terça-feira, 31 de julho de 2012

Páginas do Futuro – Contos Brasileiros de Ficção Científica



Autores: Bráulio Tavares (org), Joaquim Manuel de Macedo, Raquel de Queiroz, Ataíde Tartari, Joaquim Manoel de Macedo, Oswald Beresford, Rubem Fonseca, Finisia Fidelis, Fábio Fernandes, Fausto Fawcett, André Carneiro, Luis Bras, Jerônymo Monteiro, Ademir Assunção.

Ilustrações: Romero Cavalcanti

Editora: Casa da Palavra

Ano: 2012

160 páginas

Sinopse: Bráulio Tavares busca reunir neste volume diverso autores, de várias épocas da literatura de ficção científica. Alguns textos forma feitos por autores ligados ao mainstream, como é o caso de Joaquim Manuel de Macedo e Raquel de Queiroz outros militam exclusivamente na ficção científica, como é o caso de Finisia Fidelis ou ainda outros que transitam entre os dois mundos como o caso de André Carneiro e Luis Bras, gerando visões sobre o gênero e sobre a maneira de mostrar o futuro bastante diversificada. O texto é precedido por um bom ensaio do organizador sobre o gênero em si e sobre as razões de suas escolhas. Cada conto é precedido por uma pequena biografia de cada autor, contextualizando-o no tempo e espaço para que o leitor possa ter uma melhor apreciação daquilo que vai ler.

Ma-Hôre – Raquel de Queiroz

Uma excelente história sobre um alienígena que é tirado de seu mundo por uma expedição de humanos. O grande questionamento é: temos o direito de interferir no destino de criaturas apenas por mero capricho? O texto é belíssimo, flertando com a prosa poética e está focado no alienígena.

Veja seu futuro – Ataíde Tartari

Um rapaz descobre em uma loja no centro velho de São Paulo um fotógrafo que, por meio de uma máquina, era capaz de mostrar o futuro para quem desejasse ver. Mesmo com a advertência de que a maioria das pessoas não gostava do resultado, o rapaz pede pra ver o seu. Ao contrario da maioria, rapaz gosta do que vê e procura o velho fotógrafo toda vez que tem de tomar alguma decisão importante na vida. O desfecho é bem conduzido, chegando a surpreender o leitor.

O Fim do Mundo – Joaquim Manoel de Macedo

Um jovem ator acha quer o mundo vai acabar e decide escapar da hecatombe a qualquer preço. O conto é hilariante, com uma crítica social aguda e mordaz à sociedade da época. Percebemos que muita coisa não mudou do século XIX para cá. É particularmente engraçada a cena do empilhamento dos bancos (instituições financeiras) para que personagem consiga alcançar a lua (uma metáfora para os juros estratosféricos – qualquer semelhança com hoje em dia é mera coincidência).

O Inimigo Gaseificado, ou a Vingança do Senhor Concreto – Oswald Beresford

Qualquer um que topasse com um título destes, para um conto de ficção científica publicado nos anos 20, certamente ficaria tentado a pelo menos saber do que se trata.

Oswald Beresford é um autor brasileiro que morreu jovem e teve sua principal obra queimada pelo próprio pai, mostra neste conto uma grande imaginação.

Num futuro distante dois empreendedores se digladiam disputando o mesmo mercado: pessoas próximas da morte. Um, por meio de produtos farmacológicos e tecnológicos, se propunha a aumentar a vida e restaurar a juventude de quem o procurasse. O outro vendia suicídio assistido, para aqueles que desejassem morrer.

O texto é conduzido com muito humor, mais corrosivo que o de Macedo, já que tocava não só comportamentos e política, mas algumas questões filosóficas mais profundas.

O Quarto Selo (Fragmento) – Rubens Fonseca

Rubens Fonseca é um autor conhecido por ter dada uma cara brasileira ao romance policial. Embora fã do gênero, quase nunca escreveu ficção científica e este conto é uma exceção. Ambientado num Rio de Janeiro futurista, high tech e distópico, é um bem conduzido thriller sobre ação de assassinos profissionais.

Exercícios de Silêncio – Finísia Fidelis

Neste conto, presente também na antologia Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica, um astronauta tem que resolver um problema em sua espaçonave, porém está num planeta sem recursos técnicos. A única coisa que os nativos têm a lhe oferecer é um exercício de meditação, teoricamente para ajudá-lo a suportar seu exílio forçado naquele mundo.

