Os Guardiões do Tempo
Autor: Nelson Magrini
Editora: Giz Editorial
Ano: 2009
354 páginas
Sinopse: Três pré-adolescentes, Edu, Rogério e Cecília, são levados ao futuro distante porque um deles, devido a seu DNA, pode acionar uma máquina que salvará todo o império galáctico terrestre.
Quem conhece Nelson Magrini de seus livros anteriores, (Anjo, a Face do mal e Relâmpago de Sangue) com certeza vai estranhar muito este aqui. Isto porque é dirigido à faixa etária dos pré-adolescentes (por volta de 10 a 14 anos). Isso normalmente significa muita aventura e que, no caso deste livro quase todo “solar”, a maioria dos eventos ocorre em plena luz do dia (seja em que parte da galáxia for). É uma soma de desafios ao autor.
Um dos desafios que Magrini vence é o de dar uma desculpa plausível para que um grupo de adultos se torne impotente e precise lançar mão de pré-adolescentes para conseguir resolver o problema: Leidor, o criador da máquina, escondeu-a num lugar e a si mesmo em outro. Além disso, a fez para ser acessada apenas por ele mesmo. Por coincidência (ou não), Leidor é descendente de Edu, que por algum capricho da natureza (será?) tem exatamente o mesmo DNA que ele.
E por que não pegar o Edu adulto? Esta pergunta Edu faz ao comandante Vus, o viajante do tempo que veio buscá-lo. Não vou mostrar a resposta, para não gerar um spoiler desnecessário, mas o fato do autor ter posto esta pergunta na boca de um personagem indica que houve esta preocupação para deixar o enredo consistente.
O livro tempera muito bem aventura e humor, criando mistério, suspense e até dando alguns sustos um pouco maiores (como, por exemplo,quando o trio está perdido num planeta onde numa mata extremamente densa e não deveria existir nenhuma vida animal ali, mas existe algo muito ameaçador).
Para haver aventura é preciso de inimigos poderosos. O autor escolhe o samesses, raça alienígena descontente com a hegemonia da Terra, com uma armada poderosa e disposto até a destruir sistemas planetários inteiros para evitar que a máquina de Leidor seja encontrada. Esta raça é ajudada por um grupo de traidores infiltrados no alto comando do Império Terrestre, que o consideram retrógado e decadente.
O primeiro e maior mistério é o que motiva a aventura: achar a máquina de Leidor. O inventor a escondeu e espalhou pistas de onde ela estava por toda a galáxia de modo a montar um quebra-cabeças, onde uma peça leva à outra. O segundo é uma nave negra, que os acompanha o tempo todo e os ajuda em momentos cruciais. Quem será? Por fim, quem são os traidores? A presença de traidores ajuda a justificar o pouco aparato usado na busca, já que, se fosse acionado algo maior, o inimigo seria prontamente alertado.
O humor fica por conta de Dig e Dreg, dois alienígenas meio atrapalhados, que, nos momentos que o ritmo da aventura diminui, ou falam demais e de forma repetitiva ou usam gírias e regionalismos inadequados para agradar os visitantes. Outro alívio cômico é Fyscat, um comerciante que o trio encontrou no caminho e reaparece em outros momentos. Ele é um colaborador relutante, que está ali apenas por acidente (ou foi empurrado?) e só faz as coisas porque não tem outro jeito (sua própria pele ou o seu negócio estão em jogo). Os viajantes do tempo não conseguem pronunciar seu nome, pois cada vez que o ouvem é diferente, gerando uma reação irada do personagem.
O trio de pré-adolescentes também é divertido. Rogério e Edu estão sempre brigando por motivos fúteis, mesmo em momentos de grande tensão. Há um capítulo hilariante, quando os três têm que se infiltrar numa escola, pois a pista está escondida no seu sistema de computação. Uma intervenção de Rogério no sistema acaba gerando uma grande confusão para desespero do diretor da escola.
O suspense aparece quando trio enfrenta ou a hordas samessas ou perigos inesperados nos planetas em que visitam, às vezes se salvando no último segundo, garantindo o ritmo da narrativa.
Para dar equilíbrio entre os três personagens e garantir o suspense, o autor às vezes separa o trio, depois mostra ora um lado ora outro, narrando ambos os pontos de vista. Isso coloca o leitor em contato com as preocupações de um personagem em relação a seus amigos e permite o gancho, suspendendo a narração de um lado num momento crucial e passando a contar a do outro. O clímax deste tipo de situação às vezes é uma convergência dramática.
O livro é finalizado com um desfecho bem movimentado e emocionante, que agradará a seus jovens leitores.
Atenção! Contém spoliers.
Apesar de bem escrito e cumprir seu papel como obra de diversão, o livro apresenta algumas inconsistências. A maioria delas passa desapercebida pelo ritmo do livro, porém há uma que deve ser apontada: justamente na cena que o autor cria para dar o efeito surpresa no final (se você desejar ser surpreendido, só leia os parágrafos seguintes após a leitura do livro).
Edu arrisca sua vida temerariamente expondo-se aos tiros dos samesses, pois acredita que o passado é inviolável e estará imune. Sua teoria se revela verdadeira e ele consegue acionar a máquina de Leidor, mesmo tendo levado vários tiros dos samesses sem sequer ser ferido.
Todavia o grupo logo é confrontado com um guardião do tempo, que os ajudou à distancia (às vezes não muita) a concluírem sua aventura. Este guardião diz que sua função é estabilizar o passado, para evitar que o presente seja alterado. Ou seja, se o passado pode mudar, o truque do Edu não funcionaria!
Como o livro sugere uma continuação, talvez o autor esteja guardando para explicar esta e outras inconsistências num próximo volume...
Nerd Shop
Guardiões do Tempo. Nelson Magrini. Giz Editorial. Livraria Cultura.
Alvaro A L Domingues
ATENÇÃO: SPOILER!
ResponderExcluirGrande Alvaro!
Obrigado pela bela resenha. Fico contente de que tenha apreciado o livro. Em relação à inconsistência apontada, apenas usei o conhecido Paradoxo do Avô às avessas, peculiaridade muito discutida quando se debate Viagens no Tempo em Física.
Acontece que a inconsistência não aparece, pois Duda está no Futuro, e não no Passado. De fato, pela trama, o Passado poderia ser alterado, se alguém interviesse antes de algum acontecimento se realizar, daí os guardiões para manter o Passado estável. Mas não “após já ter ocorrido”.
Certamente, Duda morreu adulto, a centenas de anos no Passado, portanto, não poderia fazê-lo “outra vez”, centenas de anos no Futuro. Talvez eu devesse ter deixado esses fatos mais claros, mas creio, como você bem disse, que tal não chega a afetar a trama.
Valeu e obrigado.
Abraços!
Poxa, legal o autor vir aqui e dar seu ponto de vista. Mostra competência da parte de ambos.
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