Reino das Névoas – contos de fadas para adultos
Autor: Camila Fernandes
Ilustrações e capa: Mila F (Camila
Fernandes)
Editora: Tarja
Ano: 2011
168 páginas
Sinopse: O livro reúne contos de fadas, recriados ou
criados procurando resgatar a forma como
este tipo de narrativa era feito no passado.
O conceito de infância que temos hoje só surgiu após o estabelecimento
da filosofia racionalista do século XVIII, tendo como marco a publicação de O
Emílio, de Rosseau. Antes as crianças só se diferenciavam dos adultos pelo
tamanho e habilidades. As narrativas, sobretudo de tradição oral, não tinham
contornos para evitar ou atenuar passagens mais cruentas e cruéis ou que envolvessem
sexualidade. Os Irmãos Grimm, que compilaram a maioria dos contos que
conhecemos hoje fizeram o primeiro filtro, já dentro da visão de que existe uma
infância a ser preservada e já influenciados pela ética protestante. Mesmo
assim, alguns contos sofreram ainda mais uma censura deles mesmos na segunda
edição. Ao longo do tempo mais e mais atenuações foram introduzidas.
Há ainda outros fatores históricos que mudaram a teor da narrativa. Por
exemplo, na Idade Média, o perigo de um ataque de um lobo era real e palpável.
Então o chapeuzinho vermelho devia temer mesmo um lobo, sem nenhuma metáfora.
Com o passar do tempo, o perigo é um adulto manipulador, que pode ser
representado por um lobo.
Contudo o livro não se propõe a um resgate histórico, nem criticar a forma
como os contos são contados hoje para as crianças, mas apenas de trazer de
volta alguns elementos ausentes para criar uma atmosfera fantástica que abranja
alguns fatores importantes do universo adulto.
Ao pegar o livro, primeira coisa que se nota é que houve um cuidado na
edição de emular um livro de contos de fadas de criança, desde a capa, passando
pelas ilustrações internas, o papel, a tipologia dos títulos e do texto e uso
de capitulares.
O texto também guarda similaridade com o dos Irmãos Grimm, mas de uma
forma mais fluída e poética, mesmo nas passagens onde há crueldade explícita, e
evitando sempre que possível o uso de lugares comuns (inclusive o “Era uma vez...”
e o “...viveram felizes para sempre”), o maniqueísmo clássico e o final
fechado.
O Chifre Negro
Uma princesa necessita pegar um chifre de unicórnio para salvar o pai.
Essa busca a leva a uma série de situações perigosas, cruéis e amargas que a
marcam de forma indelével e a levam ao amadurecimento como pessoa. Angustiante.
O Lenhador e a Sombra
Esta talvez seja a mais poética das histórias. Um lenhador solitário
encontra uma companhia na floresta. A questão do desapego norteia a condução do
conto. Belíssimo.
A Outra Margem do Rio
Duas cidades separadas por um rio e pelo preconceito. Um pai e leva o
filho para um casamento com uma noiva do outro lado. Acontecimentos trágicos marcam
esta travessia. A questão do que é realmente importante dá o tom.
A Torre onde ela dorme
Uma princesa tem muitas habilidades e só aceita casar-se com um homem
que a vença. Por inveja de seus pretendentes é condenada a dormir um sono
eterno, até que seja vencida por um homem. Esta é uma versão da história da
bela adormecida, com um príncipe nem um pouco nobre. Surpreendente.
A Filha do Fidalgo
Uma jovem fantasia que um sapo que encontra em seu quarto, se beijado
se tornaria um príncipe. Será?
A Espera
Uma metáfora para a busca da felicidade a partir de esperanças vãs, que
na realidade impedem de ver que ela está ao alcance de sua mão.
Reino de Névoas
Uma Branca de Neve não tão pura e não tão indefesa. O conto mais longo
e também o mais movimentado. O melhor da coletânea.
O resultado geral é muito bom, atingindo plenamente os objetivos da
autora.
Gostei da idéia do livro e da resenha bastante informativa. Pretendo adquirir o livro.
ResponderExcluirMuito obrigada por essa resenha tão culta, Álvaro. :-)
ResponderExcluirÓtima resenha!
ResponderExcluirquem dera se eu estivesse lido antes de ir para a livraria... agora já gastei meu dinheiro rsrsrs...
ResponderExcluirParece ser muito bom pretendo comprar = )