quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Angela entre dois mundos

Angela entre dois mundos
Autor: Jorge Luiz Calife
Editora: Devir
Ano: 2010
216 páginas

Sinopse: Angela é uma das personagens principais de Padrões de Contato e este livro seria um “prequel” desta trilogia. Angela tinha sete anos quando sua mãe parte numa viagem diplomática em uma nave interestelar de passageiros. A nave é desviada de sua rota e sua mãe nunca mais retorna. Encontrá-la passa a ser a obsessão de Angela, que, quando adulta, sonha em partir em uma missão de resgate.

Quando nos deparamos com uma aventura que ocorre antes de eventos que conhecemos temos a expectativa de ler uma obra à altura de sua sequencia. Por outro lado não esperamos nenhuma surpresa importante, pois sabemos o que ocorrerá com o personagem no futuro.

Sabemos também, pelo próprio autor, que este romance na realidade começou a ser escrito antes de Padrões de Contato e ele apenas finalizou e revisou no momento de sua edição pela Devir.

Feito estes descontos podemos analisar a obra. Angela é uma personagem suficientemente forte para dar sustentação a uma boa história e este é o principal mérito do autor. Outro mérito é a descrição de tecnologias futuras. Elas são bem construídas e não estão inseridas de forma forçada na trama. Porém às vezes tem-se a impressão de que a história é apenas um pretexto para o desfile de tecnologias futuras.

O ponto fraco esta no desenvolvimento dos personagens masculinos, sobretudo Bruno e Marcelo, os dois pretendentes que desejam Angela. Ambos parecem rasos, como para dar mais destaque a heroína (como se ela precisasse!). Num ponto mais baixo está o pai de Angela que vive o papel estereotipado de um homem amargurado pelo desaparecimento da esposa. E a relação de Angela com ele é de um improvável complexo de Eletra, pois vive afirmando que não consegue substituir a mãe! Uma mulher tão bem resolvida quanto ela?

A impressão que se tem é que realmente Angela entre dois mundos foi escrito há muito tempo e ficou na gaveta, Calife realmente evoluiu ao escrever Padrões de Contato.

Ainda com estes defeitos, o romance é bastante interessante, sobretudo pela verossimilhança das tecnologias, que fazem parte do prazer de ler uma boa ficção científica hard. E, para quem leu Padrões de Contato, algumas perguntas que ficaram no ar podem ser respondidas.

6 comentários:

  1. Não compraria este livro pois que pretende introduzir novas às tantas tecnologias atuais.
    Tenho saudades, mesmo, é de um bom fogão de lenha.
    Mas, as resenhas de Álvaro são sempre muito pertinentes. Já adquiri bons livros baseados nas opiniões dele.
    Sonia

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  2. òtima resenha.

    abs
    Flávio

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  3. aonde posso abaixar esse livro

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  4. É interessante notar que quando um livro enaltece uma personagem feminina, o fã hetero branco cis privilegiado se sente oprimidinho porque os personagens masculinos não foram "bem" desenvolvidos.

    O fato de ver um leitor reclamando disso mostra o extremo mal estar que existe entre os fãs de ficção científica que têm medo de sair da zona de conforto, onde os heróis são todos homens e as mulheres não passam de bibelôs espaciais. Ainda assim, a obra de Calife tem problemas ao representar uma mulher que não tem nada a ver com a mulher brasileira, ou com a maioria da mulher brasileira.

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    1. Caro anônimo, não me sinto desconfortável nem "oprimidinho" por "ser branco hetero e homem e privilegiado" diante de uma personagem feminina bem construída. Estou fazendo um crítica da inconsistência de três personagens, de fato mal construídas, bem diferente do romance Padrões de Contato, onde as personagens femininas são destaque e as outras personalidades, sejam homens ou mulheres estão bem construídas.

      Você tem razão quanto o leitor de FC não querer sair da zona de conforto e experimentar alternativas, sejam de gênero, sexualidade, presença de pobres e de cenários brasileiros (a famosa Síndrome do Capitão Barbosa).

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    2. Ah! En tempo:

      Você leu a crítica por inteiro? Então veja este trecho:

      "Num ponto mais baixo está o pai de Angela que vive o papel estereotipado de um homem amargurado pelo desaparecimento da esposa. E a relação de Angela com ele é de um improvável complexo de Eletra, pois vive afirmando que não consegue substituir a mãe! Uma mulher tão bem resolvida quanto ela?"

      Ângela, na sua relação com o pai, tem uma inconsistência caracteriológica forte. E machista.

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