Na esteira do livro O Efeito Sombra, estão começando a aparecer nas estantes das livrarias vários livros sobre o tema, mostrando o interese do público por este tipo de informação. Isso ocorre porque a auto-ajuda tradicional já deu mostras de cansaço, como bem ilustra a reportagem, Salvem a auto ajuda, publicada na Página da Cultura.
O Efeito Sombra deu origem ao ciclo das Sombras na literatura de psicologia e psicanálise destinada a não especialistas.
A causa da ressaca da auto-ajuda nos EUA está na crise econômica gerada justamente pelo excesso de otimismo no mercado. Não que auto-ajuda em si tenha provocado isto, mas a crise gerou uma onda de desilusão e frustração e um dos dedos acusadores aponta para este tipo de literatura. Sem contar o desgaste natural já que todos os autores tentam falar basicamente a mesma coisa.
Então nos voltamos para aquilo que esquecemos na ânsia de pensar positivo: o nosso lado negro. Ou no dizer dos analistas junguianos: a nossa Sombra.
Então nos voltamos para aquilo que esquecemos na ânsia de pensar positivo: o nosso lado negro. Ou no dizer dos analistas junguianos: a nossa Sombra.
O que seria esta Sombra? Aquilo que negamos em nós mesmos, ainda que seja parte da natureza humana. O exemplo mais claro é da sexualidade. Nossa sociedade impõe padrões de conduta que negam no todo ou parcialmente a manifestação livre e espontânea desta sexualidade (pode-se argumentar contudo que hoje já não “tanto assim”, mas o exemplo ainda vale). Um bem sucedido médico, bem casado, com uma vida tranquila, de repente se envolve numa orgia sexual com prostitutas. É a Sombra reprimida que explode. Anakin Skywalker virou Darth Vader.
Não pretendo aqui adentrar neste tema, mas apenas comentar alguns livros desta nova safra, que prometem mostrar, explicar e ensiná-lo a lidar com seu Darth Sidious interior antes que você vire Darth Vader.
Darth Sidious seduz Anakin para o lado negro da Força
O primeiro deles é Alimente seus Deuses e Demônios interiores de Tsultrim Allione, publicado pela editora Vida e Consciência. Este livro traz para o ocidente uma técnica tibetana de lidar com qualquer tipo de problemas, em especial os emocionais. O técnica propõe em vez de combater o demônio (uma emoção negativa, por exemplo, a raiva) o alimentemos até que ele, saciado, vá embora ou se transforme num aliado. A técnica tem uma grande similaridade com a ressignificação de seis passos da programação neurolinguística, com a diferença básica de que a tibetana tem um nível de atuação mais simbólico e ritualístico e parece atuar com mais profundidade.
Para o budismo tibetano não devemos dar combate aos demônios, mas alimentá-los
O segundo deles é A Sombra Interior, de James Hollis, publicado pela editora Novo Século. O livro tem o subtítulo Por que as pessoas boas fazem coisas ruins? Este é o mais junguiano dos três títulos e procura discutir em profundidade este aspecto da personalidade humana, sem dourar a pílula. O subtítulo é uma pergunta que muitos fazem, inclusive em relação a si próprios, sem entender o que realmente está acontecendo. Segundo o autor, não entender é óbvio: a Sombra simplesmente está no inconsciente e por definição não temos consciência dela! Por isso precisamos descobrir sua natureza e trazê-la o máximo possível à tona para poder aceitá-la e transcendê-la.
O último é Noites escuras da alma, de Thomas Moore, editada pela editora Verus. Este autor, baseado num texto do século XVI de São João da Cruz, concentra-se nos momentos em que estamos em sofrimento (“as escuridões emocionais”) onde hoje a medicina, a psicologia e a psicanálise tradicional buscam dar uma resposta a mais rápida possível para tirar a pessoa deste estado. Uma das maneiras é receitando antidepressivos, que teriam o condão de gerar “um paraíso artificial”, tomando emprestado um termo de Baudelaire. A proposta do autor é viver a noite escura, pois ela seria necessária à nossa própria evolução.
Os três livros dentro de suas propostas são bons, no sentido de que não ficam em torno de receita fáceis e, no fundo, vazias, mas procuram dar um conhecimento mais amplo ao leitor interessado em conhecer o lado negro da Força.
Uma coisa que notamos com a auto-ajuda e que pode acontecer com a questão da Sombra. Logo virá a segunda geração deste tipo de livros, onde pessoas com um pequeno conhecimento do assunto e editores ávidos por lucro fácil entupirão as estantes da livrarias com livros de capa preta propondo tirá-lo da escuridão. A pílula, em vez de cor-de-rosa, agora será cinza.
Os três livros dentro de suas propostas são bons, no sentido de que não ficam em torno de receita fáceis e, no fundo, vazias, mas procuram dar um conhecimento mais amplo ao leitor interessado em conhecer o lado negro da Força.
Uma coisa que notamos com a auto-ajuda e que pode acontecer com a questão da Sombra. Logo virá a segunda geração deste tipo de livros, onde pessoas com um pequeno conhecimento do assunto e editores ávidos por lucro fácil entupirão as estantes da livrarias com livros de capa preta propondo tirá-lo da escuridão. A pílula, em vez de cor-de-rosa, agora será cinza.