terça-feira, 20 de abril de 2010

Padrões de Contato - Trilogia

Ficha Técnica
Título: Padrões de Contato – Trilogia
Autor: Jorge Luiz Calife
Editora: Devir
ano: 2009
Páginas: 646


Sinopse: Trilogia, composta por Padrões de Contato, Horizonte de Eventos e Linha Terminal, que conta história da evolução do homem a partir dos primeiros contatos com seres extraterrestres inteligentes até à descoberta da viagem temporal, percorrendo aproximadamente 1000 anos de história.

Jorge Luiz Calife é considerado o pai da ficção científica hard no Brasil, principalmente pelo seu pioneirismo ousado e a qualidade de seu texto. Nesta trilogia, pode-se perceber a imaginação de mãos dadas com uma especulação científica bem embasada. As explicações, quando necessárias, não tornam o romance pesado, já que em vez de explanar como uma aula, Calife prefere mostrar a maioria das vezes com ações acontecendo, o que torna a leitura excitante, mesmo para quem não está familiarizado com o que está sendo discutido.

Estes mil anos de história têm um ponto de ligação: Ângela Ducan, uma mulher que ao ter um contato com uma super inteligência extraterrestre se torna imortal. Cedo o leitor perceberá que Ângela não é um mero ponto de ligação, mas parte importante na construção de toda a trama.

O primeiro terço da obra, Padrões de Contato (que também da o título à Trilogia), trata principalmente de contato com seres inteligentes, a partir da Tríade, uma super inteligência de bilhões de anos, que apenas é mencionada com um fato já acontecido e plenamente aceito. O segundo contato é com uma nave, o Batedor. Ângela e sua amiga Michele, que tiveram um contato com a Tríade são consultadas por grupos diferentes para tentarem desvendar a que veio o Batedor. Neste ponto já vemos uma das características de Calife: o humor. O humor que ás vezes é tão sutil que está incorporado á aventura maior e pode passar despercebido ao leitor menos atento. No caso do Batedor, os supostos alienígenas têm uma imagem distorcida da humanidade (talvez nem tanto) pois captaram em seu caminho imagens muito antigas de programas de TV, alguns com conteúdo violento e pornográfico. Ou de alguns humanos aceitarem sem críticas uma profecia catastrofista feita pelos alienígenas.

A partir daí é uma sucessão de encontros e mais encontros com seres alienígenas de formas e processos biológicos bem variados, saindo do padrão humanóide e até das estruturas de carbono, que respiram oxigênio. Algumas sequer respiram.

A segunda parte, Horizonte de Eventos, que é o nome que se dá ao local em torno de um buraco negro onde ainda se podem perceber os fenômenos físicos, como se fosse um último grito de socorro da matéria que está sendo engolida por ele.

Nome muito bem escolhido, pois esta parte trata de alguns conflitos que surgem quando uma nave estelar relativística (ou seja, que sofre distorção temporal ao viajar em altas velocidades), dominada por militares, chega a um mundo pacífico, Éden 6, justamente quando estão prestes a enfrentar uma raça alienígena hostil.

A visão que Calife coloca dos militares é bastante caricata em relação aos militares do golpe de 1964 no Brasil. Compreensível, já que ele viveu os nossos "anos de chumbo", que ainda estavam acontecendo pelo menos enquanto ele escrevia o primeiro livro da trilogia. A nave não por acaso se chama Brasil e reproduz em seu interior todo o conflito da ditadura militar.
Ângela ganha a companhia de duas outras imortais: Dafne e Luciana, compondo um trinca, sob os auspícios da Tríade, que só faz as cosias de três em três.

Na terceira parte, Linha Terminal, Calife procura fechar a história trazendo-a do futuro longínquo para seu próprio tempo, um orweliano 1984, pelo menos no Brasil, ainda debaixo de uma ditadura militar, vítima de distorções sociais e violência urbana. O recurso é a viagem no tempo.

Neste fechamento, o autor faz dezenas de referências a séries de TV, livros e filmes de ficção científica, à cultura dos anos 80 e às revistas de ufologia, com muita força nesta época, quando os brasileiros estavam em busca de alguma esperança, nem que vinda do espaço.

Mais uma vez o humor esta presente, nas Amazonas de Vega, grupo militar formado por mulheres, oriundas de um planeta colonizado apenas por seres humanos do sexo feminino, que se reproduziam artificialmente por engenharia genética. Sua descrição lembra filmes B dos anos 40 e 50: "Belas e perigosas".

O termo "Linha terminal" é baseado numa frase de Sherlock Holmes; "Se após eliminarmos todas as soluções plausíveis para o mistério, o que sobrar será a verdade, por mais improvável que pareça". O autor coloca esta frase na boca de uma raça alienígena, que fecha dizendo "esta é a Linha terminal". Nada mais adequado pra fechar um livro de ficção científica.

Ao longo de todo o livro percebe-se muito claramente um a influência marcante da ficção científica hard, sobretudo de Arthur Clark. Éden 6, por exemplo, lembra muito a astronave Rama, do livro Encontro com Rama, do autor americano. A visão cosmológica quase religiosa de Clark, mostrada em 2001, Uma Odisséia no Espaço, e em O Fim da Infância também é compartilhada por Calife. Todavia, Calife tem brilho próprio, agregando visões novas e buscando rumos originais para a sua literatura.

Nerdshop:Padrões de Contato, de Jorge Luiz Calife (Devir)

3 comentários:

  1. Muito boa a resenha, Alvaro. Eu li a trilogia no começo desse ano e gostei muito também

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  2. O livro é importante para a ficção científica brasileira, no entanto o autor tem uma narrativa pobre, os eventos não estão muito bem interligados e percebi que o livro um, Padrões de Contato, deixou muita coisa no ar, incompleta e que depois nos dois livros seguintes - Horizonte de Eventos me pareceu melhor - ele adota uma linha mais coerente, sem extrapolar muito.

    A capa é ok, mas a Devir pecou muito na revisão. Encontrei vários erros na edição que comprei, não só de digitação como de concordância.

    O livro também tem sua pitada machista, onde as mulheres são lindas, esculturais, belíssimas, loiras, atléticas e ahh, claro, inteligentes. Ou seja, o autor deu preferência por falar dos atributos físicos das mulheres, ao invés de enaltecer sua inteligência, seu caráter. A própria personagem principal, Ângela Duncan, não tem nada de brasileira, ela me pareceu uma princesinha dos contos de fada que virou adulta e imortal, linda e de quebra inteligente, o que deveria não ser secundário, como o autor deixou.

    No mais, é uma trilogia mediana, não é tudo isso.

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    1. Um outro ponto de vista, respeitável. Não havia percebido o viés machista, nas ele tem o mérito de colocar como protagonista uma mulher, coisa rara na literatura brasileira, mais ainda na FC.

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