sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Fábrica de Robôs - Karel Tchápek

A Fábrica de Robôs
Autor: Karel Tchápek
Título original (tcheco): R.U.R.:  Rossumovi universálni roboti
Tradução: Vera Machac (direto do tcheco)
Editora: Hedra
Ano: 2010
146 páginas

Sinopse: Peça em três atos, escrita em 1920, que narra o drama da fabricação de entidades humanóides com fins de realizarem o trabalho braçal, e de sua revolta contra seu estado de escravidão.

A Fábrica de Robôs foi o primeiro livro que tratou da fabricação em série de entidades artificiais com a intenção de substituir trabalhadores. Apesar do nome “robô” estar associado atualmente a máquinas, na peça são entidade humanóides de origem biológica.

Karel Tchápek é conhecido por sua visão agudamente crítica e seu humor ácido quando trata de problemas sociais e políticos, como vimos em A Fabrica de Absoluto. Socialista, não poupa nem o socialismo em seu posicionamento às vezes cínico. Por exemplo, um dos personagens explica que os robôs absorvem qualquer conhecimento, mas não tem nenhuma criatividade e, portanto dariam  “bons professores universitários”.

Atenção contém spoiler

A peça começa com um diálogo entre Helena e Domin, gerente da fábrica, e seus sócios. Helena veio com o propósito de tentar libertar os robôs. Ela é confrontada com o fato de que eles eram insensíveis a seu estado, pois eram desprovidos de sentimentos.

Os robôs foram criados pelo Sr. Rossum com o propósito de provar que Deus era inútil e tentava fazê-los o mais perfeito possíveis, apesar de ter um parco conhecimento de anatomia. Seu filho toma a frente do projeto, pois vê uma utilidade prática para os robôs, eliminando tudo que era inútil, no seu ponto de vista: criatividade, sentimentos, sexualidade, paladar e olfato, por exemplo. E melhorando algumas características, como força física e capacidade de aprendizado.

Domin vê a criação do robô com uma forma de libertar a humanidade, reduzindo o custo de produção a quase zero, permitindo aos humanos não mais trabalhar (esta é a visão romântica do progresso). Todavia, ao longo da peça, percebe-se que o que resta aos humanos é o consumo puro e simples, confirmando os temores de Alquist, um dos sócios, que vê nas necessidade do cotidiano a oportunidade do homem evoluir. Alquist em momento de crise faz trabalhos de pedreiro, para manter as mãos ocupadas (isso faz com que os robôs durante a revolta o vejam como um igual).

O robos são construídos aos milhares e logo estão no mundo todo. São usados em diversa funções e como soldados em guerras, já que não têm medo.

Helena não deixa a fábrica e fica por lá, casando-se com Domin (fato bastante improvável, mas tratado com muito humor). Sua motivação oculta é tornar os robos mais humanos, dando-lhe sentimentos com a ajuda de um dos engenheiros. Todavia, quando um dos robôs manifesta um sentimento é ódio que aparece.




A revolta ocorre  e, embora esperada, pega o pessoal da fábrica desprevenido (todos os envolvidos recusam-se a ver o óbvio). A humanidade é destruída com exceção de Alquist, que é obrigado a manter a fábrica em funcionamento, porém é incapaz de fazer robôs vivos. Com a impossibilidade de fazer novas unidades, o robôs também perecerão. Todavia há uma esperança: um casal de robôs manifesta rudimentos de amor e desejo um pelo outro o que faz Alquist rejubilar-se.



A parte menos inspirada da peça é o discurso pseudo religioso do final. Mas mesmo aí vemos a ironia de Tchápek. O homem querendo ser Deus, cria seu sucessor.


O livro é importantíssimo para quem gosta de boa ficção científica e esta interessado em mergulhar em suas raizes.

Algumas críticas presentes:
  • Quando a crise principia, Helena tenta convencer Domin a parar a produção. Domin retruca que deverão produzir robôs nacionalizados em vez de robôs universais. Dando diversidade a eles, passariam a odiar uns aos outros e deixariam os humanos em paz.
  • Helena luta pelos direitos iguais, contra a exploração dos robô, mas tem uma governanta, Nana, a quem pede inclusive para abotoar o vestido.
  • Nana tem um preconceito forte contra os robôs e vê as ações de fabricá-los como afronta a Deus. Representa a religiosidade intolerante.
  • O gerente financeiro, no meio da crise pensa apenas nos dividendos. Quando descobre que tem 500 milhões em caixa, tenta subornar o líder dos robôs, porém aos robôs o dinheiro não faz o menor sentido.
  •  Apesar da crise instalada, não percebem que os robôs em volta deles são uma ameaça, pois são igualmente explorados e podem aderir à rebelião.
  •  Quando um dos robôs se manifesta sobre seu desejo, diz que quer ter escravos humanos trabalhando para ele
  • Os robôs, querendo ser humanos, os imitam no que tem de pior (como diz o próprio Alquist: você já são humanos. Aprenderam a fazer guerra.)
O livro é importantíssimo para quem gosta de boa Ficção Científica e esta interessado em mergulhar em suas raízes. A peça ainda valeria pena ser encenada hoje em dia.

