sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sonhos, Literatura Fantástica e Cinema


Salvador  Dali - Sonho Causado
Há algum tempo, publiquei neste blog um artigo que tratava da relação dos sonhos com o cinema e a ficção científica.

Resolvi voltar a abordar o tema, visando agora incluir também a Literatura Fantástica, justamente onde o sonho, o mito e a fantasia passeiam de mãos dadas com os leitores.

Um excelente precursor

Começarei por Shakespeare. Em sua peça A Tempestade ele escreve a seguinte frase: “Somos feitos da mesma substância de que são feitos os sonho”, que ao lado de uma de suas frases mais citada: “O mundo é um palco, e todos, homens e mulheres, atores e nada mais”, presente na peça Do jeito que você gosta representa exatamente o que ele pensava a respeito do valor do sonho como fonte de inspiração.

E esta inspiração é levada a extremos na peça Sonho de uma Noite de Verão, onde o clima onírico está bem manifesto.

Tanto A Tempestade como Sonhos de Uma Noite de Verão foram levados várias vezes às telas do cinema, mas só vou citar duas adaptações. A primeira, um filme de 1956, Forbidden Planet (O Planeta Proibido), que, apesar de não ser muito fiel à peça, tem méritos próprios por servir de inspiração a Star Trek e introduzir um dos mais famosos robôs do cinema (Robby), que serviu de modelo para o robô de Perdidos no Espaço (que também tirou deste filme inspiração para a sua nave).


Trailer de O Planeta Proibido – reparem na abertura. Qualquer semelhança com Star Wars...

A segunda é uma antiga versão de 1935 de Sonho de uma Noite de Verão, onde, apesar de ser preto e branco (ou talvez por causa disso) o clima onírico está bem presente.


Sonho de uma Noite de Verão, clip da versão de 1935, obtido no site da TCM

Vamos dar um salto de alguns séculos, parando em Edgar Alan Poe, Bran Stocker e Mary Shelley, mestres em criar pesadelos. Estes três não precisam apresentações e sua relação com o cinema também é notória(sobre a literatura e cinema de terror e horror, recomendo que deem uma passeadinha em outro post deste blog, Os Paradoxos do Horror onde justamente é discutido este assunto).

Poe simplesmente criou (ou pelo menos deu forma) à literatura de gênero, fornecendo parâmetros para algumas das principais vertentes: terror, horror, policial e ficção científica.

Bran Stocker e Mary Shelley criaram dois ícones mais significativos da literatura de terror e horror e que por isso mesmo forma para o cinema. Os contos mais citados de Edgar Allan Poe são o Corção delator e o Gato Negro (tem versão de O coração delator até no Bob Esponja!). Reproduzirei aqui um desenho animado da UPA de O Coração Delator, que é impressionante pela forma de narrar e esolha das imagens e trilha sonora.


O Coração Delator de Edgar Allan Poe

Este desenho animado mereceu a até alguns estudos acadêmicos, como A transposição midiática em ‘O Coração Delator’, de Poe de Camila Augusta Pires de Figueiredo, cuja transcrição esta no Scrib.

Ainda no século XIX, um sisudo professor de Matemática, que usava o pseudônimo de Lewis Carrol, criou, na minha opínião, a personagem mais onírica da literaturá fantástica: Alice. Em seus dois romances, Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho, criou toda uma gama de personagens e situações bizarras que só poderiam estar povoando um sonho. Em Através do Espelho, por exemplo, Alice está sonhando, mas em um determinado momento encontra o Rei Branco e é advertida pra não acordá-lo, pois “se ele acordar tudo se desfará”, porque todos eles, inclusive a própria Alice, eram personagens do sonho do Rei Branco! (Vejam bem: Alice sonhava com o Rei Branco, que sonhava com Alice!).

Há varias adaptações das obras de Carrol sobretudo de Alice no Pais das Maravilhas para o cinema e a televisão. Recentemente tivemos Johny Depp fazendo um excelente Chapeleiro Louco numa pretensa “continuação” de Alice no País das Maravilhas.


Psicanálise e Sonhos

Os sonhos são uma das matérias primas usadas por Freud na composição de sua teoria e ele mesmo apontou pontos de convergência entre a arte e a psicanálise, como podemos ver no artigo Freud e a Literatura, de E. Portella Nunes e C. H. Portella Nune e nop artigo Psicanálise e Literatura de Luiz-Olyntho Telles da Silva (que também é autor do livro de ficção Incidentes em um ano Bissexto).

Arthur Schnitzler, contemporâneo de Freud, colocou o universo onírico em destaque em seu livro Breve romance de sonho, onde, a partir do sonho erótico de uma mulher, o autor contrói uma trama envolvente onde a própria realidade assume contornos oníricos. Freud era amigo pessoal de Schnitzler, que pode ter ajudado cientísta a compor sua teoria.

Este livro deu origem ao belo filme póstumo de de Kubrik, De olhos bem fechados.


Surrealismo

O Surrealismo é uma escola de arte que busca inspiração no Inconsciente, recém-descoberto por Freud, que teve manifestações em todas as artes, a começar nas artes visuais, no cinema e na literatura.

Com certeza, uma escola de arte que se propõe a justamente a desvendar e mostrar o inconsciente tem muito a dizer sobre sonho.

Mas neste post, vamos apenas mostrar a animação Destino de 2003 de cerca de seis minutos, baseada num story board de 1946 feito por Salvador Dali numa tentativa de um projeto conjunto com nada menos que Walt Disney! Fico imaginando as discussões entre os dois: de um lado o caótico e revolucionário Dali, do outro o sistemático e conservador Disney.


Nenhum comentário:

Postar um comentário