quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Dia da Leitura


 
Menino Maluquinho, personagem de Millor Fernandes, obtido na Internet,

A Literatura Fantástica, em especial a brasileira, tem feito parte deste blog desde seu lançamento. E a literatura não sobrevive sem leitores e é para eles que os autores escrevem. Portanto, no Dia Nacional da Leitura, 12 de Outubro, leia um livro de literatura fantástica de autor lusófono (português, brasileiro, angolano, moçambicano, açoriano, etc..).

E boa diversão!

(P.S.: Ouvi dizer que os mitos e lendas açorianos são muito interessantes e têm um pé em Santa Catarina).


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Time Out – Os viajantes do tempo

Time Out – Os viajantes do tempo
Autores: Ademir Pascale (org), Roberto de Sousa Causo, Miguel Carqueija, Luciana Fátima, Álvaro Domingues, Estevan Lutz, Allan Pitz, Mariana Albuquerque. Apresentação: André Carneiro. Ensaio: Edgar Indanlecio Smaniotto. Orelha: Jorge Luiz Calife.
Editora: Estronho
Ano: 2011
120 páginas

Sinopse: Oito contos que têm por base a viagem no tempo. Os, autores, convidados por Ademir Pascale, tiveram total liberdade para criar, tendo como único parâmetro o tema. O resultado foram histórias que abrem um bom leque de visões sobre o assunto.

Déja-vù: O Forte Roberto de Sousa Causo
Uma mulher com uma doença terminal busca em uma viagem, um pouco de realização pessoal antes de morrer. Ao visitar um antigo forte, se vê transportada para uma batalha, século atrás, onde é um dos soldados em luta. A descrição ação e dos pensamentos da personagem ao ser surpreendida no passado, como suas dúvidas e angústias no presente estão muito bem realizados. Há uma ligeira referência a uma possível vida passada, à qual a personagem se transporta, mas isso não é fundamental para o enredo. A preocupação de Causo é uma reflexão sobre a vida, o sofrimento e a morte. Profundo.

A Velha Canção do Marinheiro – Ademir Pascale
O ponto de partida de Pascale são as experiências feitas no navio Eldridge, durante a Segunda Guerra, para torná-lo invisível, que segundo alguns, tiveram resultados inusitados e dramáticos, com parte da tripulação desaparecida. O fato é bastante explorado na literatura especulativa de não-ficção, com algumas teorias mirabolantes. O conto é narrado em primeira pessoa e centra-se no drama pessoal de um destes marinheiros que a cada 72 horas é transportado para outra época. O que mantém sua sanidade é a esperança de um dia numa destas viagens reencontrar-se com sua noiva. Angustiante. Nota dez para referência ao poema “A Balada do Velho Marinheiro”, de  Coleridge.

A Difícil Arte de Lidar com Patrulheiros do Tempo – Miguel Carqueija
Um cientista é visitado por um patrulheiro do tempo, que tem como missão matá-lo, pra evitar um desastre futuro. O conto é centrado na tentativa do cientista em convencer o patrulheiro a não matá-lo. O humor da situação dá o tom.

Pelas Badaladas do Tempo – Luciana Fátima
A autora opta por descrever a viagem no tempo como se fossem devaneios, conduzidas pelo badalar de sinos diferentes em diferentes épocas. Para ser um poema, falta apenas a rima e a métrica. Nostálgico.

Modelo do Ano – Álvaro Domingues
Dois nerds, que especulam sobre viagens no tempo, ao terminar a faculdade se separam e, dez anos depois, se reencontram. Este conto é de minha autoria. Apenas vou dizer que foi muito divertido escrevê-lo, já que é um conto com muito humor. Espero que os leitores se divirtam tanto quanto eu.

A Máquina da Insanidade – Estevan Lutz
Este pode ser considerado o que tem o maior apelo científico dos contos deste volume. O autor especula sobre o determinismo do Universo de uma maneira muito inteligente.

O Último Trem para Plêiades – Allan Pittz
Alienígenas levam um homem comum para ver um planeta similar à Terra onde pode observar o futuro do que poderia nos acontecer. Dizer mais do eu isto vai gerar spoilers desnecessários. Outro conto que tem uma boa dose de humor, sobretudo no desfecho, mas nos faz pensar.

