Ficha Técnica
Título: A Poção de Marte
Título: A Poção de Marte
Título original (russo): Марсианское Зелье
Autor: Kir Bulitchev, Victor Kolupaev, Olga Lariova
Prefácio de Valentin Tchelnokov
Tradução: Andrei Melnikov
Editora: Ráduga
Páginas: 316
Ano: 1986
Sinopse: Coletânea de contos de ficção científica russa, formada por uma noveleta, que dá o título ao livro, A Poção de Marte, de Kir Bulitchev, seguida por dois contos de Victor Kolupaev, Inspiração e Afinador de Pianos. Fechando o livro, O Planeta que nada tem para dar, de Olga Larionova.
Durante a guerra fria houve uma grande produção de Ficção Científica, no ocidente, sobretudo americana. Havia um clima propício para isso, criado pela corrida espacial. Neste período fortalece-se a ficção científica hard, onde os ícones máximos eram Isaac Asimov e Arthur Clarke, que, consciente ou inconscientemente, ajudaram a forjar a imagem de superioridade dos EUA nesta área.
Do outro lado da cortina de ferro também houve este boom de euforia. Mas pouco deste material chegou até nós. Lembramos com alguma dificuldade alguns autores (que nem russos são): Karel Capek e Stanislaw Lem.
Ao lado da dificuldade de acesso, temos o preconceito contra autores russos de literatura popular, pós revolução, que muitas vezes eram acusados de assimilar o cânone do "realismo socialista" com o objetivo de fazer propaganda do regime soviético russo. Talvez isso fosse verdade, mas não podemos pensar o mesmo de alguns autores americanos em relação "à liberdade só encontrada no regime democrático"?
Neste livro em particular (e em outros que li), esta presença do "realismo socialista" se está aqui é bem sutil, imperceptível até.
Na noveleta Poção de Marte, temos uma história centrada numa pequena cidade russa, Veliki Gusliar. Um acidente revela um subterrâneo com túneis ramificados. Um pequeno conflito surge entre o engenheiro responsável pelo asfaltamento da via, Kroneli Udalov e a professora de história aposentada, Elena Serguevna, que quer preservar a memória da cidade. Boa parte da noveleta concentra-se em como a rotina da cidade se modificou em função a este acidente, aparentemente longe de qualquer indício de se tratar de uma história de ficção cinetífica, apesar de interessante. A FC vai se insinuando quando Miliça Fiodorovna, uma senhora muito velha, que vive de seu passado, registrado num álbum com fotos e poemas a ela dedicados, se interessa pela galeria subterrânea.
A chegada de um amigo que ela não vê há muito tempo (50 ou mais anos) estabelece o mistério. Este lento descortinar é um dos méritos desta noveleta. O demérito está em seu título, que revela uma dos mistérios da trama. Sabemos de antemão que existe uma poção e que ela é extraterrestre. Talvez a intenção do autor fosse colocar um gancho para que o leitor, de quando em quando se perguntasse: onde raios está a poção de marte?
Seguem dois contos de Victor Kolupaev.
Em Inspiração, um pintor amador consegue por num quadro o acontecimento mais importante de sua vida, causando uma impressão muito forte em algumas pessoas que vêem o quadro.
Em Afinador de Pianos, um velho profissional desta arte realiza seu ofício, com uma maestria tal que sempre agrada seus clientes. Mas será só o piano que ele afina? Esta duas histórias são tudo, menos "realismo socialista". Chegam a ser poéticos e, em alguns momentos, lembram Ray Bradbury. Poderiam ser conto de fadas, mais fantasia que ficção científica. Duas pequenas obras primas.
Fechando o livro, está Planeta que nada tem a oferecer, de Olga Larionova. Este tem mais cara de FC tradicional: apresenta exploradores infiltrados num planeta alienígena. Uma boa abordagem da "síndrome do antropólogo que virou índio" e da incapacidade de uma cultura preconceituosa em assimilar o real valor de outra, que considera inferior. Sensível e emocionante.
Um destaque para o prefácio. Um bom ensaio sobre a FC, colocando-a no seu devido lugar, longe do preconceito que tinge alguns críticos, que a consideram "gênero menor". Vale destacar a seguinte frase: "A ficção científica é um poderoso incentivo para a imaginação, na medida em que destrói estereótipos, habitua as pessoas a não temer a palavra "impossível", ensinando a ver as coisas numa perspectivas inabitual."
Algumas curiosidades sobre a ficção científica russa.
Os livros eram traduzidos para o português (por russos) e editados e impressos na União Soviética. Eram exportados para Portugal e, de lá, alguns exemplares chegavam a o Brasil. Eventualmente eram enviados diretamente para o Brasil. Os livros eram subsidiados pelos estado soviético e chegavam aqui por preços bem baixos. O mesmo acontecia com alguns livros técnicos, sobretudo de engenharia.
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