domingo, 16 de setembro de 2012

Fragmentos


Fragmentos
Autor: Ricardo Guilherme dos Santos
Editora: Vesper (Giz Editorial)
Ano: 2012
150 páginas

Sinopse: O livro está dividido em duas partes, na primeira, Textos diversos, autor reúne alguns textos selecionados de sua produção: crônicas, contos, poemas. Na seguinte, o ensaio acadêmico O Ritmo das Narrativas.

Reunir em um só livro vários tipos de textos, parece estranho à primeira vista, por estarmos acostumados a antologias onde um tipo só de trabalho é publicado, por exemplo, contos. Na minha opinião, isto não deveria nos estranhar, dada a diversidade de textos que lemos diariamente na Internet, seja em sites, blogs, ou redes sociais.

Lendo todos os textos da primeira parte, percebe-se que o autor trabalha melhor com os contos. Vamos a eles:

A Pequena Xamã

História fantástica, onde uma menina lentamente percebe que tem o poder de se comunicar com os animais e curá-los. O conto lida com mitos e lendas brasileiros (resgatando algumas deles, pouco conhecidas) num texto leve, direcionado ao público de uma faixa etária entre 10 e 12 anos. A heroína do conto é muito bem caracterizada e bem verossímil, mesmo com seus poderes sobrenaturais.

Ísis

O conto está no gênero ficção científica, destinado a uma faixa etária um pouquinho maior (em torno de 14 anos) e é bem construído, com uma linguagem fluída e de agradável leitura. Clarice é uma cientista viaja pelo tempo e espaço em busca de respostas, algumas sobre si mesma. Um dos méritos do autor é construir um mistério e mantê-lo oculto até o momento que ele resolve mostrá-lo. E a solução do mistério está coerente com o desenrolar da trama. Outro mérito é conduzir muito bem a transformação psicológica da personagem principal. Porém tem algo que me incomodou: o conto termina como uma fábula de La Fontaine, com “uma moral” muito explicitada. Mesmo que a finalidade fosse essa (passar a mensagem) ela poderia ser feita de uma forma mais sutil.

Sedução

Outro conto de ficção científica, com um pitada de erotismo.
(spoiler)
Uma criatura feminina aguarda o momento certo para seduzir um pescador.
O texto é bom e a história envolvente, misturando o erotismo com a angústia de percebermos que o pescador é uma vítima de um plano de invasão alienígena. Um conto que revive o mito da sereia e o medo inconsciente (masculino) de ser “devorado” na relação amorosa.

Sansão

Destinado ao publico entre 10 e 12 anos (talvez avançando um pouco mais) Sansão é um conto de terror (leve) onde um policial investiga um crime onde as testemunhas garantem que quem o cometeu foi um boneco. Remete ao “Brinquedo Assassino” e a “Toy Story”. O humor, que atenua bastante o clima de terror, fica por conta do detetive encarregado a desvendar o crime.

A Última Anã Vermelha

Um sonho leva o personagem à ultima estrela anã vermelha a se apagar, quando teoricamente o Universo teria seu fim.

O grupo seguinte a ser analisado são os poemas. Vou destacar quatro deles:

Além do Horizonte

Está em tom de alerta, como se fosse uma tentativa de tirar alguém da depressão. O texto é realmente motivador pelo seu ritmo, apenas quebrado no segundo verso da segunda estrofe, por causa dos dois pontos (:) colocados após a palavra “Nota” (talvez seja essa a intenção do autor).

O Cavaleiro Solitário

O poema é construído sob várias referências, desde o título (remete a um personagem de HQ antigo, um seriado de TV e um filme com Clint Eastwood), passando por Alan Kardec e Raul Seixas, muito bem colocadas.

Criatura da Noite

Poema em homenagem à personagem Kaori, de Giulia Moon

Este é um melhor do livro pela escolha da temática, pela sonoridade (lembrando alguns poemas simbolistas), e por causa da construção dos verso que remetem ora à sedução, ora ao perigo, ora ao sentir do personagem diante disto, sem mencionar uma única vez a palavra “vampiro”.

Vento

Um poema curto, que pelo seu ritmo e sonoridade, dá ideias exata do vento.

As crônicas são Ave Rowling, onde o autor fala sobre a sua relação com os livros e filmes de Harry Potter e Um povo que caminha sozinho, onde o autor se posiciona em relação ao descaso em relação à educação em contraponto com uma atitude que permeia sobretudo os jovens, em buscar conhecimento por conta própria.

A segunda parte é dedicado a um ensaio O Ritmo das Narrativas. Neste ensaio, o autor aborda um dos aspectos que tornam um texto interessante, o ritmo.

Um texto acadêmico bem desenvolvido e bastante útil para quem pretende ser um bom escritor.

Uma coisa interessante a fazer é reler a primeira parte do livro e ver como o autor aplica isso no seus próprios textos (ele, de fato, aplica).

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