big-bang, que o sol brilhará amanhã e a equação da fotossíntese continuará igual. Bem diferente da Terra Oca, da forma como foi proposta, onde uma simples viagem de navio a tornaria difícil de engolir.


A teoria funcionou muito bem para dar consistência e coerência a outros pontos do discurso nazista, porém foi uma das responsáveis pela derrota dos alemães na Segunda Guerra Mundial.


Boa parte dos analistas aponta a invasão da Rússia no inverno como uma das principais causas da derrota nazista. No entanto, mais do que seu exército foi derrotado: toda uma população que acreditava na vitória do fogo sobre o gelo perdeu qualquer esperança. Qualquer discurso, a partir de então, não faria o mesmo efeito. Sem contar o fato de que há uma forte probabilidade de Hitler ter tomado esta decisão para simplesmente reforçar as teorias de Horbiger! Não que ele realmente acreditasse em tamanha bobagem, mas ele acreditava realmente na superioridade de seu exército em qualquer circunstância.


George Orwell pegou ainda um outro aspecto da filosofia de Horbiger. Os cientistas comprometidos com o nazismo tinham que lidar com um conflito de ideias difícil de conciliar. A maneira era separar no cérebro, em compartimentos estanques, as duas formas de pensar, usando ora uma, ora outra, conforme a necessidade. Não se trata de simples hipocrisia, pois ao assumir cada um dos lados, o cientista realmente acreditava naquilo, como em 1984.


Mas e você? Realmente acredita em tudo isso ou está duplipensando?

terça-feira, 16 de março de 2010

O Livro dos Contos Enfeitiçados

Ficha Técnica

O Livro dos Contos Enfeitiçados
Autor: Martha Argel
Editora: Landy
Páginas:
166
Ano:
2006
 
Sinopse: Em sete contos, Martha Argel nos conta histórias sobre bruxas.

A bruxa como personagem fantástico habita o imaginário humano há muito tempo, sendo o vilão principal dos contos de fadas. A partir dos anos 60, contudo, a bruxa deixou de ser apenas vilã para lutar ao lado de fadas e magos, exercendo um novo papel na literatura, tiradas do ostracismo com a crescente liberação das mulheres.

Dentro desta perspectiva transcorre esta série de contos. Tem em comum também que, na maioria deles, algumas mulheres nascem bruxas e são despertadas.

Em "Amarelo, Amarelo", uma mulher tem que tomar conta da sobrinha por alguns dias, justamente quando tem que ir à Festa (assim mesmo, em maiúsculo). O gosto extremamente exagerado da menina pela cor amarela dá (literalmente) o tom ao conto. Nele notamos a habilidade da autora em contar a história desvendando pouco a pouco tanto o caráter da tia como da sobrinha e dando um desfecho bastante bom que pode surpreender alguns leitores

Em "Eu detesto futebol", temos uma narrativa bem humorada de um problema comum para maioria das mulheres: o rival futebol. Numa convenção de bruxas, que também tinham este problema, elas resolvem com um feitiço poderoso suprimir o futebol da história do mundo, obtendo resultados inesperados.

Em "O Verdadeiro Poder", a autora conta uma legítima história de bruxas e bruxos, com batalhas contra entidades malignas. Neste conto, Martha Argel demonstra conhecer bem, pelo menos em teoria, a Grande Arte.

O humor volta em "O Olho vermelho", onde um alarme baseado em um sensor de movimento leva o hospede de um quarto a imaginar coisas apavorantes.

Ainda no viés humorístico, temos "Final Feliz", que nos mostra um conto de fadas, contado de outro ponto de vista: será que casar é viver feliz para sempre?

O conto que dá nome ao livro, "O Livro dos Contos Enfeitiçados", entra pela ótica do terror. Um livro escondido dentro da biblioteca de uma escola, segundo lenda que os estudantes contam, pode prender o leitor para sempre, vivendo seu pior pesadelo.

Fechando o livro, temos o conto "Sofia", onde uma jovem fica sozinha no fim de semana de seu aniversário e terá muito que contar depois, se alguém acreditar. Um clássico de batalhas entre bruxas, muito bem escrito.

O livro é agradável e de fácil leitura, garantindo bons momentos de prazer para quem gosta de literatura fantástica.

Nerdshop:
O Livro dos contos Enfeitiçado , de Martha Argel (Landy Editora):

Sempre Trapalhões




Comecei a ver Os Trapalhões quando criança, em sua formação original, que, segundo me lembro, era: Didi, Dedé, Wanderley Cardoso, Ivon Curi e Ted Boy Marino e passava primeiro na extinta Excelsior, depois na Record, muito antes dela ser de Edir Macedo. 