Contra o apagar das Luzes – Mariana Albuquerque
Poderemos lutar contra o inevitável? Uma constatação amarga aguarda temponautas que tentam evitar um desastre de grandes proporções. Para reflexão. Excelente texto. 

Fechando o livro a há o ensaio Viagem no Tempo na Ficção Científica Brasileira: de Observadores a Viajantes do Tempo, de Edgar Indanlecio Smaniotto. O ensaio lança luz sobre esta vertente da FC, escrita no Brasil, desde as primeiras narrativas, onde o futuro ou o passado era observado por meio de algum aparelho tecnológico (por exemplo o poriviroscópio de Monteiro Lobado) ou mágico (O Copo de Cristal,  de Jeronymo Monteiro) até as incursões da Intempol. Muito bom.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Fantástica Literatura Queer – Volume Laranja





Organizadores: Rober Pinheiro, Cristina Lasaitis
Autores: Osíris Reis, Cláudio Parreira, Eric Novell, Renato A. Azevedo, Cindy Dalfovo, Daniel Machado, Kyran, Rober Pinheiro. Prefácio: Luiz Mott.
Editora: Tarja Editorial
Ano: 2011
176 páginas

Sinopse: Segundo volume da coletânea de contos tendo por diretriz a diversidade tanto de estilos, gêneros (fantasia, horror e ficção científica) e sexualidade.

Seguindo a mesma linha da Fantástica Literatura Queer – Volume Vermelho, este livro reúne mais oito contos dentro das temáticas Ficção Científica, Fantasia e Horror, voltados pra a a diversidade sexual.

Neste volume, percebe-se ainda o cuidado na seleção e a qualidade literária dos contos.

Queda – Osíris Reis
Uma narrativa com contornos épicos, como se fosse um recorte de uma imensa batalha de dois anjos contra um grupo de guerreiros dispostos a destruir divindades femininas. A condução do texto é bem emocionante e lembra narrativas mitológicas. Nota dez para o uso preciso e ao mesmo tempo poético da linguagem. Emoção pura.

A Presença Cláudio Parreira
Atenção! Spoiller!
Um conto sobre um homem insatisfeito com seu casamento que passa sentir a presença de um ser que o seduz. Bem escrito, mas com um defeito:  o conto lembra um pouco um dos maneirismos de Wood Allen: criar uma mulher detestável para justificar o adultério. Isso minimiza o conflito. É fácil para o marido insatisfeito se jogar nos braços de outrem (mulher, homem ou espectro), se a esposa não se importa com ele e até o despreza.  Isso torna o conto previsível, ainda que esteja bem escrito. Um conto apenas competente e o mais fraco da coletânea.

Sonhos e Refúgios – Eric Novello
Um mago exorcista, num congresso de magia, faz uma palestra onde conta dois sonhos seus, recorrentes, relacionados com sua sexualidade, que acabam atrapalhando sua profissão. História bem movimentada, com uma leve referência à literatura policial, mas com um pé firme no fantástico.

A Lista: Letras da Igualdade – Renato A. Azevedo
Atenção! Spoiller!
Uma lista de discussões na internet, por algum fenômeno desconhecido, mistura vários universos paralelos, vários Brasis, onde os análogos podem trocar mensagens. Duas destas realidades acabam influenciando uma a outra. Em uma delas vive-se um momento de opressão violenta à diversidade sexual, com perseguição às minorias, na outra a situação é a extrema oposta, com uma ditadura das minorias (manipuladas por políticos inescrupulosos), escudadas em leis de “afirmação positiva”. Em ambos os mundos o que tem em comum é a intolerância, a corrupção dos políticos e a hipocrisia da sociedade.  Faz pensar. O melhor deste volume.

O Beijo de Alice – Cindy Dalfovo
O conto pode ser lido como uma resposta à pergunta: “quanto tempo será necessário para que os seres humanos percebam que amor é apenas Amor?” Basicamente fala, de uma forma muito poética, da mudança de conceitos, da rejeição completa à aceitação plena do amor, ainda que fora dos parâmetros considerados adequados pela sociedade.

