Quando a world wide web se popularizou nos anos 90, os mais entusiasmados previam o pronto fim dos quadrinhos impressos acreditando na sua migração para a internet.
Como tudo referente a Internet, esse entusiasmo arrefeceu em pouco tempo. As pessoas perceberam que a web era uma importante e poderosa ferramenta de comunicação que democratizou a distribuição, mas que não necessariamente acabaria com os impressos. A televisão nunca matou o cinema, por exemplo.
Nessa explosão da Internet, os autores de quadrinhos independentes se aproveitaram para divulgar seus trabalhos. As primeiras aparições dos quadrinhos em computadores eram simples escaneamentos em formato de imagem para os leitores verem na tela o trabalho antes feito no papel.
Entretanto, existiam online recursos muito mais interessantes para os quadrinhos do que no papel. Ao instalar um plugin do Macromedia Flash os internautas poderiam ver mini-animações toscas em seus browsers, com recursos multimídia como som e movimentos. Autores competentes poderiam, então, se aproveitarem desses poderosos recursos para gerar uma nova onda de expressão quadrinhística. E, a princípio, foi o que aconteceu.
Enquanto no Brasil víamos a surgimentos dos Combo Rangers pelo quadrinhista Fábio Yabu, que apresentava quadrinhos em Flash com recursos sonoros, mini-animações e diagramações de quadros eficientes para a Internet, nos EUA, o criador da Marvel, Stan Lee, explorava esse tipo de funções numa nova leva de heróis em sua recém-criada Stan Lee Media.
A própria Marvel experimentava os recursos digitais, criando o seu Universo Ultimate diretamente na Internet. Eram períodos de vento em popa para as HQs na web.
Mas, como a bolha especulativa das empresas digitais explodiu, os quadrinhos na Internet também saíram dos holofotes. Na mesma velocidade em que surgiu, a Stan Lee Media fechou as portas. Os Combo Rangers ganharam revista própria, que foi cancelada, e suas cópias sumiram também rapidamente. Já o Universo Ultimate abandonou os computadores para se tornar um dos maiores êxitos impressos da Marvel nos últimos anos.
Só que nem tudo era ruim para o cenário das HQs na Internet. As ferramentas ainda estavam lá, os leitores ainda tinham seus computadores e começava a surgir a banda larga, ou seja, dados muito maiores poderiam ser transferidos com maior velocidade.
Nesse momento, autores criaram os seus blogs e fotologs, divulgando suas ilustrações e tirinhas. Sites como o DevianArt e o ComicsSpace nasceram com a proposta de reunir autores, editores e leitores em torno da produção de quadrinhos digitais.
Paralelamente a isso, uma prática pouco ética tomou os servidores p2p. Como filmes e músicas, leitores passaram a escanear suas HQs preferidas e compartilharem com seus amigos, sem nenhum tipo de remuneração para os artistas. Apesar de questionáveis, tais circunstâncias denotavam uma coisa: há uma geração de leitores que prefere ler na Internet que no impresso, seja pelo preço, sela peça preferência pura e simples.
Visto isso, produtos voltados diretamente para a Internet são cada vez mais comuns. Um exemplo disso é a recente produção do autor de Planetary, Warren Ellis. Sua HQ freakangels é publicada diretamente na Internet. Outro exemplo de quadrinhos publicados na Internet, mais como divulgação da série e parte de seu universo, são os quadrinhos do seriado Heroes.
Atualmente, no Brasil, é importante observar os ótimos blogs de autores, sobretudo cartunistas, que publicam suas tiras diariamente. André Dahmer é um ótimo exemplo, em seu site Malvados o autor publica diariamente tirinhas de humor ácido que já foram compiladas em dois livros, O Livro Negro de André Dahmer e, o mais recente, Malvados, ambos pela Desiderata.
Outros exemplos de autores que tem trabalho relevantes na Internet são Allan Sieber, Arnaldo Branco, Raphael Salimena, Leonardo Pascoal, o argentino Liniers, entre outros.
Mesmo as grandes editoras de quadrinhos usam a Internet para divulgar previews de seus trabalhos ou venderem serviços de assinatura, demonstrando que, apesar dos altos e baixos, a Internet é um forte canal onde os quadrinhos se reproduzem e evoluem.
por Guilherme Kroll Domingues
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