O humor era típico da época, ou seja, "espetáculo filmado": uma peça relativamente longa (cerca de uma hora) exibida num teatro e transmitida ao vivo ou em vídeo tape, sem edição. 

A peça pouco importava, pois era penas uma forma de costurar gags ou permitir o improviso. O cenário era precário o que permitia principalmente a Renato Aragão improvisar em cima das falhas, como na vez em que esconde a arma sob um tapete que fazia o papel de "gramado". E o texto "mal" escrito permitia que Didi fizesse a plateia rir ao propositadamente embaralhar as falas, como no dia em que, numa "dramática" cena de assalto, disse:

-- Quem se chumbar levará mexe!

Não me lembro quando exatamente vieram Mussum e Zacarias, mas lembro deles na extinta TV Tupi (hoje SBT). Eles eram humoristas, não apenas escadas e, lentamente, o programa passou a ser formado por quadros, tanto com todos os quatro como com um solista, normalmente Didi ou Mussum.

A crise da Tupi levou o quarteto à Globo. A Globo tentou enquadrá-los no seu "padrão de qualidade", com redatores profissionais, efeitos especiais e tomadas externas, mas não deu resultado. A emissora teve que se render ao humor mais simples e que funcionava. E ainda funciona.


Eu cresci e me tornei pai e como parte do meu papel estava em levar meus filhos ao cinema. Os Trapalhões então entravam no cardápio. No cinema se tornaram mestres primeiro em avacalhar clássicos da literatura infanto-juvenil, como a Ilha do Tesouro e, depois, de block busters como Planeta dos Macacos e Guerra nas Estrelas.


Alguns filmes eram verdadeiros trash, como Os Trapalhões na Terra dos Monstros, que teve a participação de Gugu Liberato, outros tinha uma qualidade mediana e alguns ultrapassavam as expectativas, um enredo mais elaborado e mais qualidade na direção e na fotografia. 



Eu tenho na memória como o melhor filme deles O Casamento dos Trapalhões, onde o quarteto faz uma adaptação cheia de humor do filme Sete Noivas para Sete Irmãos



Esta nunca foi "uma obrigação de pai", já que eu gostava do grupo e ria junto com meus filhos das piadas ingênuas e às vezes recicladas inúmeras vezes.

De qualquer forma, era muito divertido, e havia sensação de cumplicidade, onde meus filhos viam o que queriam e eu fingia estar apenas acompanhando e me dava ao luxo de ter de novo apenas dez anos.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Kaori - Perfume de Vampira

Ficha Técnica
Kaori – Perfume de Vampira
Autor:
Giulia Moon
Editora:
Giz Editorial
Páginas:
370
Ano:
2009

Sinopse:
No Japão do período Tokugawa, Missora, proprietária de um Kinjurô (estabelecimento de prostituição), tenta comprar a bela jovem Kaori, apesar da resistência sistemática do pai da moça. Em São Paulo, de 2008, Samuel, um vampwatcher, observa e cataloga "espécimes" de vampiros para um obscuro instituto de pesquisas (Instituto Brasileiro de Estudo de Fenômenos Fantásticos, que mais parece um órgão de um serviço público). Logo as histórias de Kaori e Samuel se cruzarão transformando a então pacata vida do mero observador numa verdadeira aventura infernal. Mas terá sido a primeira vez?

Giulia Moon, contando ora uma ora outra história, desvenda pouco a pouco tanto a história de Kaori como a de Samuel e o que liga a vida de um ao outro, descortinado criaturas da noite da mitologia japonesa, como os Tengus (seres meio passáro, meio homem), o Nekomata (um aterrorizante gato gigante com duas caudas, que pode se apoderar de cadáveres como marionetes), e principalmente o Kiuketsuki, vampiro japonês, ao lado de criaturas da tradição ocidental vampirica, e de seres provavelmente imaginados por ela, como os famélicos, uma espécie de cães que vivem dos restos dos vampiros e podem assumir a forma humana (um lobisomem às avessas).

O livro tem muitos méritos: a cuidadosa pesquisa de tradições japonesas e do período Tokugawa, de meados do século XVII e a meados do século XIX; a ambientação perfeita dos locais e personagens em São Paulo, trazendo para uma realidade palpável ao leitor o conflito entre humanos e vampiros; a criação de personagens densos e verossímeis; e uma trama emocionante, conduzida com maestria.

