O
Brasil Fantástico – Lendas de um país sobrenatural
Autores:
Clinton Davidson
(org), Grazielle de Marco (org), Maria Georgina de Souza (org), André
Vianco (apresentação), Christopher Kastenmidt, Andreia Kennen, João
Rogaciano, A. Z. Cordononsi, Allan Cutrim, Mickael Menegheti, Maria
Helena Bandeira, Marcelo Jacinto Ribeiro, Vivian Cristina Ferreira,
Renan Duarte, Antonio Luiz M. C. Costa.
Ano:
2013
248
páginas
Sinopse:
Por inciativa da gestão 2012/2013 do Clube de Leitores de FicçãoCientífica, a antologia O Brasil Fantástico reúne
contos que tem por base a mitologia brasileira, recontada das mais
variadas formas e dentro dos mais variados enredos passando pela
aventura, pela ficção científica, pelo terror e até pelo humor.
A
Copa dos Mitos – Christopher Kastenmidt
Um
menino apaixonado pela mitologia brasileira e discriminado por causa
disso é convidado por um estranho, conhecido apenas por Ruivo, a ver
uma copa do mundo de um esporte diferente. Lá chegando vê uma
batalha entre mitos de várias regiões do mundo, e cada região tem
uma torcida organizada. Ele é o único torcedor do Brasil.
O
conto faz referências aos card
games,
no estilo de Yuggi-Oh, onde a estratégia consiste em combinar
atributos de uma equipe para derrotar outra. A crítica está
voltada à absorção de uma cultura estrangeira em detrimento da
nossa (detalhe, este conto foi escrito por um americano).
Um
enredo para público juvenil, que fala a linguagem desta faixa
etária, leva a crítica de forma positiva, pois não condena o uso
de cultura exterior e procura introduzir a nossa mitologia no
contexto dos card
games,
com suas referências às culturas orientais e europeias.
O
Filho da Mata – Andreia Kennen
Um
adolescente, Vinícius, com uma visão de mundo romântica não
consegue se adaptar aos desejos do pai de torná-lo parte do processo
de administrar a fazenda da família. Menosprezado pelo irmão, que
debocha dele chamando-o de “florzinha” busca refugio ouvindo as
histórias do velho Tenório, envolvendo mitos locais. Mas ele
descobrirá que as histórias são mais que histórias.
Aqui o fantástico se introduz no real trazendo o
leitor aos poucos para o mundo Tenório que depois passará a ser o
mundo de Vinícius.
Muito
bem escrito, tanto no envolvimento com o mito, como no drama pessoal
de Vinícius.
Entre
conspirações e monstros mitológicos – João Rogaciano
Uma
história que mistura muito bem três ingredientes: um mistério
policial, Um mito lusitano, o
Cavalum (um cavalo com asas de morcego que solta fogo pelas ventas)
e um mito brasileiro, o
boitatá. Leopoldo Cid, um detive incrédulo, mas que enxerga uma
possibilidade de lucro, aceita investigar as aparições do Cavalum
num castelo, proposta por uma linda mulher. O enredo segue de forma
bem humorada o estilo de policial
noir.
A
Mula do Cavaleiro Neerlandês - A.
Z. Cordononsi
Aqui
o mito brasileiro se mescla a um mito holandês de forma bastante
criativa. As duas lendas vão pouco a pouco sendo mostradas e quem
tem algum conhecimento vão perceber como elas caminham juntas. O
medo não tem nacionalidade. Não dá para estender os comentários
sem causar spoiller.
Amaldiçoado
– Allan Cutrim
O
filho de um alcóotra sofre muito nas mãos do pai e percebe que em
conversa s veladas de seu pai e sua mãe é tratado com se fosse um
amaldiçoado. Sua vida muda quando sua irmã é atacada por uma
entidade chamada A
Pisadeira.
O
conto combina muito bem algumas entidades do folclore brasileiro de
forma a construir uma boa história.
