A Pele em que Habito
Título Original: La Piel que Habito
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar,
baseado em livro de Thierry Jonquet
Elenco: Antonio Banderas,
Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet.
Duração: 117 min
Ano de Lançamento: 2011
(Espanha)
País de Produção: Espanha
Sinopse: Um médico, Richard
Ledgard (Antonio Banderas), traumatizado
pela morte da esposa queimada num incêndio, mantém em cárcere privado uma
paciente em que pouco a pouco busca transformar sua aparência na da esposa. Para
isso usa técnicas cirúrgicas e de construção de pele não éticas. Quem é esta
paciente e por que esta lá?
Contém um pequeno spoiler:
Uma das razões que me levou a resenhar este filme e do uso de elementos
da ficção científica por alguém consagrado que não é do ramo. A sinopse, ao lê-la pela primeira vez, me deu
a impressão de ser uma mistura de Frankstein com Pigmaleão. De fato,
encontram-se elementos das duas fábulas: um médico obcecado por um sonho que se
apaixona por sua criação.
A ficção científica entra apenas como um dos elementos da narrativa e
que poderia estar ausente, sem prejuízo da trama. E, mesmo assim, colocada de maneira muito canhestra. O
primeiro elemento de FC colocada na trama é a data: os fatos ocorrem em 2012.
Tem sentido situar uma narrativa tão próxima? Será que ele tencionava dizer que
acontece no filme poderia estar acontecendo logo? Totalmente dispensável.
O segundo elemento de FC está na pele sintética à prova de fogo que ele
coloca na paciente, feita partir de mutações transgênicas, uma combinação de células
humanas e de porco . É insinuado também que é à prova de cortes, o que
impediria a paciente de cometer suicídio cortando o pescoço ou os pulsos,
totalmente plausível, já que é uma prisioneira e sujeita a experiências macabras.
Todavia após o teatro (extremamente caricato) da feitura e colocação da
pele na paciente, o fato da pele dela ser ou não à prova de fogo não ganha
relevância, o que definitivamente afasta a obra de ser ficção científica.
Banderas é um cientista muito caricato.
Atenção: Um grande spoiler!
Uma outra razão que me levou a resenhar A Pele em que Habito é que Almodovar trata do problema da
identidade, tanto pessoal como sexual (ouço alguém dizendo “como sempre”) e
isso ele fez com maestria.
Vicente, sob efeito de drogas, estupra a filha do médico, que acaba se
suicidando. O rapaz torna-se vítima de uma vingança arquitetada pelo personagem interpretado
por Antonio Banderas: a identidade de Vicente é destruída e transformada em Vera. Da vingança, Richard Ledgard passa a obsessão em
reconstruir a esposa e da obsessão ao desejo pelo objeto criado. Isso mesmo, objeto. Ledgard ama a pele que
construiu.
Mas Vicente, ainda que externamente seja Vera, continua sendo Vicente.
O que justifica muito bem o título: para Vicente, Vera é apenas a pele em que
habita, não sua identidade.
Neste contexto, a pele sintética se justifica, visto que, se ela não é sensível
à dor, também não é sensível às carícias, isolando Vicente/Vera do mundo. Porém
acredito que poucos expectadores perceberam isso.
Vale destaque para o irmão de Richard, que aparece fantasiado de tigre.
Ele está fugindo da polícia aproveitando-se de um baile de carnaval. Ele é o
responsável indireto pela morte da esposa de Richard e será o catalisador do
desfecho da trama.
Um bom filme.
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