Nerd Shop: 


A Fábrica de Robôs. Karel Tchápek. Livraria Cultura.




domingo, 11 de dezembro de 2011

Insanas... elas matam! - Horror feminino em alta

Insanas... elas matam
Autoras: Ana Cristina Rodrigues (prefácio), Alícia Azevedo, Alma Kazur, Bruna Caroline,Carolina Mancini (convidada), Celly Borges (convidada), Débora Moraes, Georgette Silen, Gisele G. Garcia, Laila Ribeiro, Laris Neal, Natália Couto Azevedo, Roberta Nunes, Sandra Franzoso, Suzy M. Hekamiah (convidada), Tatiana Ruiz
Editora: Estronho
Ano: 2011

Sinopse:  coletânea de contos de terror e horror escritas por mulheres e em sua maioria com protagonistas femininas.

A Estronho tem buscado criar um catálogo de livros organizando coletâneas de forma criativa e inteligente. Insanas é um excelente exemplo de como isso funciona. Os editores não tiveram medo de ousar, tanto na capa, na diagramação e no projeto gráfico como um todo, como na seleção de textos, ainda que nem todos possam gostar de algumas ousadias (se houvesse unanimidade, não seria ousadia). Das ousadias gráficas gostaria de destacar a capa, as fotos internas e um recurso pra valorizar o título que é colocar fonte diferente algumas palavras que acabam formando o título.

O prefácio de Ana Cristina Rodrigues faz o que deve de maneira elegante e rápida, como deveriam ser todos os prefácios. Abre um pouco a cortina, sem dar spoiler e sem fazer elogios óbvios. Dali pra frente o risco é do leitor.

Atenção! Nas resenhas a seguir há pequenos spoilers.

O Bem e o Mal
Sandra Franzoso

Amanda é uma moça que faz todos felizes. Cansada de ser “boazinha” e descobre que é assim porque decidiu ser. Segundo ela mesma ela fazia as pessoas felizes porque “apertava os botões certos”. E o que aconteceria se decidisse ser má?

Uma psicopata muito bem caracterizada.

Tinta Vermelho Sangue
Bruna Caroline

A tinta vermelha poderia realmente ser feita de sangue?
Boa ideia.

A última oração

Um espírito obsessor persegue uma noviça, matando todos que chegam perto dela. Conto valorizado pelo seu final.

Do inferno
Georgete Silen

Quem foi Jack o Estripador? Autora parte de duas pistas e de alguns dos crimes para traçar um perfil do assassino e dar voz a ele. Escrito em primeira pessoa, permite que os pensamentos íntimos do assassino venham ao leitor, tornando o serial killer mais humano e por isso mais assustador. Boa sacada.

A Fazenda
Alma Kadur

Clássica história de casa mal assombrada, mistura elementos da cultura e história romena com a brasileira. Um texto bem feito.

Vítimas
Celly Borges

Uma bem construída história sobre o mal que cada um carrega. Há varias reviravoltas todas congruentes com a proposta do texto.

Anita
Carolina Mancini

Uma boa história envolvendo sexo e sangue. As cenas eróticas seguidas de violência são muito bem escritas.

O Relógio Perfeito
Natalia Couto Azevedo.

Contado em uma sequência de tempo invertida, fala sobre a obsessão de uma cientista em construir o relógio perfeito. Mas... a que preço?

Este conto me lembrou um texto gótico pouco conhecido de Julio Verne, escrito em 1874: Mestre Zacharius, onde a obsessão é mesma e o resultado igualmente catastrófico.  

Excelente!

Bianca
Gisele G. Garcia

O quão terrível pode ser a vingança de uma mulher abandonada?
Muito bom.

Desagravo
Laila Ribeiro

Duas raças de feiticeiros em guerra disputam a lealdade de uma hibrida. Sedução e vingança dão o tom. Muito bom.

Pecado original
Roberta Nunes

O título remete à visão distorcida do pecado original de que a mulher, por ter tentado Adão é responsável pela desgraça do mundo. No conto o mito é invertido. Em uma sociedade dominada por mulheres, os homens são oprimidos de todas as formas. O conto é centrado em Maria uma personagem cruel e detentora de poderes similares a  um julgador da Santa Inquisição.

O conto procura levantar uma bandeira feminista, fazendo esta inversão, um recurso muito utilizado para deixar claro o grau de opressão para quem é insensível a outras abordagens. A autora consegue fazer isso sem que o texto pareça panfletário. Excelente.

Quer uma torrada?
Débora Morais

Um relato desvairado de uma mulher que narra um crime como se fosse parte de seu café da manhã. O crime aconteceu mesmo? Muito bem escrito.

Memórias
Alícia Azevedo

Outro conto em que ocorre uma inversão do tempo no desenrolar da narrativa. Uma psicopata descreve a sua trajetória de crimes de sangue e sua busca de um parceiro similar para entender seu  comportamento. Dr Jekill e Jack o Estripador aparecem fazendo “ponta”. Algumas boas sacadas valorizam o texto.