A primeira vez de Silvânia – Daniel Machado
Uma transexual, Silvânia, é seguida por um ser sobrenatural em seu trottoir. A personagem é concedida como reunisse em si todas as rejeições preconceituosas: etnia, gênero, orientação sexual e prostituição. Cada aspecto desta personagem é desnudado através dos olhos do ser que a segue, que o leitor acompanha ao longo da narrativa. Muito bom.

Awaken – Kyran
Um padre faz uma cerimônia de exorcismo em um rapaz. O duelo do padre com as criaturas é o centro deste conto. As motivações do padre são questionadas pelos demônios e a pergunta principal é “o motivo da queda de um demônio não poderia ser simplesmente o amor?” Emocionante em vários aspectos.

Eu era um Lobisomem Juvenil – Rober Pinheiro
Nas ruas de São Paulo, um homem trata de seus negócios. Parece ser um simples traficante, mas é mais do que isso. Está em busca de alguém, como um caçador.  Narrado em primeira pessoa, vamos tomando conhecimento da personalidade e das intenções do narrador aos poucos.  A surpresa final fica por conta do letreiro em neón.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Armadilha para um homem só – Uma trama perfeita


Autor: Robert Thomas
Tradução:  Luis de Lima
Adaptação:  Miguel  Langone J. e Antonio Natal
Direção:  Miguel  Langone Jr
Elenco:  Antonio Natal, Almara Mendes, Rodrigo Fabbro, Emílo Bozzo, Teca Pinkovai,  Miguel  Langone Jr
Duração 110 minutos

Sinopse: Na cidade francesa de Chamonix, um marido, Daniel Corban, reclama para a polícia do desaparecimento de sua esposa, após três meses de casamento.  Aos poucos percebe-se que ele está sendo envolvido numa trama gerada por uma quadrilha que pretende enloquecê-lo ou matá-lo por causa de uma provável herança.

Num cenário despojado, característico do grupo Teatro Compacto, é desenvolvida uma trama de suspense do primeiro ao último minuto, pontuada por um humor sutil e irônico e excelente atuação o elenco.

O público se identifica com o desespero de Daniel, que a cada passo que dá se envolve mais e mais nas malhas criadas pela quadrilha até o desfecho final, realmente surpreendente.

A forma do autor conduzir a trama impressionaram até o mestre do Suspense, Hitchcock, que quase chegou a filmá-la.

O grupo optou por desenvolver a peça recriando o clima do final dos anos 50, época em que o texto foi escrito. Isso fica bem notável nos figurinos e na trilha sonora.

O resultado é excelente. Recomendo.

A peça está em cartaz todos os domingos às 19:00 até dia 30 de outubro, Teatro Estação Caneca, na Rua Frei Caneca, 384 - Bela Vista, a 200m do Shopping Frei Caneca. Telefone – 2371.5744.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Adorável Noite - Um divertido livro de terror


Autor: Adriano Siqueira
Editora: Estronho
Ano: 2011
148 páginas

Sinopse: Coletânea com 66 contos de terror, a maioria sobre vampiros.

Adriano Siqueira é muito conhecido entre escritores, fãs e editores do gênero fantástico, por sua presença amigável e constante na maioria dos eventos e pelo seu esforço pessoal na divulgação do gênero, fotografando, entrevistando autores e publicando textos no seu fanzine Adorável Noite.

Quando ele me contou que lançaria um livro fiquei contente e na expectativa. Conhecia o seu texto dos fanzines e da sua página na internet, mas o livro impresso é sempre diferente.

E a primeira coisa que se nota no livro é que Adriano Siqueira escreve para internet. Seus contos são curtos e vapt-vupt, sem rodeios. A maioria dos textos tem uma dose de humor e alguma surpresa ao leitor. E percebemos que ele se divertiu muito ao fazê-lo. A sensação que se tem é que Adriano Siqueira é um moleque escondido atrás do sofá, esperando alguém abrir a porta para dar-lhe um susto.  E com certeza, quem dá o susto se diverte mais do que quem leva.

Adriano quer ir logo ao que interessa e, a partir de uma boa ideia, já coloca o leitor no centro da ação e logo faz o desfecho. Isso funciona muito bem na internet, mas perde um pouco do glamour quando lemos o livro impresso, um conto após o outro. É o mesmo que ler uma coletânea de tirinhas de quadrinhos. Com o tempo começamos a antecipar a piada (e no caso de Adriano, o susto).

