sábado, 23 de fevereiro de 2013

Uma História de Amor e Fúria


Uma História de Amor e Fúria

Direção: Luiz Bolognesi
Roteiro: Luiz Bolognesi
Direção de Arte: Anna Caiado
Elenco (vozes): Selton Mello, Camila Pitanga, Rodrigo Santoro, Bemvindo Sequeira, Marcos Cesana e Sérgio Moreno

Sinopse: Um Guerreiro Tupinambá, em reencarnações sucessivas, luta para salvar seu povo e reencontrar seu amor, a índia Janaína, em quatro momentos, numa batalha contra os portugueses; no século XIX, durante a balaiada; nos anos 60 e 70, na ditadura militar e em 2096, numa rebelião futura contra o controle da água doce no Rio de Janeiro.

Luiz Bolognesi concebe esta história a partir da visão mitológica indígena. Assim, a reencarnação do guerreiro se dá através de uma dádiva, presente de um dos seus deuses. Assim, ele se transforma em um pássaro uirapuru a cada morte ou momento de grande perigo e o encantamento é quebrado assim que Janaína ouve seu canto. O vilão é uma entidade mistica chamada Anhangá, um demônio de contornos cosmológicos, que se alimenta da morte e destruição, mas não mostra a sua face, preferindo usar como intermediários alguns humanos. Podemos apenas reconhecê-lo pelo rastro de destruição que deixa.
Outro ponto de vista que é levado em conta é o dos derrotados, uma visão normalmente excluída da história oficial (contada do ponto de vista dos ganhadores).
Declarações do Diretor para a Revista do Cinema Brasileiro
Assim, no primeiro episódio, tomamos contato com a estratégia dos portugueses, qua acabou por dizimar os Tupinambás. O diretor não idealiza o indígena, pois mostra também que eles tem suas brigas internas pelo poder e não esconde nem minimiza o canibalismo dos Tupinambás. Neste episódio, aparece a primeira frase que pode definir o filme: “Viver sem conhecer o passado é andar no escuro”.

No segundo, temos uma visão diferente do Duque de Caxias, responsável pela organização do exercito brasileiro, mas que tem justamente sua primeira ação durante a balaiada. E ela é contra o povo brasileiro e não uma resposta a uma ameça externa. Aliás este é o episódio mais emblemático dos quatro contados, já que a balaiada, além de fazer surgir o exército, fez surgir seu contraponto, o cangaço, segundo a visão de alguns historiadores, compartilhada por Luiz Bolognesi.

No terceiro, coloca a ditadura militar contrapondo com o idealismo dos guerrilheiros e a posterior formação do Comando Vermelho, a partir do contato de marginais com os presos políticos. Aqui aparece a segunda frase: “Meus heróis não viraram estátua, morreram combatendo os que viraram”.

No quarto e último episódio são colocadas em foco algumas tendências para um futuro distópico: milícias paramilitares particulares legalizadas, valorização da água como recurso e a sua escassez gerada justamente pela sua super-exploração e controle por parte de uma elite. E, consequentemente, uma resistência. E aqui, a terceira frase que define o filme: “Mesmo sem perceber todo dia a gente está lutando por alguma coisa”.

A animação está muito boa, mostrando esmero com qual a produção foi cuidada e o talento e habilidade dos seus criadores e executores. Nela percebe-se claramente algumas influências (que Luiz Bolognesi mesmo aponta): quadrinhos europeus, produções americanas (Disney, por exemplo) e estrutura de animês (o uso de pouca movimentação sem perder a dramaticidade da cena).
Trailer
Percebe-se também uma variação principalmente no colorido e traços no ambiente da narrativa, como se cada uma das quatro histórias representasse uma fase diferente do herói, dando a impressão que ele evolui ao longo de seus 600 anos.
Em suma, uma excelente animação, com uma excelente história, que nos faz, principalmente pensar em nossa própria história (a nacional e a pessoal).
Qual é a sua luta?

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