Amor Masoquista
Laris Neal

O título mostra o que é o conto: uma descrição de uma relação onde o sofrimento e prazer andam juntos. O que faz com que o conto fuja do convencional é que a provocação da dor está relacionada com o ciúme.

O livro como um todo cumpre a promessa de diversão com bons textos, mesmo das autoras iniciantes. Alguns contos se destacam pela temática ou por algumas sacadas. A maioria deles são pelo menos bons. Vale a leitura para que gosta de histórias de horror clássico e sangrento. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Patrimônio Cultural do Xingu – O Começo do Fim?


Patrimônio Cultural do Xingu – O Começo do Fim?
100 páginas
Editora Duetto

A motivação em ler e comentar esta edição partiu de dois pontos: um a iniciativa do Clube de Leitores de Ficção Científica em convocar escritores para uma antologia com temas nacionais e a polêmica provocada pela construção da usina hidroelétrica em Belo Monte.

Conhecer sobre o que se pretende escrever é um dever de todo bom escritor. Esta revista torna-se um instrumento fundamental para aqueles que desejam abordar questões indígenas em seus trabalhos.

Quanto à usina de Belo Monte, acompanho já há algum tempo as discussões no facebook e percebo que há muita desinformação circulando, não importa em que ponto da discussão estejam os internautas.

Por isso escolhi esta edição. A Scientific Americam é uma publicação de divulgação científica tradicional, com alta confiabilidade, em qualquer ramo da ciência que aborde, e procura ser imparcial em suas colocações.

Com reportagens de grande profundidade e fotos belíssimas, foca o problema indígena com um todo, desde suas raízes históricas passando pelo contato com os brancos e suas influências e o legado que ameaça ser destruído pela construção usina.

A usina é o que temos de mais premente ameaçando estas culturas, mas há outras, que devem ser levadas em conta. Por exemplo, a introdução de alimentos industrializados em populações indígenas trouxe doenças desconhecidas e de difícil tratamento. Ou a pressão das cidades vizinhas ao Xingu onde publicamente se defende o extermínio dos índios. Ou ainda os agronegócios, interessados nas terras férteis do vale do Xingu.

Estou usando neste momento um computador para fazer isso e logo mais estarei divulgando pela internet este artigo. Usando energia elétrica. Que preço paguei por isso?

Assistimos Avatar e nos compadecemos com os Na´vi. Será que não teremos a mesma coragem e compaixão e aceitar Belo Monte e outras ameaças à populações inteiras sem discutir?



Recomendo a leitura para todos.



terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Pele em que Habito


A Pele em que Habito
Título Original: La Piel que Habito 
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado em livro de Thierry Jonquet
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet.
Duração: 117 min
Ano de Lançamento: 2011 (Espanha)
País de Produção: Espanha

Sinopse: Um médico, Richard Ledgard (Antonio Banderas),  traumatizado pela morte da esposa queimada num incêndio, mantém em cárcere privado uma paciente em que pouco a pouco busca transformar sua aparência na da esposa. Para isso usa técnicas cirúrgicas e de construção de pele não éticas. Quem é esta paciente e por que esta lá?

Contém um pequeno spoiler:

Uma das razões que me levou a resenhar este filme e do uso de elementos da ficção científica por alguém consagrado que não é do ramo.  A sinopse, ao lê-la pela primeira vez, me deu a impressão de ser uma mistura de Frankstein com Pigmaleão. De fato, encontram-se elementos das duas fábulas: um médico obcecado por um sonho que se apaixona por sua criação.

A ficção científica entra apenas como um dos elementos da narrativa e que poderia estar ausente, sem prejuízo da trama.  E, mesmo assim,  colocada de maneira muito canhestra. O primeiro elemento de FC colocada na trama é a data: os fatos ocorrem em 2012. Tem sentido situar uma narrativa tão próxima? Será que ele tencionava dizer que acontece no filme poderia estar acontecendo logo? Totalmente dispensável.

O segundo elemento de FC está na pele sintética à prova de fogo que ele coloca na paciente, feita partir de mutações transgênicas, uma combinação de células humanas e de porco . É insinuado também que é à prova de cortes, o que impediria a paciente de cometer suicídio cortando o pescoço ou os pulsos, totalmente plausível, já que é uma prisioneira e sujeita a experiências macabras.

Todavia após o teatro (extremamente caricato) da feitura e colocação da pele na paciente, o fato da pele dela ser ou não à prova de fogo não ganha relevância, o que definitivamente afasta a obra de ser ficção científica.

Banderas é um cientista muito caricato.

Atenção: Um grande spoiler!

Uma outra razão que me levou a resenhar A Pele em que Habito é que Almodovar trata do problema da identidade, tanto pessoal como sexual (ouço alguém dizendo “como sempre”) e isso ele fez com maestria.

Vicente, sob efeito de drogas, estupra a filha do médico, que acaba se suicidando. O rapaz torna-se vítima  de uma vingança arquitetada pelo personagem interpretado por Antonio Banderas:  a identidade de Vicente é destruída e transformada em Vera. Da vingança, Richard Ledgard passa a obsessão em reconstruir a esposa e da obsessão ao desejo pelo objeto criado.  Isso mesmo, objeto. Ledgard ama a pele que construiu.