Seus personagens merecem destaque, sobretudo Kaori, cuja face doce e angelical tem como contraponto sua sede de vingança e sangue, que às vezes a transforma numa assassina fria e cruel. Há ainda sua inimiga, Missora, um retrato da crueldade levada a extremos. O pintor Antonio Calixto, que soube retratar esta crueldade (aliás o nome Calixto é bem escolhido, pois é sobrenome de um pintor brasileiro do século XIX, Benedito Calixto, fazendo o leitor tentar estabelecer uma possível relação de parentesco entre eles); o samurai Kodo, um guerreiro cheio de lealdade, coragem e compaixão; as vampiras sádicas Yuki e Fuyu. Do lado brasileiro, temos Samuel, o vampwatcher, que quer no início apenas fazer seu trabalho e ser pago por ele, sem querer se envolver muito, embora esteja envolvido até o pescoço; os vampiros Karl e Felipe, gananciosos e poderosos, inimigos à altura de Kaori; Mimi o vampiro afeminado, mas que sabe se virar muito bem no meio de um conflito; Sidney, o executivo burocrata que apenas segue regras bem fixadas e raramente age por impulso ou compaixão e com uma habilidade zero fora da escrivaninha, Beatriz, a bióloga que estuda os famélicos com uma paixão que transcende o interesse científico.

Vale destacar também as cenas de ação, tanto na história nipônica, como na brasileira, com um final realmente cheio de ação.

Nerdshop:
Kaori - Perfume de Vampira, de Giulia Moon (Giz Editorial)

domingo, 14 de março de 2010

Banquete de Contos e Poesia

Ficha Técnica

Banquete de Contos e Poesias
Autor: Alberico Rodrigues
Editora: Mentes Raras
Páginas: 150
Ano: 2008

Sinopse:
Entre histórias que contam reminiscências de infância e adolescência, contos e poesias ligeiramente autobiográficos sobre o ofício de escrever, encontros com histórias por vezes cruéis da cidade de São Paulo, a coletânea navega, trazendo por meio de uma linguagem fluída, a visão que o autor tem da vida.

A fluência da linguagem simples de Alberico Rodrigues é a principal característica deste livro. Os contos trazem muitas vezes um humor irônico, como Ovo Amigo, em que um escritor esfomeado debate consigo mesmo se deve ou não comer o ultimo ovo que tem na geladeira, ou do escritor sem inspiração, em Ociosidade do Escritor, que sai pela cidade em busca de algo e volta carregado de histórias que ele mesmo vivencia, ou O Poeta Andarilho, que finge ter uma mensagem importante para conseguir sobreviver. Ou o casal que discute infindavelmente mas se mantém junto em Obstinação.

Outra vezes, como em Pão e em Toninho, um destino previsível, a crueldade da cidade grande que forma marginais é duramente retratada, sem simpatias ou condenações prévias, onde, como o autor, nos quedamos impotentes ante a força maior da cidade.
Impotência esta que ele tenta compensar com uma atitude pessoal de luta como em Antonildo versus Mundo-Monstro, onde o personagem se recusa a ser derrotado pelo mundo. Ou quando tenta criar um cenário utópico neste nosso mundo em um futuro longínquo em Um flash no mundo dos humanos em 2220.

Fugindo um pouco a este tom, Alberico continua com um conto policial, com pinceladas bem humoradas, Uma ocorrência policial com um tour-guide.
Há, ainda, um conto de horror, muito bem escrito, A Sanha dos Gatos, onde um gato maltratado clama por vingança e é ouvido.

Em O popular Fernando, Alberico procura homenagear um amigo. Ooo.... Zé Batalha é um conto onde ele retoma um personagem de seu romance, Zé Batalha, um herói de minha infância. Como característica principal temos justamente o reforço de uma memória de criança. 

O conto seguinte retrata outra lembrança, desta vez de adolescência, onde o personagem principal relembra saudoso a primeira mulher que o seduziu.

Fechando a coletânea de contos, um triângulo amoroso não muito clássico: Dayse, José e Joana, onde o tempero é justamente ingenuidade de José. 

Após os contos, vem um grupo de poesias.

Nas duas primeiras (Adeus, so long, au revoir e Meus vinte anos) percebe-se por vezes um desencanto com a humanidade e com a própria vida. Esse desencanto como se apreende de sua leitura não parece ser muito bem aceito pelo próprio autor, que às vezes tenta negá-lo ou busca compensá-lo de alguma forma, tentando devolver a fé senão na humanidade, pelo menos em alguns homens.

Flash Paulistano mistura reminiscências de seu passado com o burburinho de São Paulo. Em O Silêncio, o poeta brinda o Silêncio como a companhia ideal pra quem escreve.

Em Mãezinha Querida o autor rememora um dos últimos encontros que teve com sua mãe.