Mesmo para os que já leram este conto na citada antologia (ou em algum outro lugar, visto que ele é um dos mais reproduzidos), o conto merece uma segunda leitura.

Uma Breve História da Maquinidade – Fábio Fernandes

Parodiando um compêndio de história, o autor conta a história das Máquinas, mostrando sua evolução desde a segunda criatura do Dr. Victor Frankstein, que abandonara os cadáveres para usar engrenagens e vapor. A narrativa pode se classificada de Steampunk. Há algumas passagens dignas de nota: como a adesão de Marx à luta pelos direitos das máquinas e a guerra entre duas empresas fabricantes de Cérebros Mecânicos.


Vanessa Von Chrysler – Fausto Fawcett

Uma mulher selvagem, descendente de vikings, é congelada pelos nazistas, como o último exemplo da mais pura representante da raça ariana. Vendida num leilão, é ressuscitada por um antiquário. Num ritmo frenético, o autor conta a história de sua fuga e caçada pelas ruas do Rio de Janeiro. 

Do outro lado da janela – André Carneiro

Um homem compra uma TV e nota uma mancha na tela e nenhum técnico consegue tirá-la. Aos poucos, a mancha transforma-se numa obsessão. Um conto com ares do seriado Além da Imaginação. Uma fábula bem escrita sobre o fascínio que a televisão exerce sobre nós, independente de seu conteúdo.

Déjà-vu – Luis Brás

Um conto sobre viagem no tempo, com uma influência bem marcada de Lovecraft e que trabalha com a forma de narrar. O conto pode ser lido no sentido normal, do começo ao fim, onde o tempo está voltando, ou no sentido inverso, do fim para o começo, onde o tempo anda para frente. As duas experiências de leitura, são, como diria Spock, fascinantes.

O Copo de Cristal – Jerônymo Monteiro

Outro conto que também foi bastante reproduzido e que apareceu na antologia  Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica. Um copo de cristal tem o poder de mostrar o futuro, retratando vários momentos da humanidade. Conto com forte mensagem anti-belicista.

15 Minutos – Ademir Assunção

O núcleo de um software de controle de uma rede mundial está prestes a ser invadido por um hacker de codinome Unabomber (lembrando um ativista dos anos 70-80). O conto tem um suspense bem conduzido até o desfecho, com um final que nos faz pensar.  Um bom arremate para a coletânea.

domingo, 29 de julho de 2012

TimeQuake – um romance onde um dos protagonistas é o próprio tempo


TimeQuake
Título original(inglês): Timequake
Autor : Kurt Vonnegut
Tradução: Waldea Barcellos
Ediotora : Rocco
Ano:  1999
230 páginas

Sinopse:  O narrador e o escritor Kilgore Trout relatam o evento ocorrido em 2001, quando, segundo Trout, o Universo deu um “soluço”: em vez de  continuar a expandir, resolveu se retrair, saltando dez anos para o passado, em 1991. Todos  as pessoas então foram obrigados a reviver estes dez anos, sem que tivesse a liberdade de mudar coisa alguma.

Esta premissa em si já é assustadora para maioria das pessoas. Todos os erros e acertos cometidos teriam que ser feitos de forma exatamente igual. O pior disso é as pessoas tinham memória das besteiras que fizeram. Um exemplo: uma mulher, praticando um salto ornamental erra e cai sobre o marido e ele fica paraplégico. A mulher vai executar o salto exatamente da mesma maneira e o homem não poderá se desviar a tempo, mesmo sabendo o que vai acontecer.

Quando, segundo Trout,  “o livre arbítrio é reestabelecido”, as pessoas já estão acostumadas a agir no automático e o resultado é um caos já que quem, por exemplo, estava descendo uma escada rolante, em vez de dar um passo à frente, para abruptamente. Freios não são acionados, pessoas param no meio de uma travessia de rua, etc..

Vonnegut mistura relatos de flashes destes eventos com fatos da suposta vida pessoal do narrador (com fortes traços autobiográficos) e de Kilgore Trout e de eventos posteriores, quando “o livre arbítrio foi restaurado”. O autor recheia as passagens com um humor corrosivo que atinge a todos, inclusive a si mesmo. Este humor é muito próprio de Kurt Vonnegut, como em Matadouro 5 e Pastelão ou solitário nunca mais.

Um excelente romance, que infelizmente está fora de catálogo, porém pode ser encontrado em sebos e nas máquinas de autovenda presentes no metro de São Paulo. Vale a pena ler!