Mas Vicente, ainda que externamente seja Vera, continua sendo Vicente. O que justifica muito bem o título: para Vicente, Vera é apenas a pele em que habita, não sua identidade.

Neste contexto, a pele sintética se justifica, visto que, se ela não é sensível à dor, também não é sensível às carícias, isolando Vicente/Vera do mundo. Porém acredito que poucos expectadores perceberam isso.

Vale destaque para o irmão de Richard, que aparece fantasiado de tigre. Ele está fugindo da polícia aproveitando-se de um baile de carnaval. Ele é o responsável indireto pela morte da esposa de Richard e será o catalisador do desfecho da trama.



Um bom filme.


domingo, 30 de outubro de 2011

Auxiliares para escritores


Todos que um dia tentaram escrever sentiram falta em algum momento de algo mais formal e organizado para auxiliá-lo na sua escrita que não fossem as velhas aulas de redação da escola.

Alguns escritores costumam dar dicas, de forma organizada ou não, sobre o seu jeito de escrever. E alguns escreveram livros.

Começarei com os livros de Silvia Adela Kohan, recentemente lançados pela editora Gutemberg. Comentarei dois deles, Como Narrar uma História e Como Escrever Diálogos. Ambos são bem didáticos e bastante aconselháveis para quem quer por a mão na massa, tem uma boa ideia, mas não sabe por onde começar. Isso não invalida sua leitura por quem já escreve há algum tempo e quer melhorar sua escrita. Às vezes é muito bom ver dentro de uma estrutura mais organizado aquilo que a gente já sabe empiricamente. Isso é proveitoso até para quem escreve muito bem.


Um outro livro que eu li com bastante interesse foi A Arte da Ficção, de David Lodge, da LP&M pocket (título original The Art of Fiction, tradução de Guilherme da Silva Braga). O livro é uma coletânea de artigos que saíram semanalmente em dois jornais americanos, o Washington Post e o Independent on Sunday. Ele se propõe a mostra vários elementos que compõe o romance, literalmente do começo ao fim: o primeiro artigo é O Começo e o último, obviamente, O Fim.

Em cada capítulo é feito com base em algumas citações de autores ingleses e americanos, e a partir delas, constrói seu texto. A maioria dos livros é bem conhecida do público em geral, mas não é fundamental conhecer a obra citada, pois David Lodge quase sempre contextualiza o texto para o leitor.

São 50 capítulos, abrangendo a estrutura do romance, alguns de seus elementos, como a ambientação, o diálogo, a construção dos nomes de personagens, o título; recursos narrativos, como o suspense, o mistério, o estranhamento; estilos literários como o surrealismo, o realismo mágico, o simbolismo; tipos de romance, como o experimental, o cômico, a metaficção; e a linguagem, como o uso da gíria, a diferenças de linguagens de acordo com o personagem.

Vale ressaltar que o autor dá a devida importância a Ficção Cientítica, dedicando-lhe o capítulo O Futuro Imaginado (usou 1984 como exemplo) e à Literatura Fantástica (usou Edgar Allan Poe como exemplo), dedicando-lhe o capitulo O estranho. Ele usou também como exemplo A LaranjaMecânica, quando falou sobre romances de ideias. Uma observação interessante: quando ele falou sobre 1984, mostrou um detalhe que lança o leitor da época em que foi escrito quase que imediatamente ao futuro, na primeira frase do romance: “Era um dia claro e frio em abril, e os relógios soavam 13 horas.”

Em 1948 (ano da publicação do livro) não existiam relógios digitais. Marcar 13 horas em todos os relógios só poderia estar acontecendo em algum momento do futuro. Uma sutileza de mestre!

Para o pessoal do Steampunk

Quem escreve gêneros onde a história ganha relevância, sabe da importância de uma boa pesquisa. E que nem só de Wikipédia vive o escritor. Existem bons livros de história que abrangem o período onde normalmente os escritores steampunks situam suas narrativas.

O primeiro deles que eu recomendo é História da Vida Privada, volume 4, Da Revolução Francesa à PrimeiraGuerra. Editado pela Companhia das Letras, tem duas versões, uma em capa dura e outra, de bolso. As informações são bastante interessantes e ajudam muito para termos uma ideia bem precisa do período retratado, centradas não nos episódios grandiosos, mas no dia a dia das diversas camadas da sociedade.

Com o mesmo teor há Históriada Vida Privada no Brasil, volume 2, a corte e a modernidade nacional, também da Companhia das Letras, e História da Vida Privada em Portugal à épocaContemporânea, da editora Temas e Debates, ambos somente em capa dura.

Pegando o teor mais político, temos as obras de EricHobsbawn: A Era das Revoluções 1789-1848, A Era do Capital 1848-1875, A Era dos Impérios  1875-1914, todos da Editora Paz e Terra e, abrangendo um período mais longo, Bandidos, onde analisa o chamado “banditismo social”.

Epílogo

Além da leitura formal, é bom ter uma gama variada de leituras, começando pelos seus “colegas de classe”: outros escritores brasileiros e estrangeiros que estão produzindo o mesmo gênero que você.

