sábado, 18 de agosto de 2012

Fantasias Urbanas


Fantasias Urbanas
Autores: Eric Novello (org), Antonio Luiz M. C. Costa, José Roberto Vieira, Tiago Toy, Carlos Orsi, Douglas MCT, Rafael Lima, Ana Cristina Rodrigues, Erick Santos Cardoso, Rober Pinheiro.
Edirora: Draco
220 páginas

Sinopse: Fantasia Urbana é um gênero da Literatura Fantástica, onde o elemento essencial para caracterizá-lo é a presença do fantástico em uma cidade. Os contos podem ser de Fantasia, Horror, Terror, Ficção Científica ou Policial (deste que tenha a presença do fantástico). O gênero nasceu da narrativa policial, onde o resultado da investigação levava a algo sobrenatural, como o criminoso ser um demônio, por exemplo, ou ocorria em uma ambientação sobrenatural. Aos poucos o gênero foi se livrando das amarras estilísticas e ampliando sua abrangência.

O organizador se preocupou em colocar autores que pudessem abranger algumas das facetas deste gênero.

Agora pode ser contado – Antonio Luiz M. C. Costa

O conto transcorre no universo do romance do autor, Crônicas de Atlântida, o Tabuleiro dos Deuses e é narrado em primeira pessoa, como se fosse um discurso no aniversário da revolução Comuna de Atlantis, um dos eventos do romance.

Como o autor precisa prender a atenção da plateia, usa muitos recursos próprio de discursos, como pontuar alguns trechos com humor ou apelar para os sentimentos do público, causando surpresa, fazendo ressurgir sentimentos negativos a governantes e membros da antiga elite, e atraindo a compaixão do público para os oprimidos, em especial para a escrava que o narrador libertou, objeto da narrativa.

O conto é bastante simples e sabemos o que vai acontecer, mas o lemos com prazer, principalmente pelo estilo da narrativa. Um pequeno ponto negativo é justamente resultado deste ponto positivo. Como supostamente o conto é o levantamento taquigráfico de uma palestra, vez por outra aparece entre parênteses as reações da plateia: (risos), (aplausos). A sensação que se tem é mesma de estar vendo um programa humorístico com uma claque mal ensaiada. Todos estes comentários poderiam ser simplesmente suprimidos sem prejuízo ou até com melhora na fluência do texto.

O Monge – José Roberto Viera

O conto faz parte do universo do Baronato de Shoah. Um Samurai vai ser submetido a um julgamento com cartas marcadas e sua advogada, apesar de perceber a farsa fará de tudo para defendê-lo. O crime do Samurai? Ter matado dois batalhões inteiros do exercito de elite. O agravante? Ser ele estrangeiro. O que está em jogo são diferentes códigos de ética e o enredo procura mostrar principalmente o ponto de vista do Samurai.

Diferente o primeiro, onde a narrativa é quase linear e bem tranquila, aqui as coisa acontecem rápidas e de forma espetacular, beirando ao exagero, sobretudo nas cenas finais onde, sem conotação aparente com o enredo, surgem monstros (mecânicos?), apenas para salientar a capacidade de luta do Samurai e seus princípios pessoais.

O conto vale pelos dois personagens, a advogada e o Samurai.

Heroína – Tiago Toy

Um casal amantes em diferentes pontos da cidade, decidem se ver apesar do apocalipse zumbi em andamento. Reverem-se valerá o risco de sair às ruas? O conto desenvolve-se bem e foge bastante das narrativas de zumbis tradicionais. O foco da narrativa varia ora no rapaz ora na moça, com um uso bem sacado do discurso indireto livre. O conto consegue um bom clima de suspense desde as primeiras frases. Muito bom!

Antropomaquia – Carlos Orsi

Num mundo onde os mortos vivos dominam e estão organizados numa sociedade, um grupo de humanos procura criar uma resistência. Um humano, disfarçado, se infiltra no universo dos mortos vivos, que lembra bastante o submundo do crime de filmes noir. No meu ponto de vista este o melhor conto da coletânea e um prato cheio para quem gosta do horror mais cru. Além disso, o enredo cumpre magistralmente a proposta da coletânea, pois o ambiente é parte integrante do processo narrativo – quase um personagem – e poderia ser o cenário de muitas outras histórias.

Onde Termina o Inferno – Douglas MCT

O autor aqui presta uma homenagem ao clássico do cinema Bravura Indômita, recém refilmado pelos irmãos Cohen. Uma menina, Kesha, contrata um pistoleiro, Klint, para reaver os bens roubados por um bandido com o prosaico nome de Crocodilo.

Kesha é diretamente inspirada em Mattie Ross, e Klint em “Rooster" Cogburn, de Bravura Indômita. A diferença é que o destino final será o próprio inferno. A originalidade do texto fica por conta dos tipos fantásticos bizarros que são encontrados pelo caminho e algumas situações que nos causam surpresas.

A Cidade Perdida – Rafael Lima

Um forasteiro é feito prisioneiro em uma cidade e é libertado por uma jovem, que propõe um acordo que envolve um tesouro. Apesar da desconfiança, ele aceita (contar mais que isto é dar spoiler). Uma boa história com reviravoltas bem construídas.

O Rei Máquina – Ana Cristina Rodrigues

Um ser alado está condenado na Cidade Sem Nome a espera de uma possível segunda chance. Ele servira um rei a quem traíra por não estar em seu posto no momento de uma invasão. Após muitos anos esta oportunidade surge. Ele deve salvar o Rei Máquina e depois servi-lo.

Um conto quase poético, amenizando a crueza de alguns textos. O tema da redenção é muito bem desenvolvido. Há que se destacar também uma critica bastante sutil e bem inserida na história à burocracia de órgãos públicos

Em nome das mães – Erik Santos Cardoso

Um inquisidor investiga um assassinato brutal de duas jovens. A crueldade do criminoso se contrapõe à crueldade oficial feita em nome das deusas. O autor coloca tudo sob o ponto de vista do inquisidor que vê sua violência tal qual Torquemada: uma forma de purificação. Um bom conto, com sabor de policial e com um bom questionamento sobre o papel da violência do Estado e da Religião, sem ser panfletário.

A alma boa – Rober Pinheiro

Um rapaz é sobrevivente de massacre e é confinado em uma prisão. Desconhece o motivo de ser poupado e por que deve permanecer preso. Após alguns dias, começa a receber regularmente a visita de uma mulher madura que o trata com humanidade. Em breve descobriria o motivo de ter sido poupado e seu provável destino.

A linguagem leve e fluída, com ares de poesia contrasta com o clima de sofrimento presente na maioria das cenas. Um bom conto com desfecho surpreendente.

Conclusão

De um modo geral a coletânea cumpre seu papel de trazer as várias nuances da fantasia urbana, dando um bom panorama do gênero. Um bom livro para quem quer conhecer este tipo de narrativa ou para quem simplesmente quer tirar prazer da leitura.

3 comentários:

  1. Eu adorei a definição que você deu para o gênero fantasia urbana, será que eu poderia pegar com todo os créditos para um post que estou preparando???

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada por disponibilizar! Fico muito feliz! Como disse no pedido darei com certeza seu crédito, nem por um momento passou por minha cabeça usar seu texto sem te dar os devidos créditos, citando seu blog e linkando para esse post, não fazer isso e cometer crime de plagio.

      Obrigada uma vez mais!

      Excluir