sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vikram e o Vampiro

Ficha Técnica
Vikram e o Vampiro
(Vikram and the Vampire or Tales of Hindu Devilry)
Autor: Coletado e adaptado por Richard Francis Burton
Tradutor: Sérgio Augusto Teixeira
Editora: Círculo do Livro
Páginas: 224
Ano: não disponível

Sinopse: Vikram e o Vampiro é um livro de narrativas hindu, coletadas no século XIX pelo pesquisador inglês Richard Francis Burton. Neste livro, o grande rei Vikram, considerado como o rei Arthur do Oriente, é colocado por um inimigo numa situação em que tem que levar para um iogue um baital – espécie de espírito maligno da mitologia hindu que toma a forma de morcego e habita cadáveres.

Os mitos tratados por este livro são citados por alguns pesquisadores como uma das influência na formação do mito do vampiro ocidental.

O livro inicia contando a história do grande rei, desde quando resolveu abandonar o trono, deixando seu irmão no lugar para aprender na prática a conhecer a arte de governar, vivendo no mundo exterior. Após algum tempo, sente a necessidade de voltar e descobre que seu irmão, perdidamente apaixonado por uma jovem abandonara o reino a sua própria sorte ao fracassar no amor. Retomando a rédea do reino, o rajá Vikram conduz o país à prosperidade. Quando tudo parece bem, descobre que tem um inimigo poderoso, um iogue que foi ofendido por seu pai e que jurara vingança.

Este iogue parece depois de algum tempo, disfarçado de um rico marajá e com este disfarce consegue convencer o rajá a ir a seus domínios, o local onde são cremados os mortos. Neste ambiente, o iogue convive com criaturas malignas e almas sofredoras.

O rei, iludido pelo disfarce do iogue, se comprometera ir lá junto com seu filho e fazer o que o homem santo quisesse por uma noite. Vikram, sendo um homem de palavra, mesmo percebendo que se tratava de uma armadilha, não se recusa.

A tarefa era retirar um vampiro de sua árvore e levá-lo até ele. O rei encontra o demônio e luta com ele. O baital ou vampiro, mesmo tendo certa superioridade física sobre o rei, diante da determinação de Vikram em levá-lo, cede a seus desejos, para evitar uma luta interminável. Impõe uma condição: no caminho, o rajá deverá escutar suas histórias.

No final da jornada, o rei aprenderá uma lição.

Este tipo de narrativa é bastante comum no oriente, sendo As 1001 Noites o exemplo mais conhecido. Uma grande história serve de pano de fundo para muitas outras histórias, que são narradas por um dos personagens. Às vezes, uma destas histórias contém um terceiro nível de história, que poderá ter dentro de si ainda um quarto nível. Abrem-se diversos parêntesis que serão fechados um a um durante a narrativa. Recurso bastante utilizado em novelas de TV e séries como Arquivo X, Lost e outras.

As histórias que o baital conta tem um padrão: normalmente são pequenas charadas filosóficas onde o ouvinte tem que julgar umas entre duas ou mais alternativas, geralmente envolvendo comportamentos de personagens ou generalizações a respeito da natureza humana. A cada resposta correta que o rei dá, o vampiro interrompe a narrativa e volta a se pendurar na sua árvore, forçando o monarca a voltar e prendê-lo novamente (um pretexto para ele contar outra história). Aí está o comportamento vampiresco: o que ele toma de Vikram é seu tempo.

As histórias, dentro das limitações culturais de Richard Bourton, permitem uma visão da cultura hindu, de seus usos e costumes. O pesquisador procurou traduzir os textos com isenção, porém percebem-se alguns preconceitos, sobretudo nas notas de rodapé e na seleção das histórias (ele traduziu apenas 11 das 25 histórias, por julgar que apenas estas 11 eram relevantes, segundo critérios exclusivamente pessoais).

Merece especial atenção a última história, onde percebemos a intenção de Richard Bourton em ser isento. Nela o vampiro conta, como se fosse uma visão de futuro, a invasão inglesa, descrevendo a cultura ocidental com olhos sarcásticos, criticando modos de vestir, de se comportar, de se relacionar e a hipocrisia do cristianismo pregado pelos ingleses, que diziam uma coisa e faziam outra. Chama-os de párias brancos.

O vampiro, ao longo de toda a narrativa, não poupa também a própria cultura hindu que permite a queima de viúvas junto com seus maridos falecidos, penalidades cruéis e ambiguidades daquilo considerado "santo".

Percebe-se aqui um recurso do autor hindu dos textos: o vampiro, por já ser um ser condenado, pode falar o que quiser. Assim além das críticas culturais, pode se dar ao luxo de colocar detalhes considerados eróticos para a época, mostrar cenas de violência e cutucar os poderosos.

Alvaro A. L. Domingues

6 comentários:

  1. Extremamente interessante esta fantástica incursão ao início da lenda dos vampiros.
    Adorei a resenha.
    Jade

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  2. Ai! que vontade de ler este livro!!!
    Sonia

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  3. Parabéns pelo blog.

    A resenha desperta muita curiosidade em ler o livro,claro,por ser muito boa!

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  4. Infelizmente não conheço muito do mito do vampiro pela cultura hindu. O pouco que conheço vem do mito do leste europeu.
    A parte sobre o comportamento vampiresco ser tomar o tempo de Vikram é muito interessante.

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  5. possuo um exemplar para a venda se alguem se interessar e de 1979!

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