domingo, 14 de outubro de 2012

O grito sol sobre a cabeça


Editora: Terracota
Ano: 2012
168 páginas

Sinopse: Livro que reúne dezenove contos, alguns inéditos, outros não, de temáticas variadas, indo da ficção científica ao absurdo, de maneira bastante inovadora.

Brontops Baruq é pseudônimo de um escritor paulista, que se aventurou na ficção científica, publicando trabalhos em alguns dos Portais (coletâneas de contos organizadas por Nelson de Oliveira), e em antologias publicadas pela Draco e pela Terracota. Foi ganhador o primeiro Prêmio Hydra, com o conto História com desenho e diálogo, presente neste livro.

A primeira constatação logo no título: Brontops sabe criar metáforas inusitadas. E não fica só nas metáforas. Os ambientes e as histórias são bem originais, fugindo das estruturas tradicionais.

Isso se nota já no primeiro conto, Extensão, onde um homem está nu num mar raso, com águas límpidas e céu azul. Não sabe como foi para lá e o único recurso de que dispõe, um celular, se revela inútil. Um situação desesperante, com desfecho com contornos que reforçam o absurdo.

Em Hipocampo, a situação retrata é o relacionamento entre um homem uma mulher, que ele tenta lembrar, já que sua memória foi apagada. A cena é reconstruída aos poucos, misturando lembranças e suposição e ficamos sabendo porque sua memória foi apagada. Muito bom.

O próximo conto é {os quereres}, onde um casal discute como será seu filho, junto com o atendente de um empresa que preparará o material genético para os filho de seus sonhos. A discussão entre os três parece uma decisão de compra de um produto de consumo. Esta história se contrapõe com a de uma viúva que deseja um filho do marido falecido. Neste conto o destaque é para a veia irônica do autor.

O conto Zênite, Nadir e drosófila coloca pessoas aparentemente comuns em uma situação inusitada: um dos filhos do casal foi escolhido para ser o Judas daquele ano. Na sociedade em que viviam, uma vez por ano, uma criança era escolhida para encarnar o mal e ser punida. Assustadora a passividade com que todos aceitam essa situação. Bem construído.

A seguir, temo 6. Rebobinados, um conto onde predomina o humor. Um condenado, em troca de um perdão, escolhe ser voluntário de uma viagem interestelar. Só que ele tem como parceiro um outro condenado, um maníaco sexual.

Em O xadrez das mariposas, um país qualquer tem uma política de dar superpoderes a quaqleur cidadão. Tanto o cidadão como o poder são escolhidos aleatoriamente e isso nem sempre é um benefício. Boa sacada.

Pausa é o mais longo dos contos. Dois casais de guerrilheiros lutam em uma guerra civil, aparentemente no EUA, em que de um lado estão os criacionistas e do outro os evolucionistas. A história é emocionante, com personagens bem construídos. Há boas cenas de batalhas.

Ficção Especulativa é um conto que mistura uma história policial com viagens no tempo. Detetives visitam a cena do crime antes dele acontecer. Aqui a forma de narrar é bem criativa, comparndo o conto ora com um filme, ora com um romance.

(História com desenho e diálogos) foi o conto ganhador do  Prêmio Hydra. A narrativa parece um transcrição literal de um caderno onde há desenhos. Os desenho são descritos de uma maneira fria, como se fosse a transcrição feita para um processo jurídico. O texto parece de um criança vivenciando uma invasão alienígena. Entre os desenhos está Spaceboy, aparentemente um personagem de TV. Este conto é realmente merecedor do prêmio que ganhou. Um história bem contada, de uma maneira bem criativa.

Em O propósito, um menino é o ultimo humano da Terra e, juntamente com seu cão viralata, são recolhidos por alienígenas. Este menino é Spaceboy. Ele está começando a entrar na adolescência, e, como não tem ninguém para se comparar, deseja aprender a ser humano.

O amadurecimento ou Errare humanum est é mais um conto onde aparece Spaceboy. O agora rapaz se encontra com uma humana não terrestre e pede para ela ser sua professora. A narrativa dá a entender que se trata de um programa de televisão, talvez um reality show. Final carregado de ironia.

Planetas invisíveis é um série de quatro contos. No primeiro, Diana, a população de um planeta inteiro decide se encolher, para poder sobreviver. Outro conto pontuado pela ironia. Final surpreendente.

A seguir, Mafalda, um planeta completamente surreal, que torna um sinopse muito difícil. O conto está muito bem escrito.

Natasha é uma alienígena que precisa retorna a seu planeta natal para poder dar a luz a seu filho. Narrativa também surreal.

Em Astronauta, um homem maltrata a androide que o serve como escrava, inclusive sexual. A resignação programada o irrita e ele sempre aumenta a dose de dor. Um bom texto com um bom desfecho.

Em Buraco no céu ou 22 de Dezembro de 2012 uma invasão alienígena ocorre e todos estão morrendo de medo, dada similaridade com centenas de filmes de invasão que todos viram, aguardando o fim. Mas uma vez o desfecho é ponto alto do conto.

Sésamo, bananas & Kung Fu conta o que possivelmente aconteceria se o teletransporte estive ao alcance de qualquer um. Hilariante.

Noés mostra uma solução pra lá de radical para resolver o problema dos sem teto. Humor negro, mas bem inteligente.

Kripton fecha com chave de ouro o livro. Por dois motivos, é uma história apocalíptica e contada de um forma muito poética.

Em suma: Um excelente livro que consegue reunir boas histórias, em formatos inovadores. Há uma ironia fina, que percorre quase todos, que às vezes se transforma em humor, um tanto negro, mas muito inteligente. Há também poesia, absurdo e surrealidade. Na medida certa.

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