Além deles é bom ter uma leitura bem variada, abrangendo diversos gêneros, diversas nacionalidades e diversas épocas, não só os de sua preferência. E não se esqueça dos Clássicos!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Capitães da Areia


Capitães da Areia
Direção: Cecília Amado
Direção de Fotografia: Guy Gonçalves
Direção de Arte: Adrian Cooper
Jean Luis Amorim, Ana Graciela, Robério Lima, Paulo Abade, Israel Gouvêa, Ana Cecília, Marinho Gonçalves,  Jussilene Santana, Jordan Mateus, Elielson Conceição, Evaldo Maurício, Heder Novaes,  Elcian Gabriel, Jamaclei Pinho, Edelvan de Jesus, Felipe Duarte
Produção: Brasil
Ano: 2011
96 minutos


Sinopse: Baseado no livro de Jorge Amado, a história concentra-se na vida de um grupo de meninos de rua, que viviam em Salvador nos anos 50. Liderados por Pedro Bala, os meninos realizam roubos. A vida deles muda quando um deles, o Professor, resolve recolher duas crianças abandonadas, uma menina (Dora) e um menino (Zé Fuinha).

O filme é ambientado nos anos 50, com uma boa reconstituição de época, com veículos, roupas e objetos de cena bem caracterizados. Porém, do meu ponto de vista, o drama dos garotos supera qualquer caracterização de época e a história poderia ser representada nos dias de hoje, sem muitas adaptações. Ela é envolvente o suficiente para até deixar passar desapercebida esta caracterização.

O elenco de atores adolescentes é excepcional, mostrando um cuidado muito grande na escolha destes atores e na sua direção. Merece elogios também a fotografia, muito bem realizada, com tomadas que valorizam a cena em si, sem haver uma preocupação excessiva com a paisagem.

A preocupação presente no romance de humanizar os meninos de rua e deixá-lo mais próximo do leitor-espectador é plenamente respeitada no filme.

Atenção! Spoiler!
Um pequeno senão é o final do filme, onde o destino provável de cada um dos meninos é contado pela boca do Professor, como se fosse um resumo. Ainda que isto seja feito forma poética, enfraquece um pouco o desfecho trágico de Dora, atenuando seu impacto.



Trailler

domingo, 23 de outubro de 2011

Os Três Mosqueteiros


Os Três Mosqueteiros
Título original: The Three Musketeers
Direção: Paul W.S. Anderson
Roteiro: Andrew Davies, Alex Litvak
Elenco: Logan Lerman, Matthew Macfadyen, Ray Stevenson, Christoph Waltz,Orlando Bloom, Milla Jovovich, Mads Mikkelsen
Direção de arte: Glen MacPherson
Produzido em:  Estados Unidos /  Reino Unido /  França /  Alemanha
Ano: 2011   

Sinopse:  No inicio do reinado de Luiz XIV, o jovem D’Artagnan deseja tornar-se um mosqueteiro do rei. Desconhece que os mosqueteiros estão decadentes. Sua chegada e um acontecimento que pode levar a França a uma guerra, os motivará a retomar sua antiga disposição.

Eu suspeito que Os Três Mosqueteiros é a obra de literatura mais filmada da história do cinema. Não se pode dizer nem que seja um ”remake” de tantas versões que existem.

Normalmente as versões dão muita ênfase às lutas de espadas coreografadas, às intrigas palacianas com o Cardeal Richelieu e belas mulheres, como Milady de Winter, Constance e a rainha Ana.

Será que havia algo a inovar? Paul Anderson apostou que sim. Mantendo a estrutura do romance original com poucas alterações, introduziu alguns elementos retrofuturistas e de filmes de espionagem: navios alçados ao ar por meio de balões de ar quente,  trajes de mergulho, armas especiais, mecanismos e uma inexplicável armadilha diante do cofre de jóias da rainha.

Estes elementos dão mais cor e sabor ao filme e estão bem colocados na trama, com exceção da armadilha do cofre, que apenas está lá para mostrar os dotes físicos e acrobáticos de Mila Jovovich.

Quem conhece Os três Mosquetiros já sabe o que vai acontecer e uma parte do público até espera encontrar o que vai ver: a trama do colar, as lutas entre os guardas do Cardeal e os mosqueteiros, a impulsividade de d’Artagnan e a volta por cima no final.

Um filme divertido.

Dica: economize seu dinheiro, o efeito 3D não acrescenta muito.



trailler

Curiosidades Nerd

Alexandre Dumas escreveu vários romances históricos e tinha um bom conhecimento dos fatos que narrava, mas não tinha preocupações com a exatidão, misturando fatos de épocas distintas, como neste livro.  Por exemplo, os três moqueteiros realmente existiram,  mas apenas Athos e Aramis serviram juntos e num período posterior ao retratado no romance. A intriga do colar, retratada no romance, ocorreu com Maria Antonieta, uma tentativa dos revolucionários de legitimar a sua condenação à morte.

