Meia Noite em Paris
Título original: Midnight in Paris
Direção & Roteiro: Woody Allen
Elenco: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Adrien Brody
Produção: Espanha / EUA
94 min.
Sinopse: Roteirista americano, Gil, deseja ser escritor e, ao contrário de sua noiva, Inez, com quem vai se casar em breve, ama Paris. O casal está na cidade de passagem acompanhando os pais da noiva e lá encontram um velho conhecido de Inez, Paul e sua esposa, Carol. Paul é pedante e desagradável mas Inez insiste em acompanhá-lo. Isso acaba afastanto Gil dos encontros. E uma noite, andando sozinho por Paris, se vê transportado para os anos 20.
Woody Allen não está entre meus cineastas favoritos porque raramente se afasta de falar de si mesmo, fazendo psicanálise em público, o que acaba aborrecendo de se ver sempre a mesma história. E o pior, ele gosta de atuar em seus filmes e ele não tem uma cara lá muito apresentável.
Após 15 anos sem eu ter visto um filme dele, levando em consideração que ele não atua e utilizando-se de uma temática fantástica, acabei sendo tentado a ver Meia Noite em Paris. E realmente foi uma boa surpresa.
É certo que os elementos maneiristas de Woody Allen estão lá. Gil é uma caricatura de Woody: um roteirista de cinema, que faz comédias, que quer ser escritor, saindo da arte popular e indo para mainstream. Também o relacionamento nada harmônico de Gil com sua futura esposa já foi visto em outro lugar.
Isso tudo é apagado quando o personagem viaja pelo tempo. Todas as noites, exatamente à meia noite, ele é recolhido por um carro dos anos 20 e levado para esta época, onde encontra com personalidades que então viviam em Paris: Picasso, Hemingway, Scott e Zelda Fitzgerald, T. S. Elliot, Salvador Dalí, Buñel, Gertrude Stein e muitos outros, muito bem caracterizados.
Salvador Dalí é um dos personagens
Apesar destes personagens históricos serem conhecidos apenas por uma parte do público, eles são mostrados como personagens e as referências para contextualizá-los são dadas por Gil como um fã admirado, de tal forma que mesmo quem não os conheça se encante com o que está acontecendo.
Atenção: spoiler!
Em um determinado momento, Gil resolve mostrar seus originais, inicialmente para Hemingway, que se recusa a lê-los, e a conselho dele, os mostra para Gertrude Stein. Ele ouve, não só deles, mas de vários outros artistas, conselhos sobre o processo criativo e sua ligação com a vida e, também, com a morte. Woody Allen parece se perguntar: o que Hemingay (por exemplo) diria pra mim se eu lhe perguntasse sobre a arte de escrever?
As respostas dadas por cada um deles são verdadeiras lições para quem deseja ser escritor. Gil aceita algumas e descarta outras, mas todas são muito interessantes.
Outro ponto importante é discussão a sobre aceitação ou fuga da realidade, que é sem dúvida o mote principal do filme. Fugir para o passado, ainda que se encontre com os expoentes da época, é uma solução? Vale a pena seguir em frente num caminho seguro mas sem emoções, ou optar por viver “uma vida louca”? Os escritores escolhidos viveram uma vida louca e emocionante, porém isto é contrastado com o sofrimento intenso que acompanha esta forma de viver, na tentativa de suicídio de Zelda Fritzgerald, na fuga de Hemingway para África e nos relacionamentos tumultuados de Adriana, que foi amante de vários artistas da época.
Allen parece inclinado a rejeitar a vida segura, pois o personagem que representa esta vida é Inez , ele a caracteriza de tal forma a não termos nenhuma simpatia por ela (este é outro dos maneirismo de Allen: em alguns filmes o personagem principal está envolvido com alguma mulher detestável).
Do outro lado está Adriana, onde o diretor faz o contrário: quer que tenhamos simpatia por ela, ainda que, para alguns, viole alguns códigos de conduta, sobretudo em relação ao conceito de “fidelidade”.
Inez representa a vida segura, mas medíocre.
Allen contrapõe Adriana a Inez, que representa a vida emocionante, mas incerta
A verdadeira posição de Allen, contudo é um terceiro caminho, que aparecerá no final do filme, consistente e coerente com o personagem Gil.
Um bom filme.
Trailler
Parabéns por esta excelente resenha do filme. Me deu até vontade de assistí-lo outra vez. Allen é um autor que está sempre em crise existencial. Depois de tanto sucesso parece que ele, desta vez, se defronta com um grande vazio e tenta fugir para o passado, para os escritores idealizados por ele, como saída de uma realidade sufocante. E ele nos leva junto nesta viagem e não há quem não viva com ele esta sua experiência fantástica, nos apresentando aquela Paris maravilhosa do século passado, cheia de charme, cultura, elegância e tudo o que está falatndo na nossa atualidade. Mas, ao final, ele nos diz a sua conclusão: a felicidade está no presente. E isso é reconfortante, nos ajuda a buscar no aqui e agora a solução de nossos problemas e não ficarmos melancolicamente paralizados pelo passado.
ResponderExcluirSonia