As idéias que norteiam os contos são muito boas. Tão boas que muitas vezes temos a sensação de que faltou algo, pois mereciam um desenvolvimento um pouco maior.

Outra coisa que se nota em alguns contos é a não preocupação com a consistência lógica que às vezes nos faz voltar o parágrafo para ver se entendemos direito. Por exemplo, pessoas comuns aceitam a existência dos vampiros sem questionar. Ou, como ocorre num dos contos (Os Visitantes): a personagem corre incontinenti (“Denise não pensou duas vezes”), mas tem tempo de desenvolver um dialogo relativamente longo com a outra vítima.

Isso muda um pouco na sequencia de contos que mostra um relacionamento complicado entre o vampiro Andário e a fada Alami. Nestes textos, há uma preocupação em dar profundidade aos dois personagens e considero os melhores da coletânea.

Nos contos de terror fora da temática vampiro, o melhor deles é “O Fotografo”, onde Adriano coloca o terror no ambiente virtual de maneira bastante inteligente.

No todo é um livro bom, mesmo com as ressalvas que coloquei. Para evitar o efeito “eu já sei o que vai acontecer”, recomendo intercalar a leitura do livro com outro ou dar um tempo entre um conto e outro

Um destaque especial para a capa que lembra muito as revistas antigas de terror.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem

Planeta dos Macacos: A Origem  
Título Original: Rise of the Planet of the Apes
Direção: Rupert Wyatt                
Roteiro:  Rick Jaffa e Amanda Silver , baseado no romance: La planète des singes de Pierre Boulle
Elenco: James Franco, Freida Pinto, John Lithgow, Brian Cox, Tom Felton, David Oyelowo        

Sinopse: Will Rodam é um cientista que busca a cura para o mal de Alzheimer e faz testes em chimpanzés. A droga, baseada em um retro vírus, provoca alterações no cérebro dos macacos. Um deles, Cesar, é criado pelo cientista em sua casa após as pesquisas terem sido suspensas. Tudo vai bem, até que Cesar ataca um dos vizinhos de Will, em defesa ao pai do cientista. Cesar é confinado e após ter sofrido muito nas mãos de humanos, Cesar se rebela e liberta todos os macacos que consegue.

Confesso que estava temeroso a respeito deste filme, pois em tese, era uma refilmagem do quarto filme da série clássica, que era bem ruim. Felizmente, os roteiristas só aproveitaram praticamente o título e nome do macaco.

O roteiro é suficientemente bem elaborado para dar uma explicação plausível para O Planeta dos Macacos, mas não fica só nisso, colocando uma forte motivação ao cientista para prosseguir com as pesquisas (ele tem o pai com Alzheimer), um apego a Cesar e o comportamento instintivo do animal superando seu verniz civilizatório ao ser defrontado com situações limites (seu primeiro contato com a natureza, a agressão do vizinho ao pai de Will e o confinamento forçado com outros macacos e, por fim, os mal tratos sofridos).

O enredo é auto contido e pode ser visto mesmo para quem nunca viu nenhum dos filmes da série clássica ou o filme de Tim Burton. Ou para quem viu e não gostou.

Um destaque especial aos efeitos especiais. Os macacos foram criados em computação gráfica mas não se nota em nenhum momento soluções continuidade nos movimentos e expressões faciais. Houve a preocupação de criar cada macaco individualmente, dando-lhes aparência, expressões corporais e faciais e até personalidades diferenciadas.

Atenção! Spoiler

A cena final ocorre depois de alguns créditos, onde uma doença que só afeta humanos oriunda de um erro de manipulação do retro vírus é propagada por um piloto de avião de carreira, lembrando um pouco o final de Os 12 Macacos.

O filme é muito bom, porém cabe ressaltar um defeito: a forma de ser mostrado como o ocorre a propagação, com um dos personagens lançando perdigotos sangrentos é muito exagerada, como se menosprezasse a capacidade do público perceber isso de uma forma mais sutil. Parece que o diretor esqueceu que o público é o mesmo que conseguiu se sensibilizar com as expressões faciais de Cesar (que, se fosse real, ganharia o Oscar de melhor ator) e dos outros macacos.

Em suma um bom filme que merece ser visto mesmo para quem nunca viu nenhum dos filme da série.