sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Aventura Lego - Uma brincadeira de criança

Uma Aventura Lego
Título Original: The Lego Movie
Direção: Phil Lord, Christopher Miller e Chris McKay
Roteiro: Phil Lord, Christopher Miller
Elenco: Chris Pratt, Will Ferrell, Elizabeth Banks, Will Arnett, Nick Offerman, Alison Brie, Charlie Day, Liam Neeson, Morgan Freeman
Produção: EUA
Ano: 2014
Duração: 100 min

Sinopse: Emmet é um cidadão perfeito num mundo perfeito, porém este mundo só é perfeito porque tudo é absolutamente controlado pelo Sr. Negócios, um homem obcecado pela ordem. Emmet acidentalmente descobre “a peça de resistência” – artefato capaz de restaurar a liberdade neste mundo “certinho” e é confundido com o herói profetizado para resolver o problema.

Se eu pudesse resumir o filme eu diria que é “uma brincadeira de criança”. O filme reproduz com muita maestria o jeito de brincar de uma criança com Lego, misturando peças de universos distintos, deixando a imaginação correr solta e criando uma ordem neste aparente caos.



Trailer

Spoiler:

O filme tem basicamente três mensagens, duas triviais e comuns em filmes deste tipo: “se você acredita que pode, você pode” e “todo mundo é especial de alguma forma”. E, a terceira, “não existe jeito certo de brincar”. Nesta está embutida a relação pai e filho, de que não existe diferença entre um hobby de adulto e o brincar de uma criança e mexe também com o conceito de “ordem”, colocando-a como exatamente é: arbitrária.




Aventura Lego – "Por trás dos blocos"


A forma de contar a história, mesmo sendo tipicamente infantil, agradou os adultos presente na seção que assisti. Vez por outro ouvia-se risadas de gente grande (o filme até arriscou algumas piadas sutis sobre a homossexualidade do Lanterna Verde) e tenho certeza de que todos saíram mais leves da seção e talvez um pouco mais flexíveis com seus filhos (e consigo mesmos).

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Kaori e Samurai sem Braço

Kaori e o Samurai sem braço
Autor: Giulia Moon
Ilustrações: Giulia Moon
Editora: Giz Editorial
Ano: 2012
200 páginas

Sinopse: O grande terremoto seguido por um tsunami no Japão em 2011 traz a Kaori lembranças de outro grande terremoto, ocorrido lá em 1782. Nesta época, ela encontra-se com um samurai e uma kitsume, espécie de mulher raposa. Ambos estão em busca de um terrível monstro sobrenatural que se alimenta de almas e apossa-se dos seus corpos. Kaori se reúne a eles.

O livro conta esta história em tom de conto de fadas, onde uma miríade de criaturas da mitologia nipônica e personagens do Japão medieval desfilam para deleite do leitor. Há um destaque especial para a kitsume, de nome Omitsu, uma raposa que adota a forma de uma mulher. Seu comportamento é bem travesso, trazendo humor e alegria ao desenrolar da história. Mas que não se engane o leitor: se necessário for, sobretudo para defender seu mestre, a alegre kitsume é capaz de coisas terríveis. O esmero na criação deste personagem fez com que sentisse vontade de encontrá-la mais vezes em outras histórias deste universo.



Ilustração interna do livro
Kaori e o Samurai sem braço

O samurai, Kitarô, também é um personagem que me deixou saudade ao término da aventura. Amargurado com a morte de sua família (esposa, o irmão e os pais), sai em perseguição ao monstro responsável por isso, o Shinkû, tornando-se matador de bakemonos (demônios). É nesta senda que Kaori se introduz, ao ser salva por Kitarô, que vê nela alguém que pode ajudá-lo nesta busca, apesar dela ser também uma bakemono.

O convívio forçado pela necessidade e o compromisso de “um ano e nem mais um minuto” entre Kaori e Kitarô aos poucos vai se transformando em um relacionamento de tolerância primeiro, depois, de amizade.

Spoiler:
Assim, de monstro em monstro vão seguindo a pista do terrível Shinkû, uma senda formada por aventuras cada vez mais perigosas, até o confronto final entre dois grandes adversários: o monstro com séculos de experiência e o samurai com vontade férrea motivada pelo desejo de vingança. 

O clímax do livro é muito bem conduzido, sendo o maior inimigo de Kitarô a verdade que ele não quer ver.