Fechando o livro, com Mensagem Otimista, o autor busca ainda uma ultima palavra ao leitor dizendo que, apesar de tudo, ainda há esperança.

sábado, 13 de março de 2010

Avatar

Avatar
Direção:
James Cameron
Roteiro:
James Cameron<
Elenco:
Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang
Duração:
162 minutos

Sinopse:
Jake Scully, ex-fuzileiro paraplégico, embarca em uma missão ao planeta Pandora. Nesse planeta, uma companhia mineradora explora um raro mineral, que está concentrado em áreas habitadas pelo povo autocne. A missão de Jake e de outros recrutados para o mesmo fim é "pilotar", avatares que são cópias dos habitantes do planeta, com o objetivo de "diplomacia" (ou melhor, espionagem). 

A primeira coisa que se nota no filme é que não são só os avatares que são cópias, mas o enredo e algumas cenas parecem uma colcha de retalhos mal-costurados de cópias. Em primeiro lugar, um paraplégico que volta a andar habitando um avatar ou ambiente propício lembra Pequenos Espiões 3 e Lost. Os pilotos quando acordam tem seus olhos focalizados lembrando... Lost. A conexão lembra Matrix. Os avatares lembram os Evas de Evangelion (a única diferença é que a conexão é exterior, e não interior).

Tem os estereótipos também: o Coronel que acaba se tornando o vilão principal é o milico de sempre, truculento, que só sabe lutar; a cientista brilhante e dedicada, mas tão ingênua que não percebe que está sendo usada; o executivo que só pensa em lucro (que ultimamente tem substituído o antigo cientista louco como vilão de plantão) e o herói que resolve tudo.
Alerta de Spoiler: o próximo paragrafo revela detalhes da trama

E enredos "manjados": o infiltrado que resolve mudar de lado ao simpatizar com os nativos, mas acaba sendo rejeitado como traidor por ambos os lados. O envolvimento com a mocinha, já prometida a outro da tribo, etc. Ou o povo tecnologicamente superior que despreza e destrói os supostos selvagens (será que é dor de consciência dos americanos?).

O filme poderia ter uma duração um pouco menor, visto que acaba cansando o espectador. No meu ponto de vista, a ação demora a acontecer, com cenas desnecessárias no começo do filme que poderiam ser abreviadas. Por exemplo, o "drama" da morte do irmão do protagonista pouco acrescenta à história e poderia ser suprimido.

Como ponto positivo, o filme tem algumas boas sacadas, como os cabelos em trança que terminam em pequenos tentáculos que se conectam a qualquer ser vivo, como um verdadeiro cabo USB biológico.

Avatar também apresenta uma boa caracterização de uma biologia extraterrestre, com soluções interessantes para o voo (há um lagarto que voa como um helicóptero, girando a cauda; repteis alados com dois pares de asas) e um bom conjunto de predadores e montarias.

As cenas de ação também são bem construídas e emocionantes.

Os efeitos especiais em 3D são muito bons, bem ajustados às cenas. Os produtores introduziram legendas, novidade em exibições de filmes 3D. Uma boa inovação, se bem que em algumas cenas fica difícil a leitura.

Também foi bem caracterizada a visão xamânica do mundo, que seria um contraponto perfeito para a visão tecnicista tanto dos cientistas quanto dos executivos mineradores, não fosse o excessivo maniqueísmo do filme.

Em suma: vale (muito) pelos efeitos e pela ação. Esqueça a trama e personagens mal feitos.

Veja o post no blog do Homem Nerd sobre as nossas primeiras impressões. 

E também a reação de Hittler à sua indicação ao Oscar...

Vampiros de Almas

Ficha Técnica

Vampiro de Almas ( Invasion of the Body Snatchers )
Direção: Don Siegal
Roteiro: Daniel Mainwaring, Jack Finney
Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter, Larry Gates, King Donovan
Duração: 80 minutos


Sinopse:
Médico retorna à sua cidade após participar de um congresso. A cidade parece normal, mas começa a perceber pouco a pouco pequenos acontecimentos anormais como o cancelamento repentino de todas as consultas agendadas, restaurantes vazios e pessoas que afirmam que seus entes queridos são impostores. Pouco a pouco percebe que estas pessoas não estão alucinadas.

Vampiros de Almas, filme de Don Siegal, surgiu em 1956 e durante muito tempo foi menosprezado por estar associado à propaganda anticomunista, comum nos anos 50. Boa parte da ficção científica da época usava invasores alienígenas para retratar o "perigo comunista". Há vários indicativos disto no filme. Por exemplo, num determinado momento os impostores tentam convencer o médido, Dr. Milles, a se unir a eles para viver num mundo onde todos são iguais e sem problemas, mas não tem individualidade (imagem dos comunistas vendida pelo governo dos EUA).

