A
Morte é uma serial killer
Autora:
Valentina Silva Ferreira
Editora:
Estronho, coleção
Histórias de Bolso
Ano:
2012
176
páginas
Sinopse:
Num
futuro próximo, os assassinos em série de todos o mundo, por força
de lei, devem ser tratados e cumprir pena na Unidade de Segurança e
Reinserção de Assassinos em Série, situada em Lisboa. Pelo nome da
instituição percebe-se que é uma tentativa de curar o possível
transtorno psicológico que leva estes assassinos a matarem.
O
programa prevê isolamento da sociedade (como qualquer presídio),
convívio forçado entre os “pacientes”, sessões de
psicoterapia individual e em grupo.
Na
realidade este é apenas um meio que autora encontrou de colocar todos juntos, e uma vez
juntos, Valentina começa em flash back traçar o perfil de cada um
deles (três homens e duas mulheres). É aí que reside a maior
habilidade da autora. Primeiro os coloca como pessoas comuns e pouco
a pouco nos introduz a seu drama pessoal e finalmente a seus crimes.
Com um texto belíssimo, mesmo nas passagens mais chocantes, ela nos
conduz a uma relação de amor e ódio a seus personagens. Destaque
para Luke, o assassino pedófilo e Suzana, que odeia homens separados
e com filhos com quem se relaciona. Temos a sensação de que podemos
encontrá-los a qualquer momento entre as pessoas que nos são
próximas.
Uma
vez traçado o perfil ela nos mostra o relacionamento tenso entre os
pacientes e a equipe médica e por fim aparece a Morte. Inicialmente
como se fosse a culpa de cada um se manifestando e depois como alguém
palpável, capaz de matar.
Aqui
ela se aproxima do “enigma de quarto fechado”,
onde pessoas estão isoladas e sabe-se que é alguém de dentro que
está causando o problema. O exemplo mais clássico é
O caso dos dez negrinhos,
de Agatha Christie (há uma tradução recente: E
não sobrou nenhum, da
Editora Globo, “politicamente correta” – não tem “negrinhos”).
A
autora parece conhecer muito bem dois aspectos essenciais para
conduzir a trama: o transtorno de personalidade antissocial
(psicopatia
ou sociopatia), e a parte jurídica (que é usada para estruturar o
romance).
Atenção!
Spoiler
Há algumas falhas, que todavia não
comprometem o livro como um todo.
A mansão que serve de hospital, o
estereótipo de várias histórias similares, me pareceu inadequada
para reunir criminosos capazes de matar por causa de um palito de sorvete. A
segurança é muito baixa.
O personagem que encarna a Morte não surge no início da trama, embora seja
corretamente contextualizado mais ou menos no meio do romance. Isso
frustra leitores habituais de livros de mistério, em especial fãs de
“enigma de quarto fechado”, onde o “culpado” é um dos
personagens já foi apresentado logo no começo.
Mas,
a meu ver, a intenção da autora não é construir um bom thriller
de mistério, mas um bom terror psicológico, onde ela se sai muito
bem.
Destaque para a capa, projeto gráfico e diagramação. A Estronho, como sempre, tem muito bom gosto nestes quesitos.
Conclusão
Um bom terror psicológico, com dose certa de suspense e muito bem escrito, com uma linguagem poética mesmo nos trechos mais crus.
Nerd
Shop:
A Morte é uma seria killer.
Valentina Silva Ferreira. Editora Estronho.
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