De certa forma, podemos dizer que Alexandre Dumas inventou a História Alternativa e provavelmente não reclamaria se colocassem balões no seu romance.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Reino das Névoas – contos de fadas para adultos


Reino das Névoas – contos de fadas para adultos
Autor: Camila Fernandes
Ilustrações e capa: Mila F (Camila Fernandes)
Editora: Tarja
Ano: 2011
168 páginas

Sinopse:  O livro reúne contos de fadas, recriados ou criados procurando resgatar  a forma como este tipo de narrativa era feito no passado.

O conceito de infância que temos hoje só surgiu após o estabelecimento da filosofia racionalista do século XVIII, tendo como marco a publicação de O Emílio, de Rosseau. Antes as crianças só se diferenciavam dos adultos pelo tamanho e habilidades. As narrativas, sobretudo de tradição oral, não tinham contornos para evitar ou atenuar passagens mais cruentas e cruéis ou que envolvessem sexualidade. Os Irmãos Grimm, que compilaram a maioria dos contos que conhecemos hoje fizeram o primeiro filtro, já dentro da visão de que existe uma infância a ser preservada e já influenciados pela ética protestante. Mesmo assim, alguns contos sofreram ainda mais uma censura deles mesmos na segunda edição. Ao longo do tempo mais e mais atenuações foram introduzidas.

Há ainda outros fatores históricos que mudaram a teor da narrativa. Por exemplo, na Idade Média, o perigo de um ataque de um lobo era real e palpável. Então o chapeuzinho vermelho devia temer mesmo um lobo, sem nenhuma metáfora. Com o passar do tempo, o perigo é um adulto manipulador, que pode ser representado por um lobo.

Contudo o livro não se propõe a um resgate histórico, nem criticar a forma como os contos são contados hoje para as crianças, mas apenas de trazer de volta alguns elementos ausentes para criar uma atmosfera fantástica que abranja alguns fatores importantes do universo adulto.

Ao pegar o livro, primeira coisa que se nota é que houve um cuidado na edição de emular um livro de contos de fadas de criança, desde a capa, passando pelas ilustrações internas, o papel, a tipologia dos títulos e do texto e uso de capitulares.

O texto também guarda similaridade com o dos Irmãos Grimm, mas de uma forma mais fluída e poética, mesmo nas passagens onde há crueldade explícita, e evitando sempre que possível o uso de lugares comuns (inclusive o “Era uma vez...” e o “...viveram felizes para sempre”), o maniqueísmo clássico e o final fechado.

O Chifre Negro

Uma princesa necessita pegar um chifre de unicórnio para salvar o pai. Essa busca a leva a uma série de situações perigosas, cruéis e amargas que a marcam de forma indelével e a levam ao amadurecimento como pessoa. Angustiante.

O Lenhador e a Sombra

Esta talvez seja a mais poética das histórias. Um lenhador solitário encontra uma companhia na floresta. A questão do desapego norteia a condução do conto. Belíssimo.

A Outra Margem do Rio

Duas cidades separadas por um rio e pelo preconceito. Um pai e leva o filho para um casamento com uma noiva do outro lado. Acontecimentos trágicos marcam esta travessia. A questão do que é realmente importante dá o tom.

A Torre onde ela dorme

Uma princesa tem muitas habilidades e só aceita casar-se com um homem que a vença. Por inveja de seus pretendentes é condenada a dormir um sono eterno, até que seja vencida por um homem. Esta é uma versão da história da bela adormecida, com um príncipe nem um pouco nobre. Surpreendente.

A Filha do Fidalgo

Uma jovem fantasia que um sapo que encontra em seu quarto, se beijado se tornaria um príncipe. Será?

A Espera

Uma metáfora para a busca da felicidade a partir de esperanças vãs, que na realidade impedem de ver que ela está ao alcance de sua mão.

Reino de Névoas

Uma Branca de Neve não tão pura e não tão indefesa. O conto mais longo e também o mais movimentado. O melhor da coletânea.

O resultado geral é muito bom, atingindo plenamente os objetivos da autora.

domingo, 9 de outubro de 2011

Deus ex machina – Anjos e Demônios na era do vapor


Deus ex machina – Anjos e Demônios na era do vapor.
Organizadores: Candido Ruiz, Tatiana Ruiz, M. D. Amado
Autores: Alex Nery, Alliah, Carlos Machado, Daniel I. Dutra, Davi M. Gonzales, Georgette Silen, Leonilson Lopes, Norberto Silva, O. S. Berquó, Paulo Fodra, Rebeca Bacin, Yuri W. Cortez 
Editora: Estronho
Ano: 2011
208 páginas


Sinopse: A expressão latina Deus ex machina pode ser interpretada como Deus é a causa e é usada em literatura quando uma situação insolúvel é resolvida com um elemento inesperado e fora do contexto, uma “forçada” de mão do autor que é o Deus da história. No caso aqui os organizadores resolveram dar o sentido que o senso comum dá à expressão: Deus é a  máquina, já que reúne Deus e máquina na mesma frase e é justamente isto que a coletânea se propõe. Uma mistura de gêneros terror com anjos e demônios e steampunk.

Um dos riscos quando se mistura gêneros é a falta de equilíbrio entre eles, acabando por um deles prevalecer e outro ficar forçado, apenas para cumprir tabela. Neste quesito, os organizadores conseguiram harmonizar o conjunto, com um bom resultado.

