Autores:
Eric
Novello (org), Antonio
Luiz M. C. Costa, José Roberto Vieira, Tiago Toy, Carlos Orsi,
Douglas MCT, Rafael Lima, Ana Cristina Rodrigues, Erick Santos
Cardoso, Rober Pinheiro.
Edirora:
Draco
220 páginas
Sinopse:
Fantasia Urbana é um gênero da
Literatura Fantástica, onde o elemento essencial para caracterizá-lo
é a presença do fantástico em uma cidade. Os contos podem ser de
Fantasia, Horror, Terror, Ficção Científica ou Policial (deste que
tenha a presença do fantástico). O gênero nasceu da narrativa
policial, onde o resultado da investigação levava a algo
sobrenatural, como o criminoso ser um demônio, por exemplo, ou
ocorria em uma ambientação sobrenatural. Aos poucos o gênero foi se
livrando das amarras estilísticas e ampliando sua abrangência.
O organizador se
preocupou em colocar autores que pudessem abranger algumas das
facetas deste gênero.
Agora
pode ser contado – Antonio
Luiz M. C. Costa
O conto
transcorre no universo do romance do autor, Crônicas de
Atlântida, o Tabuleiro dos Deuses e
é narrado em primeira pessoa, como se fosse um discurso no
aniversário da revolução Comuna de Atlantis,
um dos eventos do romance.
Como o autor
precisa prender a atenção da plateia, usa muitos recursos próprio
de discursos, como pontuar alguns trechos com humor ou apelar para os
sentimentos do público, causando surpresa, fazendo ressurgir
sentimentos negativos a governantes e membros da antiga elite, e
atraindo a compaixão do público para os oprimidos, em especial para
a escrava que o narrador libertou, objeto da narrativa.
O conto é
bastante simples e sabemos o que vai acontecer, mas o lemos com
prazer, principalmente pelo estilo da narrativa. Um pequeno ponto
negativo é justamente resultado deste ponto positivo. Como
supostamente o conto é o levantamento taquigráfico de uma palestra,
vez por outra aparece entre parênteses as reações da plateia:
(risos), (aplausos). A sensação que se tem é mesma de estar
vendo um programa humorístico com uma claque mal ensaiada. Todos
estes comentários poderiam ser simplesmente suprimidos sem prejuízo
ou até com melhora na fluência do texto.
O Monge –
José Roberto Viera
O
conto faz parte do universo do Baronato
de Shoah. Um Samurai vai
ser submetido a um julgamento com cartas marcadas e sua advogada,
apesar de perceber a farsa fará de tudo para defendê-lo. O crime do
Samurai? Ter matado dois batalhões inteiros do exercito de elite. O
agravante? Ser ele estrangeiro. O que está em jogo são diferentes
códigos de ética e o enredo procura mostrar principalmente o ponto
de vista do Samurai.
Diferente o
primeiro, onde a narrativa é quase linear e bem tranquila, aqui as
coisa acontecem rápidas e de forma espetacular, beirando ao exagero,
sobretudo nas cenas finais onde, sem conotação aparente com o
enredo, surgem monstros (mecânicos?), apenas para salientar a
capacidade de luta do Samurai e seus princípios pessoais.
O conto vale
pelos dois personagens, a advogada e o Samurai.
Heroína –
Tiago Toy
Um casal amantes
em diferentes pontos da cidade, decidem se ver apesar do apocalipse
zumbi em andamento. Reverem-se valerá o risco de sair às ruas? O
conto desenvolve-se bem e foge bastante das narrativas de zumbis
tradicionais. O foco da narrativa varia ora no rapaz ora na moça, com
um uso bem sacado do discurso indireto livre. O conto consegue um bom
clima de suspense desde as primeiras frases. Muito bom!
Antropomaquia
– Carlos Orsi
Num
mundo onde os mortos vivos dominam e estão organizados numa sociedade, um grupo de humanos procura criar uma resistência. Um
humano, disfarçado, se infiltra no universo dos mortos vivos, que
lembra bastante o submundo do crime de filmes noir.
No meu ponto de vista este o melhor conto da coletânea e um prato
cheio para quem gosta do horror mais cru. Além disso, o enredo
cumpre magistralmente a proposta da coletânea, pois o ambiente é
parte integrante do processo narrativo – quase um personagem – e
poderia ser o cenário de muitas outras histórias.
Onde Termina o
Inferno – Douglas MCT
O
autor aqui presta uma homenagem ao clássico do cinema Bravura
Indômita, recém
refilmado pelos irmãos Cohen. Uma menina, Kesha, contrata um
pistoleiro, Klint, para reaver os bens roubados por um bandido com o
prosaico nome de Crocodilo.
Kesha
é diretamente inspirada em Mattie Ross, e Klint em “Rooster"
Cogburn, de Bravura
Indômita. A diferença
é que o destino final será o próprio inferno. A originalidade do
texto fica por conta dos tipos fantásticos bizarros que são
encontrados pelo caminho e algumas situações que nos causam
surpresas.
A Cidade
Perdida – Rafael Lima
Um forasteiro é feito prisioneiro em uma cidade e é libertado por uma jovem, que propõe
um acordo que envolve um tesouro. Apesar da desconfiança, ele aceita
(contar mais que isto é dar spoiler).
Uma boa história com reviravoltas bem construídas.
O Rei Máquina
– Ana Cristina Rodrigues
Um ser alado está
condenado na Cidade Sem Nome a espera de uma possível segunda
chance. Ele servira um rei a quem traíra por não estar em seu posto
no momento de uma invasão. Após muitos anos esta oportunidade
surge. Ele deve salvar o Rei Máquina e depois servi-lo.
Um conto quase
poético, amenizando a crueza de alguns textos. O tema da redenção
é muito bem desenvolvido. Há que se destacar também uma critica
bastante sutil e bem inserida na história à burocracia de órgãos
públicos
Em nome das
mães – Erik Santos Cardoso
Um inquisidor
investiga um assassinato brutal de duas jovens. A crueldade do
criminoso se contrapõe à crueldade oficial feita em nome das
deusas. O autor coloca tudo sob o ponto de vista do inquisidor que vê
sua violência tal qual Torquemada: uma forma de purificação. Um
bom conto, com sabor de policial e com um bom questionamento sobre o
papel da violência do Estado e da Religião, sem ser panfletário.
A alma boa –
Rober Pinheiro
Um rapaz é
sobrevivente de massacre e é confinado em uma prisão. Desconhece o
motivo de ser poupado e por que deve permanecer preso. Após alguns
dias, começa a receber regularmente a visita de uma mulher madura
que o trata com humanidade. Em breve descobriria o motivo de ter sido
poupado e seu provável destino.
A linguagem leve
e fluída, com ares de poesia contrasta com o clima de sofrimento
presente na maioria das cenas. Um bom conto com desfecho
surpreendente.
Conclusão
De um modo geral
a coletânea cumpre seu papel de trazer as várias nuances da
fantasia urbana, dando um bom panorama do gênero. Um bom livro para
quem quer conhecer este tipo de narrativa ou para quem simplesmente
quer tirar prazer da leitura.
Eu adorei a definição que você deu para o gênero fantasia urbana, será que eu poderia pegar com todo os créditos para um post que estou preparando???
ResponderExcluirPode usar, mas cite a fonte.
ExcluirObrigada por disponibilizar! Fico muito feliz! Como disse no pedido darei com certeza seu crédito, nem por um momento passou por minha cabeça usar seu texto sem te dar os devidos créditos, citando seu blog e linkando para esse post, não fazer isso e cometer crime de plagio.
ExcluirObrigada uma vez mais!