Livraria
Limítrofe – O Adeus
Autor:
Alfer Medeiros
Editora
Estronho / Selo Fantas
2ª
Edição / 2012
206
páginas
Sinopse:
Uma pessoa está sendo admitida num emprego e, ao invés de ser
entrevistada, é ela que entrevista, para saber se aceita ou não o
trabalho. O livro seria um registro destas entrevistas. O emprego? Ser o livreiro da
Livraria
Limítrofe, já que o livreiro anterior está se
aposentando (daí o epíteto: O Adeus). A razão das
entrevistas: o caráter inusitado da livraria.
O
primeiro ponto inusitado é que não é o leitor que vai à livraria,
é a livraria que vai até o leitor. Não qualquer leitor (pode ser
até um não leitor), mas alguém que precisa passar por uma
experiência relativa à leitura. E as entrevistas se centram nas
pessoas que passaram por esta experiência.
O
segundo ponto inusitado é que tudo que o que acontece na livraria é
fruto da imaginação de quem entra, desde a aparência inicial (pode
ser um livraria cheia da de volumes luxuosos, ou uma barraquinha
minúscula), o que acontece lá dentro, as alterações na aparência
da livraria decorrentes disto, até o tempo relativo que a pessoa passa
entre as paredes (nem sempre são paredes) da livraria.
Por
fim a última inversão: ao término da experiência o leitor ganha
um livro que guarda uma relação com o que vivenciou e não tem que
pagar por isso (porque, segundo o livreiro, ele já pagou, dando uma
dose de sua imaginação para manter a livraria).
Alfer
Medeiros mostra uma boa habilidade em lidar com o material que
comporá o seu romance (não sei se poderíamos chamar assim, já
que, no meu ponto de vista, é uma coletânea de contos amarradas por
um fio condutor), dada a diversidade de personagens que passarão
pela Livraria
Limítrofe.
Em
primeiro lugar, pessoas diferentes, falam de jeitos diferentes. E
todos os capítulos são feitos em primeira pessoa. Adolescentes,
jovens, pessoas maduras e velhos, homens e mulheres, pessoas
ignorantes e cultas têm não só vocabulário, como jeitos de falar
próprios. E Alfer consegue caracterizar isso sem exagerar ou cair na
caricatura.
Uma
segunda característica é a relação que cada um tem com o livro.
Pessoas com pouca afinidade à leitura verão a livraria como pequena
e pobre, quem gosta de Ficção Científica a verá como um cenário
de Star Trek, quem gosta de quadrinhos encontrará seus heróis ou
estará vestindo um de seus uniformes.
A
maioria dos visitantes da Livraria
Limítrofe leva lembranças boas de lá, mesmo que a
experiência não tenha sido agradável, como o executivo que encontra
com personagens de livros de autoajuda. Mas alguns leitores não
sabem apreciar o que recebem, como a adolescente que não desfrutou
plenamente a experiência por tentar comunicar o que estava
acontecendo com suas amigas via redes sociais, ou o gamer que sonhou
tomar o poder das mãos do livreiro e a mulher ignorante que entrou
livraria “por engano” e recusou o livro que recebeu.
Passam
pela livraria uma mãe, que se vê encantada com a sua própria
capacidade de imaginar e de encantar sua filha; um leitor de
quadrinhos; dois amigos com relações diferentes com a leitura; um
executivo carreirista; uma adolescente hiperativa; uma mulher em
estado terminal; um gamer mal-educado; um editor com medo da
tecnologia do livro digital; uma escritora com problemas de encontrar
um gênero de acordo com seu talento; uma mulher ignorante que achou
a livraria era parte de algum programa de TV com pegadinha; uma
mulher em conflito com a Morte; o jovem metaleiro apaixonado por
literatura de ficção científica do século XIX; um admirador de
histórias de horror que encontra seus autores prediletos; um
vampirólogo e, por fim, o autor-personagem.
Cada
leitor trará para dentro da livraria sua bagagem cultural e as
citações são bem feitas. Alfer não nos conta o nome do escritor
ou personagem envolvido na construção do cenário e trama da
vivência do “cliente”, mas dá pistas suficientes para que quem
tem algum conhecimento do pano de fundo logo identifique de quem se
está falando, trazendo um prazer a mais para quem gosta de ler
coisas muito variadas.
Por
fim alguns, easter eggs, não presentes na primeira edição:
O
primeiro é um conto que tem por personagem Adriano Siqueira, o
vampirólogo de plantão da Literatura Fantástica, onde ele quase é,
literalmente, vítima de sua própria imaginação. Uma homenagem
bem feita e com muito bom humor.
O
segundo é uma entrevista extra: sobre justamente a feitura do
próprio livro onde o autor-personagem também é último dos
entrevistados.
E o
último é o manual do livreiro limítrofe, onde os objetos mágicos
usados pelo livreiro são descritos. Bastante interessante para
alinhavar alguns pontos que podem ter ficado soltos ao longo da
leitura.
O
livro é classificado como juvenil. Como todo livro deste gênero,
para ser bom tem que ser agradável também para um adulto. E
Livraria
Limítrofe de fato é.
Nerd
Shop: Livraria
Limítrofe. Editora Estronho. Livraria
Cultura.
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