Título: Espelhos Irreais
Autores: Ana Cristina Rodrigues (org.), Aguinaldo Peres, Ana Carolina Silveira, Daniel Gomes, Rodrigo Reis
Editora: Fabrica dos Sonhos / Multifoco
186 páginas
Sinopse: Coletânea de contos de fantasia, tendo como tema a realeza em mundos fantásticos.
A Fábrica de Sonhos é uma proposta que reúne leitores e escritores de ficção científica e fantasia que buscam um espaço para mostrar seu trabalho. Este livro é o primeiro trabalho em papel da Fábrica.
Um dos cuidados que tive ao fazer esta resenha foi levar em conta a inexperiência de alguns dos autores em colocar seus textos para o público em geral. Dar "a cara pra bater" é um dos méritos de cada um deles e só por isso já merecem elogios. O cuidado está em ser sincero e ao mesmo tempo não desestimular um talento nascente. Tentarei evitar a "síndrome de Monteiro Lobato" (que desestimulou Anita Malfati ao criticá-la).
O livro é formado por cinco contos, um de cada autor, tendo por base o tema da realeza. O título do livro Espelhos Irreais nos remete imediatamente à impressão de se tratar de um livro de fantasia; a palavra "irreais", porém, ainda que derivada de real, como rei, não nos remete de imediato à realeza. O que fica forte é a ideia de fantasia, mas não a de realeza. Só sabemos do mote que une os contos ao ler o prólogo, ou, para os que tem o hemisfério direito dominante, ao ver a ilustração da capa (em que a realeza está representada por uma torre refletida por um espelho).
Cada conto é precedido por uma breve biografia de seus autores para que o leitor consiga situá-los em um contexto e saiba com quem vai conversar.
O primeiro conto, de Aguinaldo Peres, "Os Três Trílios", nos traz um história construída como um conto de fadas que, apesar de usar vários elementos do gênero, consegue inovar ao construir personagens sem se prender a estereótipos. Ao longo da narrativa consegue surpreender o leitor em vários momentos. Uma boa história.
O segundo conto, "A Morte do Temerário", é de Ana Cristina Rodrigues, organizadora da coletânea e autora com bastante projeção na internet. Seu conto centra-se na figura histórica de Carlos, o Temerário, e as circunstâncias de sua morte, procurando dar um contorno heroico ao personagem através de uma explicação mágica para o acontecimento. Muito bem escrito e envolvente.
O terceiro, "Bohtu e o Elfo Negro", de Rodrigo Reis, conta a história do resgate do heroísmo adormecido do filho de um feiticeiro. O herói relutante tem que enfrentar um ser temível para vingar a morte e resgatar a honra de seus pais, além de salvar a cidade da presença maligna do elfo negro do título. O personagem e seus medos estão muito bem construídos e o final ultrapassa o simples derrotar do antagonista. Muito bom também.
O quarto, "Prelúdio", de Daniel Gomes, conta a história de dois mercenários que tentam resgatar uma princesa em busca de uma recompensa. A trama mostra-se maior do que eles podem supor.
Este é o mais longo e o mais fraco dos contos. A leitura foi para mim difícil e cansativa. A impressão que eu tive é a de uma narrativa coletada em uma mesa de RPG, em que o mestre tinha que fazer contornos mirabolantes para ajustar a história, estragada por um bando de jogadores rebeldes. Talvez por isso tenha ocorrido o excesso de descrição de ações, como se fossem turnos (um bate, outro apanha e depois vice-versa).
O último, "A Gênese de um Novo Mundo", de Ana Carolina, transporta para um ambiente de ficção científica a típica história de estabelecimento de uma dinastia por um pretenso rei corrupto, à custa de uma princesa herdeira e aparentemente ingênua. Uma história divertida e bem escrita, porém, com os personagens muito estereotipados. Isso não tira o brilho da narrativa, visto que a originalidade da autora está na ambientação em que o sangue real vira DNA e o reino, um novo planeta a ser colonizado, sem que nada fique forçado.
Destes autores, quatro já podem ir além, com voos mais altos (uns até já estão nesse caminho).
Quanto ao Daniel, seria bom ele buscar uma narrativa mais simples, escrever alguns contos curtos para aprender a ser sintético e um pouco mais coerente. Ajudaria se ele tiver um amigo leitor que se dispusesse a ler e apontar os defeitos, o que costuma-se chamar de leitor beta (não vale a mãe, que só vai falar bem, e nem o cunhado, que só vai falar mal).
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