sexta-feira, 20 de maio de 2011

Amor Sem Limites – O futuro sem pudor

Amor sem Limites – As vidas de Lazarus Long
Autor: Roberte Heinlein
Título Original: Time Enough for Love: The Lives of Lazarus Long
Tradução: Marina Leão Teixeira Viriáto de Medeiros
Editora: Círculo do Livro
Ano: 1988 (provável)
Ano da primeira publicação em inglês: 1973.
684 págians


Sinopse: Lazarus Long, nascido em 1912, após cerca de 2300 anos, decide morrer. Porém seus descendentes, que formam a Fundação Howard, não querem que ele morra e tentam convencê-lo a ficar vivo, buscando algo que o motive. O livro concentra-se na descrição de suas memórias ao longo dos séculos.


O livro é parte de um ambicioso projeto de Heinlein, a série História do Futuro, composta pelos seguintes volumes: Os filhos de Matusalém (Methuselah's Children, 1941); O homem que vendeu a Lua (The Man Who Sold The Moon, 1950); Revolta em 2100 (Revolt in 2100, 1953); Amor sem limites: As Vidas de Lazarus Long(Time Enough for Love: The Lives of Lazarus Long, 1973).  

Posteriormente ele fez algumas continuações: As anotações de Lazarus Long - (The Notebooks of Lazarus Long - 1978); O número da Besta (The Number of the Beast - 1980); O gato que anda através dos Muros (The Cat Who Walks Through Walls (1985); Navegar além do pôr do sol (The Sail Beyod de Sunset) (1987).


Apesar de ser um livro que faz parte de uma série, ele é auto contido, podendo ser lido de forma independente. Referencias ao passado da série são explicadas e contextualizadas adequadamente.


Heinlein, neste romance, tem um objetivo claro: discutir a sexualidade, quebrando tabus, em especial o tabu do incesto. Segundo o autor, a única razão racional para o relacionamento entre parentes não ocorrer é biológica. E, por isso, a biologia genética ganha extrema relevância no decorrer do romance. Há trechos que parecem uma aula de biologia.


A possibilidade de ocorrer um relacionamento entre parentes consanguíneos é alta na família Howard, já que muitos têm idades medidas em séculos, e tiveram que mudar de nome várias vezes para ocultar para a sociedade dos “efêmeros” a sua existência. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da genética, o mapeamento dos genes poderia eliminar a possibilidade de um problema futuro, mesmo nos relacionamentos endogâmicos. Estes relacionamentos passaram a ser estimulados, para manter o gene da longevidade dos Howards nas gerações futuras.


A discussão passa por várias formas de relacionamento, envolvendo o casamento monogâmico tradicional, uma ligeira insinuação de homossexualismo e casamentos múltiplos.


A clonagem e processos complexos de rejuvenescimento (não adianta ter 200 anos e aparência de 200 anos!) também são discutidos em detalhes.


A narrativa após os primeiros capítulos é centrada na "contação de histórias" de Lazarus, que entra em acordo como seu descendente direto, Ira Howard: ele desistirá de morrer e se submeterá ao rejuvenescimento se encontrar algo que o motive a viver. Ele pede mil dias para decidir e, enquanto isso, como Sherazade, contará passagens de sua vida que não constam em suas memórias ou estão ambíguas. Ele faz isso narrando sua vida a uma computadora chamada Minerva, que tem um sonho de se tornar humana e experimentar a vida sexual.


Isso garante uma série de histórias em varias épocas, começando pela vida de um fuzileiro que era preguiçoso demais e por isso não podia fracassar (ele sempre achava que o nível hierárquico superior trabalhava menos que o anterior).


As histórias são narradas com um humor cínico. Vale destaque para a história dos irmãos gêmeos que não eram parentes (gerados por uma experiência genética) e pela longa história do relacionamento amoroso entre Lazarus e Dora (sua filha adotiva), enquanto pioneiros num planeta hostil. Esta história parece muito com um western, onde a única coisa que nos lembra tratar-se de FC são mulas falantes.


Um ponto negativo destas narrativas são o jeito verborrágico com que são narradas (típicos de um velho saudosista). O próprio autor nos aponta para isso, colocando entre parênteses frases do tipo “5000 palavras omitidas” em determinados pontos da história. Uma leitura dinâmica em alguns pontos contorna este inconveniente.


Atenção: spoiler!


Para motivar Lazarus, Ira e Minerva tentam encontrar algo que ele nunca fez antes. A proposta vencedora foi a viagem no tempo. Aqui vem a parte mais importante do livro, onde Heinlein coloca um Lazarus com a vivencia de 2300 anos e passagens por diversas culturas em contato com a Terra, numa típica cidade americana conservadora, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Ali ele entra em contato com sua família (inclusive ele mesmo, com cinco anos de idade) e se apaixona por sua mãe (e sua mãe por ele), levando às últimas consequencias a quebra do tabu do incesto.


Amor sem Limites e De volta para o Futuro


Há dois pontos fundamentais que aproximam estes dois clássicos. O primeiro é a paixão da mãe pelo viajante do tempo (que ela ignora ser seu filho).


O outro é forma de comunicação de Lazarus com sua família na época futura são cartas que ele manda para Fundação Howard para serem entregue em determinada data e ficam retidas na “correspondência atrasada”. Isso não lhe lembra nada?


Há também frases do Dr Emmett Brown (Christopher Lloyd)  que lembram colocações de Lazarus. Aliás, Christopher Lloyd daria um bom Lazarus.


Plágio? Heinlein ainda era vivo (ele morreu em 1988) quando foi lançado o primeiro De Volta para o Futuro (1985) e, aparentemente, não se incomodou.


Conclusão


Este livro é considerado por muitos a melhor obra de Heinlein, pelo alcance de suas colocações sociológicas e psicológicas que ainda são contestadoras, quase 40 anos depois. Vale a pena lê-lo por tudo que ele representa, mesmo por quem não é fã de FC ou de Heinlein.


Quanto às passagens aborrecidas, quer as verborrágicas, como as longas explicações biológicas, contorne-as, pulando trechos. Há parágrafos e até páginas inteiras que podem ser pulados se você não quer uma aula de biologia genética ou ouvir conversa de velho.





Trailler: De volta para o Futuro.
Qualquer semelhança seria mera coincidência?

2 comentários:

  1. Agradeço a Carlos Angelo que me alertou sobre as continuações posteriores aa Amor sem limites.

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  2. Excelente resenha e apresentação do livro.
    sonia

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