Terra
Amaldiçoada – Mickael
Menegheti
No
início do ano 1500 um grupo de espanhóis sobe o Rio Amazonas, em
busca da lendária cidade de Eldorado. São seguidos de perto por
criaturas da floresta, que atemorizam até os índios da região. Um
conto com bastante suspense e boa ambientação na mata.
Um
pequeno reparo, que não compromete a qualidade da narrativa: o conto
é narrado em primeira pessoa por um frade e de quando em quando a
palavra foco
no sentido figurado. Só que a palavra foco
só aparece após a invenção do telescópio, que ocorreu cem anos
depois e o sentido figurado é de uso muito recente, vindo da
literatura de administração. Isso causa um tropeço na leitura
tirando o leitor do clima criado.
No
seu todo, o conto lida bem com as lendas, os personagens e o clima de
suspense.
A
Sacola da Escolha – Maria
Helena Bandeira
O
conto é narrado como se fosse uma lenda indígena, e trata da
evolução de um personagem que, para resgatar seu passado, tem que
aprender a lidar com suas escolhas.
O
conto tem uma cosmogonia indígena da qual parte a narrativa que se
mistura uma "contação de causo" de um caçador que se encontra com
Boiúna, a cobra grande. Uma excelente narrativa recria com muita
habilidade, tanto numa forma de narrar quanto na outra, o clima de
fantasia.
A
voz de Nhanderuvuçu – Marcelo
Jacinto Ribeiro
Numa
realidade alternativa, retrofuturista, dois agentes ingleses têm a
missão de iniciar a exploração de uma jazida imensa de platina no
centro do Amazonas.
Chegam
a seu destino com um dirigível e uma tripulação treinada e são
confundidos com uma ajuda enviada para salvar a população de
terríveis acontecimentos: estão
sendo assombrados por entidades da floresta.
Um
mestiço resolve ajudá-los a encontrar o destino e a lidar com as
entidades, que conhece muito bem.
Uma
história bem construída e com um final surpreendente.
A
Bruxa e o Boitatá – Vivian Cristina Ferreira
Bruna
é uma bióloga marinha e deve ir à Florianópolis ajudar a
descobrir o que está dizimando as tartarugas no projeto Tamar.
Suspeita-se tratar-se de uma serpente, especialidade
de Bruna.
Porém,
sua mãe, sem nunca lhe dizer o motivo, a alertara para nunca voltar
à ilha. Cedo descobrirá o porquê do temor da mãe.
Aqui
há forte referência aos mitos de Florianópolis, considerada a Ilha
da Magia, com mitos herdados da Ilha da Madeira, que acabaram se
misturando a lendas indígenas.
Um
bom conto.
O
Rapaz Misterioso – Renan
Duarte
Como
Brás Cubas, esta história é contada por um morto, um latifundiário
do Amazonas.
Sua
rotina de homem poderoso é modificada com a chegada de um rapaz belo
e cativante que enfeitiça todos com seu jeito de falar, seduzindo as
mulheres e cativando os homens com histórias fantásticas.
Aqui
a lenda do Boto toma forma neste bom conto.
O
Padre, o Doutor e os diabos que os carregaram – Antonio
Luiz M. C. Costa
O
título traduz com muito bom humor o que acontece no conto.
Narrado
por um padre Ortodoxo como
se fosse um relado quinhentista, conta a história de como
ele e um cientista judeu foram capturados pelo que ele julgou serem
demônios, mas na realidade eram uma tribo de caaporas.
O
primeiro parágrafo nos coloca numa realidade alternativa, onde Dom
Sebastião é um Imperador, luta contra o Papa, que invadiu
militarmente Portugal. Entretanto, isso pouco importa para o enredo.
Provavelmente o autor colocou este conto dentro de um universo maior.
A
narrativa está centrada na mudança de filosofia do padre ortodoxo
(podia ser um católico, sem perda de coerência), que confronta seus
valores com os do judeu e do povo que o capturou.
Um
texto muito bem conduzido.
Conclusão
A
proposta de O Brasil Fantástico foi plenamente atingida. Os contos
estão num bom nível,
não fugiram da temática proposta e alguns deram um tratamento
original aos mitos.
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