Há
algum tempo, publiquei neste
blog um artigo que tratava da relação dos sonhos com o cinema e
a ficção científica.
Resolvi
voltar a abordar o tema, visando agora incluir também a Literatura
Fantástica, justamente onde o sonho, o mito e a fantasia passeiam de
mãos dadas com os leitores.
Um
excelente precursor
Começarei
por Shakespeare. Em sua peça A Tempestade ele
escreve a seguinte frase: “Somos feitos da mesma
substância de que são feitos os sonho”,
que ao lado de uma de suas frases mais citada: “O mundo é um palco, e todos, homens e mulheres, atores e nada mais”, presente na peça Do jeito que você gosta representa exatamente o que ele pensava a respeito do valor do sonho
como fonte de inspiração.
E
esta inspiração é levada a extremos na peça Sonho
de uma Noite de Verão,
onde o clima onírico está bem manifesto.
Tanto
A Tempestade
como
Sonhos de
Uma Noite de Verão foram
levados várias vezes às telas do cinema, mas só vou citar duas
adaptações. A primeira, um filme de 1956, Forbidden
Planet (O Planeta Proibido),
que, apesar de não ser muito fiel à peça, tem méritos próprios
por servir de inspiração a Star
Trek e
introduzir
um dos mais famosos robôs do cinema (Robby), que serviu de modelo
para o robô de Perdidos
no Espaço (que
também tirou deste filme inspiração para a sua nave).
Trailer
de O Planeta Proibido – reparem na abertura. Qualquer semelhança
com Star Wars...
A
segunda é uma antiga versão de 1935 de Sonho
de uma Noite de Verão,
onde,
apesar de ser preto e branco (ou talvez por causa disso) o clima
onírico está bem presente.
Sonho
de uma Noite de Verão, clip da versão de 1935, obtido no site da
TCM
Vamos
dar um salto de alguns séculos, parando em Edgar Alan Poe, Bran
Stocker e Mary Shelley, mestres em criar pesadelos. Estes três não
precisam apresentações e sua relação com o cinema também é
notória(sobre a literatura e cinema de terror e horror, recomendo
que deem uma passeadinha em outro post
deste blog, Os
Paradoxos do Horror
onde justamente é discutido este assunto).
Poe
simplesmente criou (ou pelo menos deu forma) à literatura de gênero,
fornecendo parâmetros para algumas das principais vertentes: terror,
horror, policial e ficção científica.
Bran
Stocker e Mary Shelley criaram dois ícones mais significativos da
literatura de terror e horror e que por isso mesmo forma para o
cinema. Os contos mais citados de Edgar Allan Poe são o Corção
delator e o Gato Negro (tem versão de O coração delator até
no Bob Esponja!). Reproduzirei aqui um desenho animado da UPA de O
Coração Delator, que é impressionante pela forma de narrar e
esolha das imagens e trilha sonora.
O
Coração Delator de Edgar Allan
Poe
Este
desenho animado mereceu a até alguns estudos acadêmicos, como A
transposição midiática em ‘O Coração Delator’, de Poe de
Camila
Augusta Pires de Figueiredo, cuja transcrição esta no Scrib.
Ainda
no século XIX, um sisudo professor de Matemática, que usava o
pseudônimo de Lewis Carrol, criou, na minha opínião, a personagem
mais onírica da literaturá fantástica: Alice. Em seus dois
romances, Alice
no País das Maravilhas e
Através
do Espelho, criou
toda uma gama de personagens e situações bizarras que só poderiam
estar povoando um sonho. Em Através
do Espelho, por
exemplo, Alice está sonhando, mas em um determinado momento encontra
o Rei Branco e é advertida pra não acordá-lo, pois “se ele
acordar tudo se desfará”, porque todos eles, inclusive a própria
Alice, eram personagens do sonho do Rei Branco! (Vejam bem: Alice
sonhava com o Rei Branco, que sonhava com Alice!).
Há
varias adaptações das obras de Carrol sobretudo de Alice no Pais
das Maravilhas para o cinema e a televisão. Recentemente tivemos
Johny Depp fazendo um excelente Chapeleiro Louco numa pretensa
“continuação” de Alice no País das Maravilhas.
Psicanálise
e Sonhos
Os
sonhos são uma das matérias primas usadas por Freud na composição
de sua teoria e ele mesmo apontou pontos de convergência entre a
arte e a psicanálise, como podemos ver no artigo Freud
e a Literatura,
de E. Portella Nunes e C. H. Portella Nune e nop artigo
Psicanálise
e Literatura
de
Luiz-Olyntho
Telles da Silva (que também é autor do livro de ficção Incidentes
em um ano Bissexto).
Arthur
Schnitzler, contemporâneo de Freud, colocou o universo onírico em
destaque em seu livro Breve
romance de sonho, onde, a partir do sonho erótico de uma
mulher, o autor contrói uma trama envolvente onde a própria
realidade assume contornos oníricos. Freud era amigo pessoal de
Schnitzler, que pode ter ajudado cientísta a compor sua teoria.
Este
livro deu origem ao belo filme póstumo de de Kubrik, De olhos bem
fechados.
Surrealismo
O
Surrealismo
é uma escola de arte que busca inspiração no Inconsciente,
recém-descoberto por Freud, que teve manifestações em todas as
artes, a começar nas artes visuais, no cinema e na literatura.
Com
certeza, uma escola de arte que se propõe a justamente a desvendar
e mostrar o inconsciente tem muito a dizer sobre sonho.
Mas
neste post, vamos apenas mostrar a animação Destino
de 2003 de cerca de seis minutos, baseada num
story board de 1946
feito por Salvador Dali numa tentativa de um
projeto conjunto com nada menos que Walt Disney! Fico imaginando as
discussões entre os dois: de um lado o caótico e revolucionário
Dali, do outro o sistemático e conservador Disney.
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