A capa esta boa, como tem sido as capas da Estronho, e as ilustrações do interior também, onde a editora continua buscando originalidade. Cada conto é precedido por uma ilustração em uma apresentação do autor e está numa “caldeira”, numerada com o número da página de início e o autor identificado como seu operador.

Há um senão: a combinação do papel sem tratamento (atualmente sendo chamado de “ecologicamente correto”) e desenhos e letras escuras acabou prejudicando a leitura da apresentação dos autores e, em alguns casos, até do nome do conto.

A Diabólica Comédia  - A Conquista dos Mares
Operador: Romeu Martins

O título é uma paráfrase de a Divina Comédia. Um submarino, comandado por um demônio enfrenta hordas de anjos em máquinas voadoras. Emocionante. Em alguns momentos chegamos a torcer pelo demônio.

Alerta de Spoiler!
O que está em jogo? O domínio dos mares, já que o inferno é de Lúcifer e o céu de Deus. Uma boa sacada.

A Seita do Ferrabraz
Operador: Paulo Fodra

Um bom conto de horror com anjos e demônios.  Tem como positivo de abordar um fato pouco explorado da história brasileira a revolta dos muckers, ocorrida no sul do país. O autor merece elogios por ter feito uma pesquisa e colocar os fatos principais em seu enredo de maneira consistente com o elemento sobrenatural.  O elemento steam está apenas en passant. E poderia muito bem ser substituído por qualquer outro elemento mágico ou tecnológico, que não faria diferença para o enredo. Porém isso é uma questão para os puristas do gênero, pois o que importa é que o conto é bom.


Anhanguera
Operador: Norberto Silva

Um padre perde seu rebanho, porém aos poucos os fieis retornam por que tudo o que pedem em suas orações é atendido. Nesta cidade onde todos estão felizes, surge um investigador que acha isso estranho. Outro bom conto onde o elemento steam está en passant. O final é bastante interessante (dizer mais é da spoiler).

O dia do grande Uirá
Operador:  Davi M. Gonzales

O conto divide-se em duas partes, uma contada por um indígena, que tenta encaixar o que aconteceu dentro de seus mitos e outro, de um militar português, num relato oficial. Os dois trechos estão muito bem escritos, com elementos de cada linguagem e cada visão de mundo muito bem colocados.

Neflin
Operador: Carlos Machado

Escavações de uma empresa mineradora topam com esqueletos do que pode ter siso restos de uma grande batalha. Junto às ossadas encontram estruturas metálicas que lembram asas. O autor vai buscar num passado remoto o desenvolvimento de uma tecnologia steam, que poderia ter dado origem àqueles mecanismos. A idéia é boa, mas o vai e vem no tempo dificulta um pouco acompanhar o enredo. Um pequeno spoiler:  A sacada maior do autor é usar um personagem histórico real que fez pequenas máquinas a vapor na antiguidade clássica.

Zeitgeist – Brigada anti incêndio
Operador: Yuri Wittlich Cortez

Patrocinado por um bispo, um inventor tenta construir uma máquina voadora que, segundo ele, subiria até os portões do céu. Contudo ele é perturbado constantemente por um brigadista anti-incêndio que volta e meia faz nova exigências de segurança. Um conto onde predomina o humor, com uma cena emocionante no final e uma piada que fecha a história com chave de ouro.

O Sheol de Abaddon
Operador: Alliah

Outro conto com traços de humor. Uma união aparentemente impossível de um anjo e um demônio é estabelecida para derrotar um inimigo comum. Boa descrição de batalhas.

Avatar de anjo
Operador: Georgete Silen

Um anjo desce ao inferno para enfrentar um inimigo. O começo do conto é muito bem elaborado,aguçando a curiosidade do leitor. Um enredo bem conduzido e um final bem pensado.  

A Obscura história da Sterling Railways
Operador: O. S. Berquó

Um estudante encontra dentro de um  livro uma carta que o conduz a uma investigação sobre o abandono da construção de uma ferrovia  após o desparecimento de alguns trabalhadores e de um engenheiro. 

O pai da mentira
Operador: Lenilson Lopes

Uma bem descrita batalha entre anjos e demônios.

A máquina dos sonhos
Operador: Daniel  I. Dutra

Um pintor frustrado, mas um engenheiro brilhante, resolve seu problema de falta de talento criando uma máquina que lê os as mentes das pessoas, captando suas imagens. Porém a máquina capta mais do que isto. Um bom conto, com um bom ponto de partida.

Os relógios pensantes de sua Majestade
Operador: Alex Nery

Na Índia, um inglês luta ao lado dos revoltosos hindus. Ele tem uma forte motivação para isto. Um conto que tem como pano de fundo a ética da ciência e da tecnologia. Excelente.

Cálico: entre o céu e o inferno
Operador: Rebeca Bacin

Uma mulher é procurada por um anjo para desarmar uma bomba. O plot simples conduz a uma boa e emocionante aventura.