Um detalhe de estilo 

Giulia Moon abre a história com um prólogo onde Kitarô, à beira do inferno, ouve o chamado de Kaori. Pouco depois muda para o século XXI onde Kaori conversa com Takezo (outro samurai, personagem que aparece nos livros anteriores) discutindo sobre o terremoto e isso leva a lembrar-se de Kitarô. Parenteses abertos que serão fechados no devido tempo. Isso cria na cabeça do leitor um gancho forte para ele continuar a leitura. 

Ao terminar o livro, Kaori opta por um fechamento típico de conto de fadas, um outro gancho, este gerando expectativas:

"Bem, mas isso é uma outra história que será contada em uma outra ocasião."

Excelente leitura!

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Kaori e o Samurai sem braço. Giulia Moon. Giz Editorial. Na Livraria Cultura.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ela


Ela
Título Original: her
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Rooney Mara, Olivia Wilde, Scarlett Johansson
Produção: EUA
Ano: 2013

Sinopse: Theodore Twombly é um homem solitário. Recém divorciado, busca refúgio de sua solidão nas redes sociais ou em jogos de computador. Seu trabalho consiste em escrever cartas para pessoas num site especializado e ironicamente, uma parte de seus clientes são casais apaixonados. Um dia resolve comprar um sistema operacional (SO) dotado de inteligência artificial que obedeceria a comando de voz e seria capaz de ter consciência, o que o tornaria muito mais útil e interessante. Theodore configura o sistema para ter uma personalidade feminina que assume o nome de Samantha e como além de ter consciência ela também teria capacidade de aprendizado e evolução, vai se moldando à personalidade do proprietário. Logo começa a haver um relacionamento entre eles.

O filme lida com algumas coisas bastante comuns nos dias de hoje: a solidão e a interação social via redes sociais virtuais. Perfis fakes ou mesmo reais onde mostramos não quem somos mas quem desejamos ser são cada vez mais comuns. 




Trailer

Spoiler:
Theodore não sabe lidar com suas próprias emoções e esta foi a causa do divórcio. O relacionamento progride rápido porque Samantha é alguém com quem ele consegue se abrir. Todavia, quando o relacionamento avança os bloqueios de Theodore com qualquer envolvimento começam a aparecer.

O filme lida muito bem tanto com o humor quanto com o drama tanto dos relacionamentos reais como os virtuais e os artificiais, dando verosimilhança à trama. Por exemplo: Samantha é um ser sem corpo e sem vivências e lidar com isso são as primeiras preocupações dela. Por outro lado, sua capacidade de interação múltipla e de grande massa de dados que processa com grande velocidade de processamento, conferem a ela uma complexidade grande, com a qual Theodore terá que lidar.

Aos poucos tanto o personagem como os espectadores vão percebendo que um relacionamento é formado por um e pelo outro, não importando que o outro seja um ser de carne e osso ou uma inteligência artificial habitando a “nuvem”, apresentando alegrias e tristezas.

Filme excelente!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Dieselpunk – Arquivos Confidenciais de uma bela época

Dieselpunk – Arquivos Confidenciais de uma bela época
Autores: Carlos Orsi, Tibor Moritz, Octávio Aragão, Hugo Vera, Gerson Lodi-Ribeiro (organizador), Antonio Luiz M. C. Costa, Cirilo Lemos, Sid Castro e Jorge Candeias
Editora: Draco
Ano: 2011
384 páginas

Sinopse: Depois do vapor, vaio o Diesel. Na linha do retrofuturismo, inaugurada com o gênero Steampunk, o Dieselpunk coloca como motor principal da sociedade o óleo diesel e se situa normalmente entre guerras, às vezes avançando até os anos 50. Como o Steampunk, os escritores imaginam artefatos e alternativas históricas, possíveis mas não realizadas durante o período retratado. 

A Fúria do Escorpião Azul – Carlos Orsi

O escorpião Azul é um herói num Brasil governado por um governo socialista, com características stalinistas. Agindo nas sombras, tenta desbaratar um golpe orquestrado pelo governo brasileiro e uma potência estrangeira. Cenas de ação do herói muito bem narradas, bem como o retrato o clima de opressão de um regime stalinista. 

Grande G – Tibor Morritz

Tibor compõe quase uma fábula, uma luta entre duas cidades, Steamcity, atrasada e vivendo na era do vapor, e Smokecity, que vive na era do Diesel e mantém dominância sobre Steamcity. Eu disse quase, por que em uma fábula há dois lados, o do bem e o do mal, porém neste conto não há um lado que se torna simpático aos nossos olhos, bem como os personagens principais envolvidos numa trama familiar, o Grande G e sua neta. 

