segunda-feira, 11 de março de 2013

Livraria Limítrofe – O Adeus


Livraria Limítrofe – O Adeus
Autor: Alfer Medeiros
Editora Estronho / Selo Fantas
2ª Edição / 2012
206 páginas


Sinopse: Uma pessoa está sendo admitida num emprego e, ao invés de ser entrevistada, é ela que entrevista, para saber se aceita ou não o trabalho. O livro seria um registro destas entrevistas. O emprego? Ser o livreiro da Livraria Limítrofe, já que o livreiro anterior está se aposentando (daí o epíteto: O Adeus). A razão das entrevistas: o caráter inusitado da livraria.

O primeiro ponto inusitado é que não é o leitor que vai à livraria, é a livraria que vai até o leitor. Não qualquer leitor (pode ser até um não leitor), mas alguém que precisa passar por uma experiência relativa à leitura. E as entrevistas se centram nas pessoas que passaram por esta experiência.

O segundo ponto inusitado é que tudo que o que acontece na livraria é fruto da imaginação de quem entra, desde a aparência inicial (pode ser um livraria cheia da de volumes luxuosos, ou uma barraquinha minúscula), o que acontece lá dentro, as alterações na aparência da livraria decorrentes disto, até o tempo relativo que a pessoa passa entre as paredes (nem sempre são paredes) da livraria.

Por fim a última inversão: ao término da experiência o leitor ganha um livro que guarda uma relação com o que vivenciou e não tem que pagar por isso (porque, segundo o livreiro, ele já pagou, dando uma dose de sua imaginação para manter a livraria).

Alfer Medeiros mostra uma boa habilidade em lidar com o material que comporá o seu romance (não sei se poderíamos chamar assim, já que, no meu ponto de vista, é uma coletânea de contos amarradas por um fio condutor), dada a diversidade de personagens que passarão pela Livraria Limítrofe.

Em primeiro lugar, pessoas diferentes, falam de jeitos diferentes. E todos os capítulos são feitos em primeira pessoa. Adolescentes, jovens, pessoas maduras e velhos, homens e mulheres, pessoas ignorantes e cultas têm não só vocabulário, como jeitos de falar próprios. E Alfer consegue caracterizar isso sem exagerar ou cair na caricatura.

Uma segunda característica é a relação que cada um tem com o livro. Pessoas com pouca afinidade à leitura verão a livraria como pequena e pobre, quem gosta de Ficção Científica a verá como um cenário de Star Trek, quem gosta de quadrinhos encontrará seus heróis ou estará vestindo um de seus uniformes.

A maioria dos visitantes da Livraria Limítrofe leva lembranças boas de lá, mesmo que a experiência não tenha sido agradável, como o executivo que encontra com personagens de livros de autoajuda. Mas alguns leitores não sabem apreciar o que recebem, como a adolescente que não desfrutou plenamente a experiência por tentar comunicar o que estava acontecendo com suas amigas via redes sociais, ou o gamer que sonhou tomar o poder das mãos do livreiro e a mulher ignorante que entrou livraria “por engano” e recusou o livro que recebeu.

Passam pela livraria uma mãe, que se vê encantada com a sua própria capacidade de imaginar e de encantar sua filha; um leitor de quadrinhos; dois amigos com relações diferentes com a leitura; um executivo carreirista; uma adolescente hiperativa; uma mulher em estado terminal; um gamer mal-educado; um editor com medo da tecnologia do livro digital; uma escritora com problemas de encontrar um gênero de acordo com seu talento; uma mulher ignorante que achou a livraria era parte de algum programa de TV com pegadinha; uma mulher em conflito com a Morte; o jovem metaleiro apaixonado por literatura de ficção científica do século XIX; um admirador de histórias de horror que encontra seus autores prediletos; um vampirólogo e, por fim, o autor-personagem.

Cada leitor trará para dentro da livraria sua bagagem cultural e as citações são bem feitas. Alfer não nos conta o nome do escritor ou personagem envolvido na construção do cenário e trama da vivência do “cliente”, mas dá pistas suficientes para que quem tem algum conhecimento do pano de fundo logo identifique de quem se está falando, trazendo um prazer a mais para quem gosta de ler coisas muito variadas.

Por fim alguns, easter eggs, não presentes na primeira edição:

O primeiro é um conto que tem por personagem Adriano Siqueira, o vampirólogo de plantão da Literatura Fantástica, onde ele quase é, literalmente, vítima de sua própria imaginação. Uma homenagem bem feita e com muito bom humor.

O segundo é uma entrevista extra: sobre justamente a feitura do próprio livro onde o autor-personagem também é último dos entrevistados.

E o último é o manual do livreiro limítrofe, onde os objetos mágicos usados pelo livreiro são descritos. Bastante interessante para alinhavar alguns pontos que podem ter ficado soltos ao longo da leitura.

O livro é classificado como juvenil. Como todo livro deste gênero, para ser bom tem que ser agradável também para um adulto. E Livraria Limítrofe de fato é.

Nerd Shop: Livraria Limítrofe. Editora Estronho. Livraria Cultura.

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