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dia do Escritor


Dia do Escritor-cortesia de Adriano Siqueira


Hoje, 25 de Julho, se comemora o Dia do Escritor e nada melhor para homenagea-los do que ler um livro de autor brasileiro, sobretudo novos autores.

O Blog do Pai Nerd sempre procurou prestigiar a literatura brasileira, sobretudo a Fantástica, portando está repleto de sugestões, basta seguir este link, onde a maioria das resenhas é de autores nacionais.

Há também outros sites e blogues que procuram divulgar a literatura brasileira, como É só outro Blog, o Mensagens do Hiperespaço, o Clube dos Leitores de Ficção Científica, o Vá ler um livro, o Pop4, o Literatura de CabeçaO Bule, o Cranik, a coluna do Roberto Causo, o Cobra Norato  entre outros.

Boa leitura

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Avalovara - Um romance literalmente fantástico


Avalovara
Autor: Osman Lins
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2005 (6ª Edição)
384 páginas

Sinopse: O leitor é convidado a a percorrer um labirinto de letras que identificam capítulos, onde é narrado de forma fragmentária e superposta o relacionamento de Abel com três mulheres: Cecília, Roos e uma que é só identificada por um símbolo.

No labirinto aparece outras histórias: a do suposto pergaminho da Biblioteca Marciana de Veneza (de Marcos, não de Marte) que contém o quadrado mágico com a frase em latim: SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS, a do relógio de Julius Heckethorn, a história da personagem representado por um símbolo e a história do próprio Abel.



A distribuição dos capítulos segue uma sequencia ditada por dois parâmetros: o quadrado mágico com a frase latina e um a espiral que o percorre.



Assim o primeiro capítulo seria R do canto superior direito (a primeira letra a ser tocada pela espiral), seguindo pela letra S, do canto inferior direito, depois R novamente (canto inferior esquerdo e assim sucessivamente, até a letra N (única letra que não se repete), no centro do quadrado, onde teoricamente termina a narrativa.

Cada uma das letras identifica uma das narrativas. Por exemplo, a letra S conta a história do escravo frígio que inventara este quadrado para seu senhor romano.

O leitor pode assim ter várias experiências de leitura: ler seguindo a sugestão da espiral, ler  todos os trechos com a letra R, e depois O e assim por diante, ler seguindo uma ordem aleatória, e quantas inventar, como o próprio quadrado mágico sugere, já que qualquer sentido de leitura fornece sempre a mesma frase.

O livro não é somente uma forma diferente de escrever, mas tem muitas boas histórias a contar, todas marcadas pelo o fantástico e com um teor erótico bastante manifesto. E todas convergem para o mesmo desfecho, na letra N.

Atenção! Spoilers!

Por exemplo, o relógio de Julius Hockethorn é uma máquina construída não como um relógio mas como modelo do universo, onde contar as horas é de menor importância. 

Ou máquina que um dos personagens vê sobre sua cama, que pode ou não ser uma alucinação. 

Ou o ser que dá nome ao livro: Avalovara seria um pássaro gigantesco formado por milhares de pássaros pequenos (a própria metáfora do romance).

Ou ainda, uma das personagens que sofre uma queda e tem uma morte aparente quando criança. A partir de então passam a coabitar em seu corpo duas pessoas: uma, com a sua idade real e outra, ela mesma como se tivesse nascido naquele dia.


E cada uma das mulheres com quem se relaciona tem um aspecto diferente do relacionamento erótico: Cecília, tumultuado, Roos, cheio de desencontros e a personagem sem nome, intenso.

Avalovara seria o que eu classificaria como Obra Prima e recomendo fortemente sua leitura.

Nerd Shop


Avalovara, Osman Lins, Companhia das Letras. Livraria Cultura.



terça-feira, 3 de julho de 2012

A Lua atrai amigos


No dia 20 de julho, a 43 anos, o homem pisou na Lua pela primeira vez. E, talvez não por coincidência, no Brasil se comemora o Dia do Amigo



Pensando nisso, o colega de letras Ademir Pascale, pelo segundo ano consecutivo, resolveu convidar escritores e editores para oferecerem descontos em suas publicações e, pelo ato de presentear, incentivar a leitura de autores nacionais.




Mais uma vez participo com meu livro Sombras e Sonhos, publicado pela  Balão Editorial.

Sombras e Sonhos


Para quem não conhece Sombras e Sonhos é um livro que reúne vários contos e um poema, dos gêneros Ficção Científica e Fantasia. Um desgustação pode ser lida aqui.

Paraíso Perdido - Salvador Dali