No geral a coletânea é boa, com alguns contos excelentes. Mesmo os contos que tem poucos elementos do steampunk têm algo a acrescentar e principalmente, divertem o leitor.


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Dia da Leitura


 
Menino Maluquinho, personagem de Millor Fernandes, obtido na Internet,

A Literatura Fantástica, em especial a brasileira, tem feito parte deste blog desde seu lançamento. E a literatura não sobrevive sem leitores e é para eles que os autores escrevem. Portanto, no Dia Nacional da Leitura, 12 de Outubro, leia um livro de literatura fantástica de autor lusófono (português, brasileiro, angolano, moçambicano, açoriano, etc..).

E boa diversão!

(P.S.: Ouvi dizer que os mitos e lendas açorianos são muito interessantes e têm um pé em Santa Catarina).


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Time Out – Os viajantes do tempo

Time Out – Os viajantes do tempo
Autores: Ademir Pascale (org), Roberto de Sousa Causo, Miguel Carqueija, Luciana Fátima, Álvaro Domingues, Estevan Lutz, Allan Pitz, Mariana Albuquerque. Apresentação: André Carneiro. Ensaio: Edgar Indanlecio Smaniotto. Orelha: Jorge Luiz Calife.
Editora: Estronho
Ano: 2011
120 páginas

Sinopse: Oito contos que têm por base a viagem no tempo. Os, autores, convidados por Ademir Pascale, tiveram total liberdade para criar, tendo como único parâmetro o tema. O resultado foram histórias que abrem um bom leque de visões sobre o assunto.

Déja-vù: O Forte Roberto de Sousa Causo
Uma mulher com uma doença terminal busca em uma viagem, um pouco de realização pessoal antes de morrer. Ao visitar um antigo forte, se vê transportada para uma batalha, século atrás, onde é um dos soldados em luta. A descrição ação e dos pensamentos da personagem ao ser surpreendida no passado, como suas dúvidas e angústias no presente estão muito bem realizados. Há uma ligeira referência a uma possível vida passada, à qual a personagem se transporta, mas isso não é fundamental para o enredo. A preocupação de Causo é uma reflexão sobre a vida, o sofrimento e a morte. Profundo.

A Velha Canção do Marinheiro – Ademir Pascale
O ponto de partida de Pascale são as experiências feitas no navio Eldridge, durante a Segunda Guerra, para torná-lo invisível, que segundo alguns, tiveram resultados inusitados e dramáticos, com parte da tripulação desaparecida. O fato é bastante explorado na literatura especulativa de não-ficção, com algumas teorias mirabolantes. O conto é narrado em primeira pessoa e centra-se no drama pessoal de um destes marinheiros que a cada 72 horas é transportado para outra época. O que mantém sua sanidade é a esperança de um dia numa destas viagens reencontrar-se com sua noiva. Angustiante. Nota dez para referência ao poema “A Balada do Velho Marinheiro”, de  Coleridge.

A Difícil Arte de Lidar com Patrulheiros do Tempo – Miguel Carqueija
Um cientista é visitado por um patrulheiro do tempo, que tem como missão matá-lo, pra evitar um desastre futuro. O conto é centrado na tentativa do cientista em convencer o patrulheiro a não matá-lo. O humor da situação dá o tom.

Pelas Badaladas do Tempo – Luciana Fátima
A autora opta por descrever a viagem no tempo como se fossem devaneios, conduzidas pelo badalar de sinos diferentes em diferentes épocas. Para ser um poema, falta apenas a rima e a métrica. Nostálgico.

Modelo do Ano – Álvaro Domingues
Dois nerds, que especulam sobre viagens no tempo, ao terminar a faculdade se separam e, dez anos depois, se reencontram. Este conto é de minha autoria. Apenas vou dizer que foi muito divertido escrevê-lo, já que é um conto com muito humor. Espero que os leitores se divirtam tanto quanto eu.

A Máquina da Insanidade – Estevan Lutz
Este pode ser considerado o que tem o maior apelo científico dos contos deste volume. O autor especula sobre o determinismo do Universo de uma maneira muito inteligente.

O Último Trem para Plêiades – Allan Pittz
Alienígenas levam um homem comum para ver um planeta similar à Terra onde pode observar o futuro do que poderia nos acontecer. Dizer mais do eu isto vai gerar spoilers desnecessários. Outro conto que tem uma boa dose de humor, sobretudo no desfecho, mas nos faz pensar.

Contra o apagar das Luzes – Mariana Albuquerque
Poderemos lutar contra o inevitável? Uma constatação amarga aguarda temponautas que tentam evitar um desastre de grandes proporções. Para reflexão. Excelente texto. 

Fechando o livro a há o ensaio Viagem no Tempo na Ficção Científica Brasileira: de Observadores a Viajantes do Tempo, de Edgar Indanlecio Smaniotto. O ensaio lança luz sobre esta vertente da FC, escrita no Brasil, desde as primeiras narrativas, onde o futuro ou o passado era observado por meio de algum aparelho tecnológico (por exemplo o poriviroscópio de Monteiro Lobado) ou mágico (O Copo de Cristal,  de Jeronymo Monteiro) até as incursões da Intempol. Muito bom.