O Dia que Virgulino cortou o rabo da cobra sem fim com o chuça excomungado – Octavio Aragão

O título lembra literatura de cordel. O conto narra com elementos retrofuturistas um possível encontro entre Luiz Carlos Prestes e Virgulino Ferreira, o Lampião. Há interesses de gente que manipula este encontro, fornecendo armas para um ou outro lado, colocando-os numa situação-limite de destruição mútua.

Impávido Colosso – Hugo Vera

Brasil e Argentina estão em confronto. A esperança dos brasileiros está no uso de robôs gigantes. Boa trama de espionagem e de batalhas entre robôs.

O país da aviação – Gerson Lodi-Ribeiro

De forma episódica, às vezes parecendo um relatório, outras um compêndio de história, o conto narra o desenvolvimento da aviação ao longo de aproximadamente 150 anos. O texto apresenta algumas boas ideias, prejudicadas pela forma de narrar, que torna a leitura enfadonha.

Ao perdedor, às baratas – Antonio Luiz M. C. Costa

O título inverte o mote de Quincas Borba, substituindo batata por baratas. Um assassino falha em sua missão por ter um pavor mórbido por baratas. Em sua fuga pensa ter visto uma barata gigante. O conto trabalha com o conceito de monstruosidade, que está nos olhos de quem vê. Emocionante.

Auto do extermínio – Cirilo S. Lemos

Na minha opinião, o melhor conto da coletânea. Um assassino que recebe orientações de uma Santa invisível, deve matar uma pessoa para anarquizar o processo eleitoral brasileiro, uma disputa entre comunistas, integralistas e uma tentativa de derrubar o poder monárquico. O texto mistura fantasia, terror e história alternativa. 

Spoiler: a Santa chama o protagonista de “homem-sonho”, pois aquela realidade é apenas um sonho de Santo Antão, que será desfeita assim que ele acordar.

Cobra de Fogo – Sid Castro

Num século XX alternativo, onde a Guerra Mundial aconteceu entre de 1919 a 1929 com  o uso de armas nucleares por ambos os lados, a Liga das Nações determinou que toda forma de guerra, atômica ou convencional estaria proibida. 

Para resolver os conflitos internacionais, a Liga das Nações determinou que as disputas fossem resolvidas por uma corrida de superlocomotivas pelos quatro cantos do mundo.

Há várias referências a filmes, começando pela Corrida Maluca e passando por Casablanca e Stalker. Personagens reais se misturam a personagens fictícios, compondo um enredo bem divertido.

Só a Morte te Resgata – Jorge Candeias

Há uma guerra entre os Lusitanos, império formado por Portugal e nações Africanas e os Aliados, um grupo de nações europeias brancas e racistas. Um piloto dos aliados sobrevive a um ride aéreo. Ele recebera pouco antes uma carta de sua família e isso o ajuda a manter vivo e suportar a trajetória através dos países inimigos. Utilizando-se de vários disfarces vai convivendo com elementos de várias etnias, sendo confrontado internamente com seu preconceito de raça e de gênero. 

Este conto difere fundamentalmente do restante da coletânea por se fixar no lado humano do personagem, deixando os conflitos políticos como pano de fundo.

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Dieselpunk – Arquivos Confidenciais de uma bela épocaGerson Lodi-Ribeiro (organizador). Editora Draco. Livraria Cultura.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O País dos Cegos e outras histórias

Trata-se de uma coletânea de contos de H. G. Wels em pré venda a Livraria Cultura..

Mais conhecido por seus romances como a Máquina do Tempo e A Guerra dos Mundos, Wells é um excelente contista.

Esta coletânea traz dezoito histórias, mas, infelizmente, as resenhas que li não traziam a lista de contos. Temos que confiar na habilidade de Wells em escrever e na de Bráulio Tavares (excelente tradutor e escritor) em selecionar e traduzir os textos.

Eu conheço vários contos de Wells e todos que li eram muito bons. O que dá o título à coletânea é O país dos Cegos, uma fábula em torno o dito popular Em terra de cegos quem tem um olho é rei. 

Um explorador descobre uma civilização formada por seres humanos que há várias gerações perderam a visão. Este explorador julga ter uma vantagem e age no sentido de querer se tornar rei deste povo. Spoiler: descobre então que ver num lugar onde ninguém vê não é vantagem nenhuma e ele passa a ser o diferente, o anormal.

A maioria das histórias que conheço especulam com a ciência da época, a sociedade e o comportamento humano. Normalmente seu texto é leve, ás vezes pontuado por humor, outras com críticas severas tanto à sociedade de sua época como com os seres humanos de um modo geral.

Nerd Shop

Trad. Barulio Tavares.
Editora Alfaguara Barsil

Em pré venda da Livraria Cultura.