Algumas releituras o aproximam ao outro lado, pois nos anos 50 havia o macartismo, onde o perigo era exatamente de você ser traído pelo seu melhor amigo e acusado de comunista apenas por gostar da cor vermelha.

O filme de Don Siegal extrapola muito estas duas visões, pois ela retrata o comportamento paranóico presente naqueles tempos, pois não importava o lado em que você estivesse, o outro era um possível inimigo.

O clima de paranóia permeia todo o filme, pois o espectador sabe desde o começo que há um perigo real, pois a narrativa é feita em flash back, temperada com um bom suspense. A dúvida sobre os entes queridos serem impostores é estabelecida nos primeiros minutos e a tensão é crescente, pois a postura inicialmente cética do médico vai sendo substituída pela sua certeza da transformação das pessoas. E o inimigo aparece travestido de seus amigos, policiais, secretária e por fim, de sua namorada. E o monstro, um ser vegetal vindo do espaço, só é apresentado após ter 2/3 do filme terem rolado. O espectador que não era paranóico, ficou...

Como obra de ficção científica de antecipação, apresenta a possibilidade da clonagem e as implicações disso. O clone do Sr X, ainda que tenha suas memórias e comportamentos é o Sr X ou outro ser?

Um excelente filme!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Watchmen e a 5a Dimensão

Alerta: contém spoiler importante de Watchmen.

Nos anos 80, eu já era um pai nerd e pensava num legado para meus filhos. Este legado foi formado, por Akira, Cavaleiro das Trevas, Crise das Infinitas Terras e Watchmen. Watchmen, de Alan Moore, sempre teve um lugar de destaque para mim. Quando eu li pela primeira vez, fiquei impressionado com a trama perfeita e o desfecho surpreendente.


Eu o reli muitas vezes desde então e fiquei bastante entusiasmado com a notícia de que ele estaria sendo filmado, com estréia marcada para março de 2009, há exatamente um ano, com um trailler que me fez vislumbrar um trabalho de transposição muito bom. O filme decepcionou-me um pouco, porém os quadrinhos continuam valendo a pena.


 
A notícia do lançamento do filme me levou a uma nova releitura. Foi quando ao ler o seu final, tive uma sensação de "já vi isso em outro lugar". E não foi pelas constantes releituras. A lembrança vinha de muito tempo atrás, mais particularmente de minha infância, de uma série que me tirou o sono muitas noites: 5ª Dimensão (Outer of Limits) .

Com pobreza de recursos, mesmo para os padrões da época, compensados com uma boa música e uma narração de arrepiar os cabelos do fim da espinha, os filmes de 5ª Dimensão tinham forte apelo da ficção científica e foram um marco, juntamente com seu concorrente, Além da Imaginação.

Uma postagem num grupo de discussões me reavivou a memória: havia um episódio que realmente tinha a ver com Watchmen. Tratava-se (veja bem o título!) de: Arquitetos do medo. (Archtects of fear).

Neste episódio, um grupo de cientistas, diante da ameaça nuclear, deduz que a única forma de acabar com a intenção do ser humano se autodestruir é todas as nações terem um inimigo comum, um alienígena com sede de destruição. 

O filme tem uma outra abordagem, já que a idéia de causar ao mundo um medo extremo é anunciada nos primeiros cinco minutos de filme, indo por água abaixo qualquer idéia de mistério.


A maneira que os cientistas encontram de fazer a farsa e transformar um deles, escolhido por um sorteio macabro, num monstro. A idéia era alterar toda a sua fisiologia pois, caso ele fosse capturado e morto, uma analise revelaria ser ele diferente de um ser humano.

A história se concentra no drama da transformação do cientista, causando um sofrimento físico e psicológico, já que, além de tudo, está prestes a ser pai. Para que o segredo não vazasse, é simulada a sua morte, quando os primeiros sinais da transformação se tornaram visíveis. O "alienígena" faz sua aparição e é ferido de morte por uma das testemunhas. 

O final é aberto, mas insinua-se que tudo foi por água abaixo (do mesmo modo que Watchmen), pois a esposa do cientista descobre a trama e ela tinha todos os motivos para odiá-los e revelar o segredo. 

 Arquitetos do medo ou Watchmen?

Coincidência? Pode ser. Porém o filme Arquitetos do medo foi ao ar em 1963, quando Alan Moore tinha dez anos e certamente deve ter ficado sem dormir naquela noite...