terça-feira, 14 de setembro de 2010

Morte, no Palco

Morte, no Palco
Autor: Rubens Teixeira Scavone
Editora: Clube do Livro
Ano: 1979
160 páginas


Sinopse: O livro Morte, no Palco nos traz onze contos de um dos pioneiros da FC Brasileira, Rubens Teixeira Scavone.


Comprei este livro num sebo, motivado por conhecer um pouco mais deste escritor muito citado pelo fandom. Normalmente ele comparece sempre quando se pretende reunir contos significativos do gênero, como é o caso das antologias Os Melhores Contos de de Ficção Científica Brasileiros.


Fiquei agradavelmente surpreendido, mesmo já esperando algo muito bom. Scavone é um excelente contista. Em cada um deles revela não só sua habilidade em escrever, como também em compor uma boa história, de criar personagens e verosimilhança num cenário futurista.


Ao se ler cada um dos contos nota-se bastante a influência dos três grandes escritores dos anos 70, os chamados ABC: Asimov, Bradbury e Clark, porém há um jeito muito próprio de Scavone. Um traço marcante é o humor (coisa rara na FC) sutil e surpreendente algumas vezes.

O livro é iniciado pelo excelente ensaio “Ficção científica, uma reavaliação”, escrito pelo próprio autor., onde ele nos mostra sua visão do gênero. Vale destacar uma frase de um de seus últimos parágrafos, que resume seu amor pela FC: “Se imaginar é a mais requintada dádiva concedida ao homem, a ficção científica é o mais alto grau deste privilégio.”


Em “Flores pra uma terrestre” discute-se a questão da beleza fora do seu ambiente. Um flor arrancada de um planeta com uma atmosfera com outras nuances de coloridos seria igualmente bela se transportada para a Terra? E os olhos de quem vê não seriam mais importantes?


“Especialmente, quando sopra outubro” é um conto com características bastante poéticas e realmente merecedor de participar da antologia que reúne os melhores contos de FC. Uma menina tem uma rara habilidade que ninguém consegue explicar.


Em “A evidência do impossível” alienígenas gigantescos chegam à lua de um mundo morto. Seu tamanho descomunal não permite perceber sinais de uma civilização que ali deixara seu marco.


“A caverna” conta a história de um pesquisador amador que se depara com pinturas rupestres e deseja ser o único ter acesso a elas. O autor traça um paralelo com a caverna de Platão, invertendo o real e o ilusório do mito.




Trabalhadores na Lua são os personagens do conto seguinte, “A bolha e a cratera”. Um cruel método de seleção dos que podem, em sua folga, retornar à Terra leva a uma tragédia. O conto satiriza a pretensão de programas psicológicos baseados no comportamento da maioria, dita normal, sem dar conta das nuances individuais.

O menino e o robô é um conto com marcantes características “asimovianas”, com uma pitada de Ray Bradbury. Um menino recebe um robô de presente do pai. O controle remoto é feito por ondas mentais, que acabam gerando um inesperado laço entre o garoto e a máquina.


Em “Número Transcendental”, um fugitivo de um hospício encontra seres alienígenas, mas sabe que jamais acreditarão nele.


Em “O fim da aventura” sete pesquisadores perdem-se numa floresta tropical num mundo desconhecido e acabem morrendo de forma cruel. A história de sua aventura encontra-se narrada no diário do capitão. O comportamento extremamente profissional do psicólogo, a paranóia do comandante em relação a este profissional e o destino final de todos eles compõe um conto carregado de humor caústico e incomodativo, sobretudo no final realmente surpreendente.


“Morte, no palco”, que dá nome à coletânea, nos conta a história de um homem numa situação de risco onde sua única preocupação é de ter uma morte espetacular para que seu filho se orgulhe dele.


Em “O diálogo dos mundos” o humor também da a tônica. O primeiro contato com uma provável civilização acaba mostrando que é mais fácil contatar com extraterrestres do que haver comunicação real entre grupos de seres humanos. Outro conto com humor e final surpresa.


Em “Passagem para Júpiter”, um arquiteto sonha em viajar para o gigante do sistema solar, por ser relativamente inexplorado. O conto, que encerra a coletânea, brinca com os desejos humanos de coisas inalcançáveis.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

As Três Velhas



As Três Velhas
Teatro
Elenco: Maria Alice Vergueiro, Luciano Chirolli,
Pascoal da Conceição e Marco Luz
Espaço Cultural Banco do Brasil
De 20/08/2010 a 31/10/2010


Sinopse: Duas irmãs gêmeas, de avançada idade, e sua criada, igualmente velha, discutem seus sonhos e angústias a partir de uma festa em que só uma delas poderá ir.

Uma das coisas que me motivou a assistir esta peça é seu autor, Alejandro Jodorowsky. Eu o conheci a partir de suas HQs (Incal), seus filmes e seus livros semi-autobiográficos (Psicomagia e Dança da Realidade).

Além disso, ele é um artista de muitas outras faces. Poeta, teatrólogo e tarólogo. A peça surgiu como uma oportunidade única de conhecer seu trabalho como teatrólogo, já que ele quase não é encenado no Brasil. 

O teatro de Jodorowsky é definido, por ele mesmo e pelo teatrólogo espanhol Fernando Arrabal, como “teatro pânico”, sendo aqui “pânico” entendido como relacionado ao deus grego, Pã, que comanda o caos. No teatro pânico não há uma única definição estética ou de gênero, mas a absorção (de certa forma até “antropofágica”, no sentido dado por Oswald de Andrade) de todas elas. Todavia, pode-se enxergar um propósito: mexer com o consciente e o inconsciente do público, trazendo a tona sentimentos e sensações ocultas. Durante a peça a alternância entre humor e drama desconcerta o público, quebrando algumas barreiras internas, conceituais e morais.

O humor muitas vezes nos faz rir de algo que nos incomoda e se dito de outra maneira nos faria sofrer. Rimos na peça das nossas angustias íntimas e ao mesmo tempo universais. Quem nunca sentiu medo de envelhecer? Ou viveu algum momento em que que não havia nenhuma perspectiva.

No caso da peça As Três Velhas, são discutidos: a falta de perspectiva de vida, a decadência provocada pela velhice, a proximidade da morte, a ausência de esperança disfarçada por sonhos irrealizáveis, incesto e abnegação extrema. O vai e vem de emoções nos acompanha até o final que realmente surpreende.

O teatro pânico proposto por Jodorowsky, muitas vezes beira o grotesco, exigindo muito dos atores. O texto de As Três Velhas é um desafio para a interpretação, que foi vencido com louvor pelo elenco, tanto nos momentos dramáticos como nos momentos carregados de humor. A atuação foi soberba.

Recomendo fortemente.



Reportagem em 20/08/2010, no programa Metropolis, 
da TV Cultura, com Maria Alice Vergueiro

Serviço:
As Três Velhas
de Alejandro Jororowsky
Direção: Maria Alice Vergueiro
Elenco: Maria Alice Vergueiro, Luciano Chirolli, Pascoal da Conceição e Marco Luz
Espaço Cultural Banco do Brasil
Rua Alvares Penteado, 112
Centro (Proximo a estação Sé do Metrô)
São Paulo - SP
De 20/08/2010 a 31/10/2010


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