segunda-feira, 22 de março de 2010

Versilêncios

Ficha Técnica

Versilêncios
Autor: Gerusa Leal
Editora: Edições Bagaço
Ano: 2008
122 páginas

Sinopse: Coletânea de poesias de Gerusa Leal, que recebeu o premio Edmir Domingues de Poesia de 2007, da Acadêmia Recifense de Letras.

O título deste livro, Versilêncios, chamou-me a atenção pois é um excelente jogo de palavras que traduz o conceito aparentemente paradoxal que a autora vê na poesia: Versos que traduzem sons servem para que possamos ver o silêncio.

E que silêncio a autora quer que vejamos? O nosso silêncio interior, que acolhe a palavra com que os versos são moldados, uma das matérias primas que compõe a sua poesia. E quais seriam as outras? Os sentimentos que estas palavras arrumadas em verso despertam no leitor.

As poesias são agrupadas em "capítulos" nos quais a autora nos mostra um dos possíveis caminhos para ler o que ela escreve.

Começando por Aquecimento, em que a autora se coloca no próprio ato de escrever poesia – destino ou um desatino – que provavelmente acompanha todo poeta. A inspiração repentina e o branco andando de mãos dadas.

Após o Aquecimento, a autora arrisca mais um passo em seu caminho, Partindo rumo à sua Trajetória. Sua Trajetória é pontuada por eventos e pensamentos (autobiográficos? não podemos nos esquecer que, como nos diz Fernando Pessoa, "o poeta é um fingidor"), com os quais ela tenta dizer-nos (e a ela mesma) quem é.

Em A Dois nos leva a um caminho onde a sensualidade habita ou os encontros e desencontros da nossa busca da felicidade através de outro ser humano, com quem dividimos carícias e sentimentos. Ilusão? Solidão? Atire a primeira pedra quem nunca teve uma ou outra...

Se palavra ainda estava contida, a autora a liberta em Soltando Amarras, para depois nos mostrar o seu (nosso?) cotidiano, que vivemos sem ver a poesia que habita nele.

Ela, Ele, Os Outros nos mostra a mitologia pessoal que acompanha a autora. O mito feminino de Lilith domina a paisagem.

Nós nos lembra uma relação pessoal, porém logo surge Laing para nos dizer que "nós" pode significar "laços", ambiguidade impossível em inglês.

Ocasos nos remete a um fim próximo, de um tempo ou de algo, que talvez volte ao amanhecer, nos conduzindo a Idas e vinda.

E antes do final, Gerusa Leal nos reserva uma Degustação, nos lembrando a filosofia de Quincas Borba.

E, Chegando termina seu caminho.

Há dois ensaios, um abrindo, Versilêncios Femino Sustantivo, de André Cervinski e outro fechando o livro, O poema perfeito é a morte. Ainda que eles tenham sua utilidade, sugerimos que os leia bem depois de ter apreciado os versos. Qualquer tentativa de analisar ou classificar os poemas de forma acadêmica, pressupõe um dissecar, que nos lembra o dissecar da biológica: após termos cortado o animal pra vê-lo, percebemos que o matamos. Isso pode acontecer se lermos os ensaios antes, pois adquirimos o viés do ensaísta e deixamos de perceber os versos em sua plenitude.

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